Família pede justiça para Zé Fontes


29/04/2010


A família do jornalista José Gonçalves Fontes está empenhada em divulgar para as novas gerações de jornalistas a trajetória profissional desse que em sua época foi o mais premiado repórter da imprensa brasileira. Fontes, ou Zé Fontes, como era chamado pelos companheiros da Redação do Jornal do Brasil e pelos colegas de outros jornais com os quais convivia, ganhou nada menos de quatro Prêmios Esso de Jornalismo, arrebatando em 1962, 1964, 1975 e 1987 a maior distinção concedida a profissionais da imprensa brasileira.

Carioca, nascido em 1934, Fontes começou sua trajetória profissional numa agência de notícias e em 1958 foi admitido no no Jornal do Brasil, no qual trabalhou 37 anos, divididos em dois períodos: de 1957 a 1979 e de 1984 a 1 de agosto de 2000, quando faleceu. Ele participou da reforma editorial e gráfica do JB sob o comando de Odilo Costa, filho, e acompanhou a caminhada do jornal nos anos seguintes, sob a liderança de Jànio de Freitas, Alberto Dines e Carlos Lemos, entre outros ases do veículo da Condessa Pereira Carneiro. Jovem, brilhava ao lado de destacados repórteres da Geral do JB, como Ana Arruda, Amauri Monteiro, Ribeiro Luz, Maria Ignez Duque Estrada, entre outros.

A primeira das incontáveis distinções obtidas por Fontes foi no começo da carreira, em 1960, quando ele ganhou o Prêmio Ministério da Aeronaútica, atribuído à melhor reportagem sobre a Semana da Asa. A partir de então teve uma torrente de premiações, iniciada com a conquista do Prêmio Esso de Reportagem de 1962 pela série de reportagens em que denunciou a fraude na apuração das eleições de 1960 no então Estado da Guanabara. Seu trabalho resultou na cassação do mandato do beneficiário da fraude, Deputado Sami Jorge. Por sua atuação em defesa da verdade eleitoral, foi agraciado em 1961 com a Medalha e Diploma do Mérito Forense pelo Tribunal de Justiça do antigo Estado da Guanabara.

Fontes trabalhou seis meses nessa reportagem, que desembocou na recontagem de votos determinada pelo Tribunal Regional Eleitoral e na comprovação da fraude. Relator da comissão julgadora do Prêmio Esso, o jornalista Odilo Costa, filho explicou a razão da vitória de Fontes: “O que, a meu ver, a comissão distinguiu, antes de tudo, na série de reportagens de Fontes, foi uma consciência profissional. Dela decorrem os merecimentos do repórter e do seu trabalho, a teimosa tenacidade, o amor à exatidão, o senso de pesquisa da verdade – só a verdade e toda a verdade.”

Trabalho de fôlego de Fontes foi também a reportagem sob o título geral “Bloqueio do mar”, publicada pelo JB num suplemento especial de 20 páginas em 14 de junho de 1964. Fontes trabalhou um ano no levantamento de dados para essa matéria: percorreu todos os portos do País e descreveu os problemas existentes em cada e, também, as suas potencialidades. Com essa reportagem, ilustrada com fotos de Evandro Teixeira, já então um dos ases da equipe de repórteres-fotográficos do JB, onde trabalha até hoje, Fontes ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo de 1964.

A partir de então, praticamente em todo ano Fontes ganhava um ou mais prêmios: em 1963, o Prêmio Guilherme Guinle, instituido pela Federação das Indústrias do então Estado da Guanabara, e o Prêmio Ministério da Marinha; em 1969, 1970, 1973 e 1974, o Prêmio DER (Departamento de Estradas de Rodagem); no mesmo ano de 1969, o Prêmio Sursan de Reportagem; em 1972, o Troféu Coruja, concedido pelo Centro de Estudos e Pesquisas Presidente Castelo Branco; em 1973, a Medalha e o Diploma Santos Dumont, outorgado por uma Comissão de Alto Nível do Ministério da Aeronáutica pela reportagem que fez em homenagem ao centenário do Pai da Aviação; em 1975 e 1976, o Troféu Imprensa, concedido pela TV Sílvio Santos. O Troféu de 1976 foi concedido a Fontes por um júri que por dez votos a um escolheu a reportagem intitulada “Grupo Lume – Um império em desencanto”, em que ele mostrou com rigor de minúcia a trajetória do empresário Linaldo Uchoa de Medeiros, então um dos homens fortes no campo dos negócios, que foi desmascarado, por suas práticas nem sempre éticas, pelas duas páginas e meia publicadas por Fontes no JB no domingo 4 de abril de 1976.

Além das distinções locais e nacionais, Fontes ganhou em 1971 da Sociedade Interamericana de Imprensa-Sip o Prêmio Mergenthaler, assim denominado em homenagem ao inventor da linotipo, que revolucionou a imprensa no final do século XIXC. A distinção pçunha em relevo as séries de reportagens que Fontes fez em favor da comunidade. A partir de 1970 ele se tornou verbete da Grande Enciclopédia Larousse.

Pela sua competência profissional e sua isenção em relação a questões político-partidárias, Fontes pôde participar de 1980 a 2000 da Assessoria de Imprensa do Governo do Estado, primeiro como Assessor-Chefe da Secretaria de Planejamento, depois como Assessor de Imprensa do Gabinete Civil do Governador. Pelo respeito que naturalmente impunha, Fontes trabalhou com Governadores de diferentes filiações partidárias: Chagas Freitas (PMDB), Leonel Brizola (PDT), em seu segundo mandato, e Marcelo Alencar (PSDB). Seu currículo era admirado: na longa militância no JB, foi repórter especial, chefe de reportagem e editor de Cidade.

Para o resgate da imagem profissional de Fontes estão trabalhando sua viúva, Neyde Baptista, e seu filho Ricardo José Gonçalves Fontes, que agradecem a colaboração que os contemporâneos dele no JB e no serviço público possam oferecer, através da ABI, para colocá-lo no lugar de destaque que ele merece.

IMAGENS DE JOSÉ GONÇALVES FONTES 

Fontes recebe das mãos do Governador do Estado da Guanabara Chagas Freitas o diploma de ganhador do Prêmio Departamento de Estradas de Rodagem de 1969. Ao lado de chagas o sorridente Ministro dos Transportes Mário Andreazza.

O extrovertido Fontes na Chefia de Reportagem do JB em 1971. (Foto Ari Gomes).

A convite de Sílvio Santos (microfone na mão), o Deputado Álvaro Vale (PL) entrega a Fontes o Troféu Imprensa de 1975. À esquerda, o jornalista Israel Tabak, colega de Fontes no JB.

Assessor-Chefe da Secretaria de Planejamento do Estado do Rio, Fontes acompanha em 1981 um relato do Secretário Valdir Moreira Garcia (na cabeceira da mesa). (Foto Valéria Cansano).

Fontes diante de um quadro que o mostra como vencedor do Prêmio Esso de 1962. Foi no Hotel Intercontinental, na cerimônia de entrega do Prêmio Esso de 1964, que ele também conquistou. (Foto de Fernando Rabelo).