Em busca da paz e da luz do Brasil


12/02/2008


Cláudia Souza 
15/02/2008

Quando o assunto é o Brasil, o jornalista da Reuters Eli Coory é categórico:
— É o país mais fotogênico do mundo, com luz e imagens incomparáveis, e o melhor lugar para viver.

Palavra de quem conhece uma centena de países — literalmente — , ao longo de quase uma década de trabalho como correspondente da agência inglesa de notícias. Nascido no Líbano em 7 de novembro de 1966, aos 9 anos, no auge da guerra civil, Eli — que acabou se tornando especialista em política internacional e regiões em conflito — já manuseava armas para salvaguardar o edifício onde morava com a família, em Beirute:
— Vivíamos em frente a uma área pobre habitada por palestinos. Era muito perigoso andar nas ruas e até mesmo em casa ninguém estava protegido. Passei noites armado em vigília, para evitar a invasão do prédio em meio aos freqüentes ataques terroristas. Da minha janela, vi muitos colegas de escola serem mortos no meio da rua — recorda.

Aos 14 anos, Eli foi convocado para o serviço militar em seu país:
— Como sempre fui alto, pensaram que eu já estava pronto para a guerra, mas eu era apenas uma criança. Servi durante dois anos. Logo depois, incentivado por meus pais, fui estudar na Europa, onde foram morar alguns tios e primos, fugindo da guerra. Na Alemanha, comecei a namorar uma menina inglesa e então decidi viver em Londres. 


Realidade

O gosto pelo jornalismo surgiu ainda na adolescência, a partir do hábito do pai de escrever para os jornais, corrigindo possíveis erros relacionados aos conflitos no Líbano:
— A mídia relatava ataques e outros episódios referentes à guerra que muitas vezes não correspondiam à situação real. Era preciso chamar a atenção para os verdadeiros fatos, e eu também comecei a escrever para os jornais, especialmente quando cheguei à Europa.

Em Londres, Eli trabalhava num banco durante o dia e estudava à noite. Quando conseguiu estágio na Reuters, como webdesigner, aproveitou a experiência em mercado financeiro:
— A Reuters é a maior agência de notícias multimídia do mundo — explica. — Tem 2.400 jornalistas — incluindo repórteres-fotográficos e cinegrafistas — em 197 redações em 130 países e mais de 90% de sua receita vêm do negócio de serviços financeiros, que atendem a cerca de 500 mil profissionais do mercado financeiro em todo mundo.

 Eli e Henry Kissinger na Copa 2006

Fotografia

O hábito da juventude, de escrever sobre os conflitos de seu país, chamava a atenção dos colegas:
— Jornalistas da Inglaterra e até de outros países me procuravam para saber detalhes sobre o Oriente Médio. Virei um especialista no assunto e passei para a editoria de Política Internacional, que me levou a percorrer várias regiões em conflito na África, na Ásia, nas Américas… E eu sempre levava a minha câmera e registrava imagens.

O contato mais próximo com os problemas e a gente de cada lugar visitado contribuíram para aumentar o interesse pelo fotojornalismo. Em 2004, Eli decidiu realizar um projeto pessoal : visitar 19 países — entre eles o Brasil — registrando flagrantes de beleza, arte, drama, medo, violência:
— Criei um site (www.photosfromlondon.com) para divulgar as fotos e vídeos que venho fazendo ao redor do mundo. Minha prioridade é o fotojornalismo — assegura.

Membro da National Union of Journalists (NUJ), ele continua colaborando com a Reuters e a Foreign Affairs (organização de âmbito global para ações e divulgação de temas relacionados à política internacional):
— É preciso estar antenado. Dedico entre seis e oito horas do dia para acompanhar as notícias. Os novos jornalistas precisam se aprofundar mais nos problemas do mundo. O estudo de línguas também é essencial para a profissão. Falo sete idiomas e estou aprendendo português, pois quero me mudar definitivamente para o Rio de Janeiro, que visitei pela primeira vez em 2004.

Embora tenha ido para a Europa fugindo do terror e deseje sair de Londres devido “ao clima de medo e insegurança provocado pela ameaça terrorista”, Eli conhece os problemas enfrentados pelos cariocas e até vê semelhanças entre os conflitos no Oriente Médio e a guerra do tráfico nas favelas no Rio:
— Ambos são financiados pelas elites. No Oriente Médio, a violência é sustentada e alimentada pelo lobby das armas. Os inocentes morrem e o lucro dos ricos avança desmedidamente. Aqui, os verdadeiros traficantes estão nas áreas de luxo, enquanto os pobres sofrem as conseqüências. Mesmo assim, quero me casar e ter filhos no Brasil. Este País é a minha paixão e a minha paz longe de todas as guerras. .


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