Fotojornalista, profissão anti-rotina


27/05/2008


José Reinaldo Marques
30/05/2008

Em abril 1996, uma viagem de férias transformou a vida da fotógrafa Luciana Whitaker. Ela saiu do Brasil com destino ao Alasca, ficou tão encantada com o que viu por lá, que na volta pediu demissão da sucursal Rio da Folha de S.Paulo para morar com os esquimós na gélida Barrow, lugar com 4 mil habitantes, 60% da etnia inupaq (“povo de verdade”). Foram 11 anos de convivência, compartilhada com o companheiro Kelly e os filhos James e Juliana, a quem a comunidade local chama de Sakiq e Amayun, respectivamente:
— Sou uma aventureira de coração e a possibilidade de morar em Barrow me seduziu. Quando uma oportunidade dessas aparece, temos que pegar — diz, entusiasmada.

A experiência virou uma publicação que ela considera uma história de amor não só entre homem e mulher, mas também por um povo, uma cultura, um lugar:
— “11 anos no Alasca” nasceu da curiosidade incansável das pessoas pelo assunto. Quando descobrem que eu morei lá, sempre me fazem mil perguntas. Achei que ia dar samba. Guardei os e-mails que mandei para o Brasil e transformei em um diário. E juntei as fotos que nunca deixei de produzir. Um dia, a repórter Annette Schwartsman fez uma matéria comigo para a revista Icaro e perguntou se eu queria que pusesse lá que eu estava escrevendo um livro. Pronto. O Pedro Almeida, da Ediouro, me ligou, dizendo que queria esse livro.

Passo importante

A carioca Luciana sempre gostou de fotografia. Logo após se formar em Programação Visual na PUC-Rio, ganhou dos pais uma viagem a Nova York, para estudar computação gráfica:
— Antes de embarcar, fiz um curso de Fotografia de Viagem com o Haroldo Castro e resolvi que ia ser fotógrafa. Nos Estados Unidos, estudei Fotojornalismo no International Center of Photography, onde comecei também a trabalhar em laboratório. Respirava fotografia. Ouvi dizer que estavam aceitando estagiários no New York Newsday e apareci lá com o ensaio sobre o metrô nova-iorquino que produzi para o curso do ICP. Fui contratada e, quando contei a um professor, ele disse: “Agora não há mais caminho de volta.” Percebi então que tinha dado um passo importante na minha vida.

No New York Newsday, Luciana começou fazendo uma coluna de retratos e logo conquistou os colegas veteranos:
— Eles realmente queriam me ensinar, me davam dicas de equipamento, iluminação, tudo. Eu era uma espécie de mascote da editoria. Um dia, fui para uma pauta menor, mas que teria a presença do Prefeito. Fiz uma grande foto e emplaquei a primeira página. Começaram a me soltar pela cidade. Saía sem repórter, apenas pautada para fazer uma imagem interessante. Foi um aprendizado e tanto.

De posse de um variado portfolio, Luciana retornou ao Brasil, saiu em busca de uma boa oportunidade de trabalho e acabou batendo na Folha de S.Paulo:
— O editor da sucursal Rio era o Homero, que se encantou com meu trabalho e logo me botou para colaborar com o jornal. Um mês depois, o Anibal Philot, do Globo, me chamou. Trabalhei um mês com ele. Nesse período, o Homero me ligou, oferecendo uma vaga como efetiva na Folha, onde dois anos depois acabei chefiando o Departamento de Fotografia.

De estagiária e freelancer, Luciana tornou-se não apenas chefe, mas também uma colecionadora de prêmios nacionais e internacionais, como Esso de Jornalismo, Best of Photography Annual, The Millennium Photo Project, Judge’s Award Photo e Alaska Magazine Photo Contest.

Imagem e texto

            Luciana e o filho James no Ártico

Foi no Alasca também que ela começou a desenvolver um interesse para além da imagem. Primeiramente, sugeria as pautas ao Anchorage Daily News as pautas. Com suas fotos cada vez mais ocupando a primeira página do jornal de Barow, foi adotada como fotógrafa da cidade e passou a escrever sobre suas experiências:
— Fiquei amiga dos baleeiros e sou uma das pouquíssimas mulheres a acampar com eles no gelo. Ao longo dos anos, escrevi muitos e-mails descrevendo meus dias no Ártico. As pessoas elogiavam meu texto. Guardei os e-mails e os transformei em livro. Mesmo assim, acho que o que mais marca minha produção é a paixão pela fotografia, além do meu profundo envolvimento emocional com o trabalho.

Do clima tropical do Rio de Janeiro ao inverno rigoroso no Alasca, Luciana Whitaker continua fazendo de sua produção fotográfica uma verdadeira aventura:
— O Weegee (Arthur Fellig), fotógrafo nova-iorquino dos anos 40, dizia o seguinte: “Para ser fotógrafo, você tem que se misturar.” Eu sempre achei que jornalista tem que ser assim. Trabalhar virando noites no carnaval e, na quarta-feira de Cinzas, estar pronto para voltar ao fuso horário normal. Fotografar princesas e príncipes e também os sem-terra. Um dia não ter tempo para comer e no outro participar de um banquete. Não dá para querer rotina nessa profissão.  


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