Estadão-Rio inaugura retrato de Prudente


20/06/2008


                                                     Retrato de Prudente

O Estado de S. Paulo deu um toque afetivo à inauguração da nova sede de sua sucursal no Rio de Janeiro: além das novas instalações, foi inaugurado na sala de reuniões da Redação um retrato do jornalista Prudente de Moraes, neto, que durante muitos anos foi articulista do jornal, no qual escrevia sob o pseudônimo de Pedro Dantas. Prudente, Presidente da ABI de 1975 a 1977, quando faleceu, foi também diretor da mesma sucursal nos anos 60 e começo dos anos 70, quando foi substituído no cargo por Villas-Bôas Corrêa, sem perder o vínculo com o jornal, no qual continuou a atuar como articulista.

Para o ato de inauguração, no começo da tarde da terça-feira 17, o Diretor da sucursal, Flávio Pinheiro, convidou antigos companheiros de Prudente no Estadão, como Villas-Bôas, Teixeira Heizer e Antônio Carlos de Carvalho, e na ABI, como Maurício Azêdo e Ancelmo Gois, que conviveram com ele quando Presidente da ABI. O Diretor de Redação do Estadão em São Paulo, jornalista Ricardo Gandour, veio especialmente para o ato. Também esteve presente o jornalista Marcos Sá Corrêa, filho de Villas-Bôas e companheiro de Flávio Pinheiro em diferentes redações, como as do Jornal do Brasil e da Veja no Rio de Janeiro. 

Morador do subúrbio 

Num ato sem formalismo, diante da equipe da sucursal, Teixeira Heizer, Maurício e Villas fizeram breves relatos sobre aspectos da trajetória de Prudente, com o qual Heizer trabalhou inicialmente no Diário de Notícias, em que Prudente era editorialista e cronista político.

Heizer contou que, após o fechamento da edição, ele, Ivan Alves e um ou outro companheiro acompanhavam Prudente até o ponto de lotações no fim da Avenida Rio Branco, em frente ao antigo Senado Federal, onde ele embarcava para o Lins, subúrbio onde morava. De paletó e gravata, por vezes de colete, carregando a bengala e uma pasta de couro de que nunca se separava, Prudente ia contando casos, especialidade em que era mestre, pelo encanto da narrativa e pelas aventuras que vivera. Quando deixou o Diário de Notícias para assumir a Direção da sucursal do Estadão, ele fez questão de que Teixeira Heizer e Ivan Alves fossem trabalhar com ele. 

Um fã de Sinhô e Ismael

Maurício lembrou que, sobrinho de um ex-Presidente da República, Prudente integrava a elite política e cultural, mas tinha grande paixão pela músca popular e seus criadores, como Sinhô e Ismael Silva, que estavam produzindo no começo dos anos 20 a base do principal gênero musical do País, o samba. Na juventude, ele percorria as lojas da Rua da Carioca que vendiam partituras musicais e discos de 78 rotações para indagar se havia alguma música nova de Sinhô ou de Ismael Silva:
— O jornalista Sérgio Cabral contava que ,quando Prudente chefiou a antiga Superintendência da Moeda e do Crédito, a famosa Sumoc, que tinha nos anos 50 e 60 a importância que tem hoje o Banco Central, muitas vezes o gabinete dele exibia externamente, no alto da porta, uma luz vermelha, indicando que o titular do cargo estava mantendo um encontro importante. Lá dentro, contava Sérgio Cabral, o Dr. Prudente recebia um visitante para ele especialmente ilustre: Ismael Silva, que de violão em punho cantava composições que Prudente admirava — disse Maurício. 


O inimigo da antilei

Contou ainda Maurício que Prudente concordou em assumir a Presidência da ABI após um trabalho de persuasão feito pelo jornalista Mário Cunha, que era secretário de Redação da sucursal Rio do Estadão, na qual trabalhava na época em que Prudente a dirigira. Prudente, que apoiara o golpe militar de 1º de abril de 1964, do qual fora um dos teóricos, estava em oposição à ditadura desde a edição em 13 de dezembro de 1968 do Ato Institucional nº 5, que ele definira como a “antilei”, uma aberração jurídica. Mário convenceu-o de que era importante que a ABI, desfalcada pela morte inesperada de Danton Jobim logo após sua eleição para novo mandato como Presidente da Casa, precisava ter à frente uma personalidade da dimensão política e intelectual dele, Prudente: 
— Prudente aceitou o desafio — disse Maurício. — Em 25 de otubro de 1975, meses após o começo de seu mandato, foi assassinado no DOI-Codi de São Paulo o jornalista Vladimir Herzog, crime que desencadeou a mobilização dos jornalistas e dos setores intelectuais de todo o País. Prudente teve uma atuação corajosa nesse episódio e em outros casos de violação dos direitos humanos, que a partir de sua gestão passaram a ocupar o primeiro plano das preocupações e das ações da ABI.

Um mestre da crônica

Villas-Bôas Corrêa recordou que trabalhou com Prudente na sucursal do Estadão e foi honrado com o convite para substituí-lo:
Prudente era um mestre da cobertura e da crônica política e aprendi muito com ele — afirmou.

O jornalista lembrou ainda que, como cronista político do Estadão, nos anos 70, redigia diariamente uma coluna, a “Destaque”, publicada na página de editoriais. A partir do AI-5 e da instituição da censura prévia nas redações dos jornais, tinha dificuldade de acesso a fontes de informação: 
— Por sorte — contou —, tínhamos algumas fontes que conseguimos preservar, as quais não podiam ser reveladas. Uma das minhas melhores fontes era o então Ministro Delfim Neto, o todo-poderoso Ministro da Fazenda, com o qual eu me encontrava toda terça-feira às 7h, em seu gabinete, no Ministério. Delfim tinha uma vitalidade impressionante. Um dia um de seus assessores me relatou que havia saído de um prolongado jantar com o Ministro, numa boate, às três da manhã. Delfim foi para casa, passou uma hora numa banheira de água quente, dormiu umas poucas horas e às sete da manhã lá estava para o nosso encontro.

Villas revelou desencanto e pessimismo em relação à situação política do País, porque considera que a classe política se encontra por demais desgastada, o Congresso está com péssima imagem, faz gastos perdulários, como os da verba de gabinete dos deputados, superior a R$ 60 mil por mês, e perde o respeito da opinião pública: 
— Isso não vai terminar bem, não pode terminar bem — concluiu.

A sucursal

A nova sede da sucursal Rio do Estadão fica no 9º andar do edifício da Avenida Rio Branco, 128, um prédio modernizado que tem entre seus ocupantes a Generali, empresa italiana de seguros; serviços da Companhia Vale do Rio Doce; e poderosos escritórios de advocacia. É este o terceiro endereço da sucursal, que durante muitos anos ocupou o 8º e o 9º andar da Rua da Quitanda, 3, e estava até recentemente na Avenida Almirante Barroso. O telefone da sucursal é (21) 2508-3100.

O Diretor da sucursal é Flávio Pinheiro, que já dirigiu a Redação do Estadão em São Paulo e a Redação da Editora Abril no Rio de Janeiro e se prepara para assumir a Direção do Instituto Moreira Sales, sediado no Rio.