Francisco Teixeira é lembrado com emoção


26/07/2011


Em clima de muita emoção foi realizada na sede da ABI, nesta segunda-feira, 25 de julho, a cerimônia em homenagem ao centenário do Brigadeiro Francisco Teixeira, cuja trajetória de vida, mesmo como membro das Forças Armadas, é marcada pelo espírito democrático que condenou a ditadura que se instalou no País, com o golpe militar de 1964.
 
 
Ao ato compareceram centenas de antigos companheiros, familiares e admiradores do homenageado que lotaram o Auditório Oscar Guanabarino, localizado no 9º andar do edifício-sede da ABI, no Centro do Rio, para relembrar e exaltar a trajetória do Brigadeiro Francisco Teixeira na defesa dos interesses nacionais.
 
 
A mesa de honra do evento foi liderada pelo historiador Lincoln de Abreu Penna, Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon). Ao seu lado estavam o Presidente da ABI, Maurício Azêdo; o Brigadeiro Rui Moreira Lima, Presidente da Associação Democrática e Nacionalista dos Militares (Adnam); a economista Maria Augusta Tibiriçá, membro do Modecon; e a viúva do homenageado Iracema de Souza Teixeira, acompanhada dos filhos Aloísio Teixeira (ex-reitor da UFRJ), Raul Teixeira e Maria Lúcia Werneck,
 
 
Outros familiares de Francisco Teixeira também tiveram assento na mesa, como a neta Marina Teixeira Werneck Viana. Também ocuparam lugares destacados na cerimônia Pedro Carvalho, Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET); o representante do Clube de Engenharia, Paulo Metri; o Comandante Paulo Melo Passos; o Ex-Ministro Waldir Pires; e o advogado Marcelo Cerqueira.  
 
 
Na platéia estavam, além de alunos do Ciep Brigadeiro Francisco Teixeira (inaugurado em 1995), o professor Carlos Levy, atual reitor da UFRJ; a Secretária de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, Adriana Rattes; Anita Leocádia Benário Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes; Ana Rocha, Presidente do Comitê Estadual do PC do B; Eliete Ferrer da ONG Amigos de 68; representantes do Grupo Tortura Nunca Mais, entre outros.
 
 
No discurso de abertura, o Presidente da ABI destacou a importância do Brigadeiro Francisco Teixeira em momentos decisivos para o País:
— Como não sou tão jovem quanto desejaria eu fui testemunha da luta do Brigadeiro Francisco Teixeira e outros patriotas das Forças Armadas que, como ele, tentaram sustentar o Governo democrático do Presidente João Goulart. A nossa geração assistiu e ouviu inclusive depoimentos que mostravam não só o engajamento democrático do Brigadeiro Francisco Teixeira, mas como a sua coragem de enfrentar os monstros que tomavam o poder naquele triste dia 1º de abril de 1964, afirmou Maurício Azêdo.
 
 
Por causa do seu posicionamento como homem de espírito democrático e avesso a qualquer tipo de censura, o Brigadeiro Francisco Teixeira foi cassado pelo regime do golpe militar em 1964, quando era Comandante da 3ª Zona Aérea (atual 3º Comar), com sede no Rio de Janeiro. Antes ele ocupara o posto de Chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica.
 
 
Nacionalista, dirigiu a revista do Clube Militar na época da campanha “O petróleo é nosso”, à qual aderiu. Ele teve também uma atuação marcante no movimento contra a ida do Brasil à Guerra da Coréia (1950-1953).  
 
 
O atual Ministro de Estado da Defesa, Nelson Jobim, que não pode comparecer ao ato, enviou mensagem na qual elogia a atuação do Brigadeiro:
— O Brigadeiro Teixeira deixou para nós exemplos de firmeza de caráter e tolerância, atributos que tornaram possível a construção da sua sólida liderança militar e política. Felizmente para o Brasil os tempos são outros, afirmou o Ministro Jobim.
 
 
No texto Nelson Jobim ressalta que houve amadurecimento das instituições democráticas brasileiras, e que “as Forças Armadas não mais se envolvem na política, dedicando-se exclusivamente à defesa da nossa soberania e às ações humanitárias externas e internas”.
 
 
Segundo Jobim, essas conquistas “decorrem do esforço persistente de lideranças como a do Brigadeiro Teixeira. Lideranças que miram o futuro para construir o presente, deixando para trás as mágoas do passado”, declarou o Ministro.
 
 
O ato foi marcado também pela entrega do Diploma de “Defensor da Soberania Nacional” à Iracema de Souza Teixeira, viúva do Brigadeiro. A homenagem foi entregue a Dona Iracema pelas mãos de Maria Augusta Tibiriçá, por iniciativa do Presidente do Modecon, Lincoln de Abreu Penna.
 
 
 
Patriotismo
 
 
Na memória dos amigos e companheiros militares que conviveram com o Brigadeiro Teixeira, ele sempre foi um exemplo na luta pela defesa dos interesses nacionais, como na campanha do “Petróleo é nosso”, da qual foi um dos principais idealizadores, como lembra Maria Augusta Tibiriçá:
— Para mim, a maior página da História do Brasil e a maior e mais prolongada mobilização popular, em defesa do legítimo interesse nacional, que foi a campanha do “Petróleo é nosso”, não teria acontecido não fosse a posição firme e o impulso iluminado de Francisco Teixeira. A ele devemos toda essa grande página da História brasileira, porque foi o responsável pelo primeiro impulso, que se não tivesse sido dado talvez não tivesse acontecido, afirmou Maria Augusta.
 
 
O Brigadeiro Rui Moreira Lima também salientou a atuação de Francisco Teixeira em outros momentos decisivos da História do Brasil:
— Ele nunca deixou de atuar como cidadão, destacando-se na luta pela redemocratização do Brasil, em 1945, e a defesa das nossas instituições democráticas, a partir da promulgação da Constituição de 1946, que foi rasgada pelo golpe militar de 64, declarou.
 
 
Rui Moreira Lima falou também sobre a participação de Francisco Teixeira no movimento militar que garantiu a realização das eleições de 1955. As suas declarações foram reforçadas pelas do Comandante Paulo Melo Passos, outro amigo de longa data de Francisco Teixeira e de sua família, que narrou as dificuldades pelas quais a família do Brigadeiro passou após o golpe de 64:
— Foi um homem decisivo na criação da Petrobras e no retorno do País ao progresso até o golpe de 64. A casa do Teixeira foi queimada em 64, nós os amigos nos reunimos para comprar roupas, panelas, materiais de higiene corporal. Quando isso aconteceu, nós nos reunimos e fizemos uma campanha para manter os descendentes do Teixeira que sofreram muito.
 
 
Saudades
 
 
O ex-Ministro Waldir Pires recordou o lado humano de Teixeira como cidadão e oficial das Forças Armadas. O advogado Marcelo Cerqueira também falou sobre o legado de Francisco Teixeira ao País:
— Nós sabemos, nós pleiteamos, lembramos e honramos a sua vida, e enquanto tiver voando no céu do Brasil uma asa da FAB, enquanto houver um poço de petróleo, enquanto houver uma criança com esperança, uma mãe com afeto, um homem com caráter, estará presente o Brigadeiro Teixeira, disse Cerqueira.
 
 
Emocionado, o Comandante Paulo Melo Passos expressou sua admiração pelo Brigadeiro, e à sua força de caráter:
— Essa homenagem é justa, mas é pequena, merecia o Teixeira um monumento como patriota. Não pleiteou cargos, não pleiteou ser ministro, nunca foi para país nenhum, ele achava que o lugar dele era aqui. E assim foi a vida do Teixeira e eu acho que a Iracema e os filhos (às lágrimas) talvez não se emocionem como eu, mas sei que a admiração que eles têm pelo pai é igual ou maior que a minha, com justiça, declarou.
 
Marina Teixeira Werneck Viana, neta de Francisco Teixeira, leu a transcrição de uma entrevista dada pelo avô à jornalista Lúcia Hippolito. Em nome dos demais familiares, Raul Teixeira (filho) deu depoimento emocionado sobre o pai:
— Como todo menino, orgulhava-me de deleitar com as fardas e com as medalhas e os feitos do grande soldado Brigadeiro Teixeira. Herói de guerra, um dos fundadores do Ministério da Aeronáutica e personagem fundamental em momentos decisivos na História de nosso País. Mas logo percebi que por trás das fardas e medalhas havia muito mais. Refiro-me a uma permanente preocupação com as causas sociais, com a proteção dos desafortunados, e que mais precisavam ser defendidos, enfatizou Marina.
 
 
O final da homenagem foi marcado pelo agradecimento de Iracema aos amigos presentes no auditório da ABI, e pelo refrão do Hino da Independência, cantado de pé por todos.
 
 
Trajetória
 
 
Francisco Teixeira nasceu no Rio de Janeiro, em 1911. Ingressou em março de 1927 na Escola Naval do Rio de Janeiro, e foi declarado guarda-marinha em dezembro de 1930, e no mesmo mês foi promovido a segundo-tenente. Formou-se em 1933 como oficial-aviador naval e foi promovido a primeiro-tenente. 
 
 
Formou-se oficial combatente da Armada na antiga Escola Naval da Ilha das Enxadas, no Rio. Quando foi criada a Aviação Naval, transferiu-se para essa especialidade. Em 1935, participou da repressão ao levante comunista. Em 1944, alcançou o posto de tenente-coronel-aviador. A promoção a Brigadeiro ocorreu em 1957, pelas mãos do então Presidente da República, Juscelino Kubitscheck.
 
 
Durante o Governo Juscelino, foi Chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, ajudando a debelar as revoltas de Jacareacanga (1956) e de Aragarças (1959). Com a posse de João Goulart, foi nomeado Subchefe do Estado Maior das Forças Armadas.
 
 
No dia 31 de março de 1964, quando começou o movimento militar que deporia o Governo Jango, o Brigadeiro comandava a estratégica 3.ª Zona Aérea, com jurisdição no Rio de Janeiro. Ficou em seu posto, garantindo a saída de ministros e políticos perseguidos pelo novo regime. Quando houve a deposição de Jango, Teixeira foi para casa, em Copacabana, e pediu que passassem a ferro sua farda. Horas depois seria preso. 
 
 
No dia 11 de abril foi transferido para a reserva, tendo seus direitos políticos suspensos por dez anos, com base no Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964. Foi esse instrumento que permitiu punições extralegais aos adversários do novo Governo. Preso incomunicável durante 50 dias para responder a três inquéritos policial-militares, foi afastado da FAB antes da conclusão das investigações.
 
O Brigadeiro Francisco Teixeira também foi proibido de exercer sua profissão após a cassação de sua carteira de piloto, e teve sua cidadania suspensa por dez anos. Considerado oficialmente morto, sua esposa passou a receber pensão militar de viúva.
 
Para sobreviver, organizou, com a ajuda da mulher e parentes, um curso particular no nível de admissão e outro supletivo. Preso por ocasião da posse do General Emílio Garrastazu Médici na Presidência da República, em outubro de 1969, no mês seguinte teve sua residência incendiada em circunstâncias nunca explicadas satisfatoriamente.
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Anistiado em 1979, lutava desde então pela reintegração dos militares cassados às Forças Armadas, presidindo a Associação Democrática e Nacionalista de Militares (ADNAM), movimento pela anistia dos oficiais, soldados e marinheiros. Francisco Teixeira morreu dia 10 de janeiro de 1986, aos 74 anos, de câncer, no Rio de Janeiro. 
 
 
* Estudante de Comunicação Social e estagiário da Diretoria de Jornalismo da ABI.