Eleições em clima de terror no México


29/06/2012


É preocupante o clima de insegurança em que serão realizadas as eleições majoritárias no México, no domingo, 1º de julho, dizem observadores internacionais, jornalistas, especialistas e organizações de defesa dos direitos humanos que acompanham os acontecimentos no país. Teme-se que os cartéis do narcotráfico possam tumultuar as eleições, promovendo atos criminosos que possam intimidar as autoridades, os meios de comunicação e a própria população.
 
 
O motivo da preocupação é a incapacidade demonstrada pelo Governo de Felipe Calderón para conter a onda de violência desencadeada pelos narcotráficantes, que já matou mais de 50 mil pessoas nos últimos 12 anos.
 
 
Segundo dados da organização Repórteres Sem Fronteiras (RFS), no mesmo período, diversos órgãos de comunicação sofreram atentados criminosos. Foram mortos 85 jornalistas e 16 profissionais de imprensa encontram-se desaparecidos.
 
 
A violência contra jornalistas é uma questão que vem se agravando no México. No mês de maio, desapareceram misteriosamente os repórteres Federico Garcia Manuel Contreras, no estado de San Luis Potosi, e Alexander Plemmons Zane Rosales, em Tamaulipas.
 
 
No início de junho, a repórter policial do jornal Zócalo, Stephania Cardoso, que ficou sumida por uma semana com seu filho de dois anos, reapareceu e ligou para uma emissora de rádio para pedir proteção às autoridades federais mexicanas. Informado do caso, o Presidente Felipe Calderón designou a Procuradoria Geral da República para dar proteção à jornalista.  
 
 
No domingo 24 de junho, no estado de Oaxaca, o fotojornalista da revista Tucano, Rafael Hernández, foi ferido gravemente a facadas, na perna e no peito, na porta da sua casa, por três homens que o estavam ameaçando devido à sua atividade profissional. 
 
 
Guerra
 
 
De acordo com a RFS, os narcotraficantes encontram-se supostamente infiltrados em várias instâncias de poder. Um levantamento do Instituto Ação Cidadã do México mostra que mais de 70% dos municípios mexicanos vivem sob a influência do tráfico de drogas.
 
 
Em 2006, logo depois de assumir a Presidência, Felipe Calderón iniciou com as Forças Armadas uma campanha de guerra (http://es.rsf.org/mexique-campana-basta-de-sangre-no-sangre-11-02-2011,39527.html) para tentar reprimir a ação das facções criminosas no país. Porém, o resultado esperado não foi alcançado. O índice de violência aumentou e os cartéis do narcotráfico continuam desafiando as autoridades mexicanas.
 
 
A estratégia de Calderón para combater o narcotráfico foi criticada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), devido ao Governo mexicano não ter procurado apoio de organismos internacionais “para estabelecer uma resposta que esteja de acordo com a norma internacional”.
 
 
O mesmo Alto Comissariado realizou um levantamento, em 2011, que aponta que ao menos 160 mil pessoas abandonaram suas casas no México naquele ano, por causa da violência do narcotráfico. Outro relatório feito em 2012 mostra que 24 mil 500 pessoas migraram de Ciudad Juarez, na fronteira com os Estados Unidos, região mais violenta do país.
 
 
Na quinta-feira, 28 de junho, o Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade, liderado pelo poeta Javier Sicila, realizou um ato com representantes de milhares de vítimas do crime organizado e exigiu dos quatro candidatos à Presidência da República a adoção de um “acordo de união nacional” pela paz no México.
 
 
Os quatro candidatos à Presidência do México ― Josefina Vázquez (Partido Ação Nacional), Enrique Peña Nieto (Partido Revolucionário Institucional), Andrés López Obrador (Partido da Revolução Democrática) e Gabriel Quadri (Partido Nova Aliança) ― assinaram um acordo de civilidade, comprometendo-se a respeitar o resultado das eleições de domingo, para evitar atos de violência no país em uma possível crise pós-eleitoral.
 
 
A expectativa da comunidade internacional e das entidades de proteção aos jornalistas é que o vencedor do pleito consiga reverter a tragédia em que o México se encontra mergulhado, adotando mecanismos eficazes de proteção aos cidadãos e de combate aos crimes contra a liberdade de imprensa e os profissionais de comunicação. 

* Com informações da Repórteres Sem Fronteiras.