Em foco especial — “A declaração da vida”


09/12/2008


Bernardo Costa
12/12/2008

Uma reflexão sobre os direitos humanos

Marcando os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, redigida em 1948, teve início nesta quarta-feira, dia 10, a exposição “Direitos Humanos — A declaração da vida”, com curadoria de Milton Guran e Melanie Guerra. Em cartaz no Centro Cultural da Justiça Eleitoral (Rua 1º de Março, 42 — Centro do Rio), a mostra conta com fotografias que permitem uma reflexão sobre o texto que compõe o documento:
— A idéia é levar ao público o debate em torno da Declaração, que é um dos mais importantes documentos redigidos na história da humanidade, essencial para a boa relação entre os povos — diz Milton Guran. — Então, pensamos em fazer isso por intermédio de 64 fotos, que pretendem ampliar discussões sobre tudo de que trata a Declaração.

Guran conta que, na parte principal da exposição — que pode ser visitada de quarta a domingo, de 12 às 19h —, cada foto ilustra o conteúdo dos 30 artigos que compõem a Declaração Universal dos Direitos Humanos “e dialoga com eles, estimulando uma leitura mais rica de cada aspecto do texto”:
— Fizemos a seleção de imagens não pensando nos fotógrafos e sim nas próprias fotografias que podem apresentar uma relação sobre o tema. Algumas delas são históricas, como aquelas tiradas pelo Evandro Teixeira na passeata dos cem mil e na missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, morto no restaurante Calabouço, ou a do Luiz Morier feita no Morro da Coroa, que mostra um grupo de suspeitos algemados pelo pescoço. 

Atualidade

Além de Evandro e Morier, outros grandes nomes do fotojornalismo brasileiro participam da exposição, como Custodio Coimbra, Domingos Peixoto, João Roberto Ripper, Januário Garcia, Marcelo Carnaval, Márcia Foletto, Rogério Reis e João Wainer. Para a curadora Melanie Guerra, esses profissionais, por estarem sempre nas ruas cobrindo os problemas da cidade, “estão em permanente contato com questões relacionadas aos direitos humanos, como a questão da violência do tráfico no Rio de Janeiro”.

Para auxiliar a compreensão do tema e ressaltar sua importância, além de atualizá-lo com questões contemporâneas, as fotos da mostra são acompanhadas por textos do historiador Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), “um dos maiores intelectuais e pensadores das questões políticas atuais”, nas palavras de Guran.

Dando relevância a temas que ficaram de fora do texto original de 1948, a exposição apresenta também sete módulos extras, cada qual contendo cinco fotos que permitem uma reflexão sobre temáticas incluídas na pauta dos direitos humanos com mais força apenas nos últimos anos:
— Por exemplo, a Declaração fala sobre o direito das minorias étnicas, mas não versa sobre a discriminação aos homossexuais, por exemplo. A questão ecológica também não tinha a força e a importância que tem hoje — diz Milton.

Ensaios

                                        Milton Guran

A violência urbana é abordada em três ensaios, um deles chamado “Microondas”, em que imagens de Rogério Reis mostram esse tipo de execução, comum nos chamados “tribunais do tráfico”. Milton Guran conta que o assassinato do colega Tim Lopes foi o que motivou Rogério a compor o ensaio.

Walter Carvalho, com “Universidade federal”, mostra o processo de degeneração dos bairros pobres do Rio, tornando o ambiente propício para o desenvolvimento da violência; enquanto Anna Kahn, a partir da leitura de jornais, foi de madrugada a locais onde pessoas foram assassinadas para fotografar “Bala perdida”.

Outros problemas urbanos, como os decorrentes de contaminação da Baía de Guanabara e do crescimento desordenado das favelas, estão em “Ecologia”, com fotos de Custodio Coimbra, Domingos Peixoto e Márcia Foletto. No outro extremo, “Vida”, de Adriana Medeiros, mostra regiões do País onde os partos ainda são feitos em casa:
— Este ensaio tem relação com o primeiro artigo da Declaração, em que é assegurado a todas as pessoas que nasçam livres e iguais em dignidade e direitos — diz Guran.

Um prédio inteiro ocupado por famílias sem-teto em São Paulo é tema de “Moradia”, que remete ao direito de toda pessoa a ter um padrão de vida capaz de assegurar a si próprio e a sua família saúde e bem-estar, conforme o 25º artigo da Declaração:
— Esse trabalho do Julio Bittencourt foi muito premiado — diz Guran — e mostra a rotina do lugar por meio de fotos das janelas do edifício.

O artigo 4 da Declaração, que proíbe a escravidão e o tráfico de escravos em todas as suas formas, é representado na exposição por “Quilombo”, de Isabel Castro, que mostra o jongo, dança de origem afro-brasileira que precedeu o samba e, como outras manifestações culturais da mesma origem, era reprimida no Brasil pré-Abolição. 
 


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