Ferreira Gullar é o filme
do Macunaíma


08/09/2020


O Cineclube Macunaíma exibirá hoje (8), o documentário de Sílvio Tendler, Ferreira Gular – Arqueologia do Poeta (2019) sobre a intensa vida de um dos poetas mais influentes do Brasil. A obra sobre o amigo pessoal do premiado cineasta é revisitada a partir do Poema Sujo, sua poesia mais aclamada. Gullar, além de poeta, foi escritor, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e o documentário de 104 minutos, além de abordar outras poesias suas, traz o depoimento de pessoas que conviveram diretamente com o trabalho do artista como Eduardo Galeano, Ziraldo e Cacá Diegues. A sessão começa às 20hs no canal da Associação Brasileira de Imprensa do Youtube.

O roteiro do documentário aborda os acasos e os imprevistos que desenharam a trajetória de Ferreira Gullar, um menino que achava que todos os poetas já estavam mortos e converteu-se em um dos mais importantes nomes da literatura mundial. O intelectual pacífico, amante do calor e da cerveja gelada se viu obrigado a um exílio de seis anos na União Soviética, Argentina, Peru e Chile. O escritor consagrado que não acreditava na imortalidade da Academia Brasileira de Letras foi eleito com quase a totalidade votos de seus pares. Uma vida turbulenta e rica, revisitada nesta biografia a partir de sua obra mais aclamada, o Poema Sujo, e que traz inúmeras poesias que marcaram sua trajetória. O filme nasce da relação de décadas entre biógrafo e biografado, contando diferentes momentos em que o poeta fala de si e do mundo que o cerca, de seus afetos e suas dores. A obra busca seus rastros através de memórias guardadas no apartamento onde Ferreira Gullar morou por mais de trinta anos e que se reacendem nas cartas, fotografias, livros e objetos dessa arqueologia.

Ferreira Gullar que nasceu em São Luís a 10 de setembro de 1930 e morreu no Rio de Janeiro a 4 de dezembro de 2016, ocupou a cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, em 2014. Na verdade, Ferreira Gullar é o pseudônimo de José Ribamar Ferreira que usou o Ferreira do pai e o Goulart francês da mãe que abrasileirou para Gullar, explicando que era um nome inventado “como a vida”. Ele lançou o pós-modernismo no Maranhão e até sua morte muitos o consideravam o maior poeta vivo do Brasil. Ganhou diversos prêmios teatrais entre eles o Moliére e o Saci, em 1966, com  Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Em 2011, recebeu o Prêmio Jabuti com o livro de poesia Em Alguma Parte Alguma, que foi considerado “O Livro do Ano” de ficção. Em 2002, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.

POEMA SUJO

Gullar, temendo pelo seu futuro, decidiu escrever o Poema sujo como uma espécie de testemunho final, uma síntese de suas crenças e poética antes que o calassem definitivamente. O poema foi escrito ao longo de seis meses durante o ano de 1975, em Buenos Aires. Ele temia ser capturado porque o governo brasileiro tinha autorização para entrar na Argentina e capturar presos políticos. Vinícius de Moraes, então, fez uma gravação do poema em voz alta, e foi dessa forma que os versos chegaram ao Brasil. O editor Ênio Silveira lançou o pequeno livro pela editora Civilização Brasileira.

Segundo o próprio autor: “o poema era sujo como o povo brasileiro, como a vida do povo brasileiro”. Os mais de dois mil versos criados na solidão do exílio são uma espécie de hino pela liberdade.

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POETA FERREIRA GULLAR FARIA 90 ANOS

Por Diana Aragão, membro da Comissão de Cultura e Lazer da ABI

José de Ribamar Ferreira (nome comum no norte do país) só na certidão de batismo pois ele é mesmo conhecido – nacional e internacional – como Ferreira Gullar nascido em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930 e falecido em 2016, no Rio de Janeiro, cidade adotada e amada em todos seus versos. E, celebrando seus 90 anos (sua mulher Thereza Aragão de grande importância na vida cultural havia falecido em 1993) seus 8 netos resolveram criar no Instagram pagina dedicada à sua vida e obra (ele também era um pintor muito bom). O endereço é gullar.ferreira

Ainda no dia 10 o poeta sera homenageado com a live Ferreira Gullar, às 19h, com as participações dos cineastas Silvio Tendler e Zelito Vianna, da neta Juliana Aragão, da filha Luciana Ferreira e do jornalista Miguel Conde.

Ainda em São Luis, entrou na Escola Técnica, mas, aos 18 anos, Gullar  já enredado pela poesia lançou seu primeiro livro, “Um Pouco Acima do Chão”. Em 1951 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como revisor de textos da revista O Cruzeiro. A partir dai foram várias redações, poesias, o casamento com a politica e a grande companheira Thereza Aragão com quem teve 3 filhos gerando  8 netos e 12 bisnetos. E dos gatos que sempre conviveram no apartamento de Copacabana.

Inovou com “Poesia Concreta” e com o livro “A Luta Corporal”. Organizou e liderou o movimento literário “Neoconcreto”. Recebeu o Prêmio Camões, em 2010. Em 2014, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1956, depois de participar da primeira exposição de Poesia Concreta, realizada em São Paulo, organizou e liderou o grupo “Neoconcreto”, do qual participaram Lígia Clark e Hélio Oiticica. No começo dos anos 60, Ferreira Gullar já havia rompido com as vanguardas, escrevendo sobre os problemas sociais. Gullar presidia o Centro Popular de Cultura, (o CPC) quando em 1964, veio o golpe militar seguido, em 1968, do Ato Institucional n.º 5. Ele foi preso junto com intelectuais e músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil e como era filiado ao Partido Comunista (PC) e um dos fundadores do grupo Opinião, grupo politico cultural de grande relevância, tomou o rumo do exilio.

Em 1971, exilou-se em Paris, depois no Chile, Peru e Argentina durante cinco anos, quando publicou suas obras mais importantes: “Dentro da Noite Veloz” (1975) e “Poema Sujo” (1976). Somente em 1977 é absolvido pelo STF e retorna ao Brasil.

Ele ainda se dedicou ao teatro e à TV. Para o teatro, Ferreira Gullar escreveu, em 1966, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, a peça “Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come”.  Junto com Dias Gomes, em 1968, escreveu “Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória”. Para a televisão, colaborou para as novelas “Araponga” em 1990, “Irmãos Coragem”, em 1995 e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, em 1998.

Ferreira Gullar ganhou diversos prêmios, entre eles, o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção de 2007, com “Resmungos”. Também teve reconhecimento com o Prêmio Camões, em 2010. No mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da UFRJ. Em 2011, recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia. No dia 9 de outubro de 2014, Ferreira Gullar foi eleito para a cadeira n.º 37 da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro desse mesmo ano realizou a exposição “A Revelação do Avesso” onde apresentou 30 quadros feitos a partir de colagens com papel colorido, que foram produzidas como passatempo e passaram a conviver com as outras pinturas no apartamento onde morava em Copacabana. Primeiro com toda a família e depois sozinho com sua poesia até a morte no Rio de Janeiro, no dia 4 de dezembro de 2016.

Obras de Ferreira Gullar

  • Um Pouco Acima do Chão, poesia, 1949
  • A Luta Corporal, poesia, 1954
  • Teoria do Não-Objeto, ensaio, 1959
  • João Boa-Morte, Cabra Marcado pra Morrer, poesia, 1962
  • Quem Matou Aparecida?, poesia, 1962
  • Cultura Posta em Questão, ensaio, 1964
  • Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, teatro, 1966
  • A Saída? Onde Fica a Saída?, teatro, 1967
  • Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, teatro, 1968
  • Por Você, Por Mim, poesia, 1968
  • Vanguarda e Subdesenvolvimento, ensaio, 1969
  • Dentro da Noite Veloz, poesia, 1975
  • A Luta Corporal e Novos Poemas, poesia, 1976
  • Poema Sujo, poesia, 1976
  • Antologia Poética, poesia, 1977
  • Augusto dos Anjos ou Vida e Morte Nordestina, ensaio, 1977
  • A Vertigem do Dia, poesia, 1980
  • Sobre Arte, ensaio, 1983
  • Barulhos, poesia, 1987
  • Poemas Escolhidos, 1989
  • Indagação de Hoje, ensaio, 1989
  • O Formigueiro, poesia, 1991
  • Argumentação Contra a Morte da Arte, ensaio, 1993
  • Rabo de Foguete-Os Anos no Exílio, memórias, 1998
  • Muitas Vozes, poesia, 1999
  • Rembrandt, ensaio, 2002
  • Relâmpagos, ensaio, 2003
  • Um Gato Chamado Gatinho, poesia, 2005
  • Resmungos, poesia, 2007
  • Em Alguma Parte Alguma, poesia, 2010
  • Autobiografia Poética e Outros Textos, 2016