El Diario pede trégua a narcotraficantes


20/09/2010


Em uma iniciativa inédita na imprensa do México, por meio de um editorial publicado na edição de domingo, 19 de setembro, o jornal El Diario pediu uma trégua às organizações criminosas que atuam em Ciudad Juárez, cujos atentados nos últimos dois anos mataram dois funcionários do veículo, entre os quais José Armando Rodriguez, que foi executado em 2008. O assassinato mais recente ocorreu na última sexta-feira, quando o estagiário de fotojornalismo Luis Carlos Santiago Orozco foi morto a tiros em um atentado no estacionamento de um shopping, próximo à Redação do jornal.
 
 
Sob o título “O que eles querem de nós” o editorial assinala que a perda dos dois repórteres representa “um dano irreparável” e que os jornalistas estão apreensivos e desejam saber o que os narcotraficantes querem da categoria.
 
 
O texto também critica as autoridades mexicanas, principalmente o Presidente do México, Felipe Calderón, que é acusado de não ter tomado as providências devidas para impedir que os jornalistas continuem sendo executados. Desde que ele assumiu o Governo, há quatro anos, 28 mil pessoas foram assassinadas em crimes ligados ao narcotráfico no país.
 
 

DIV>O editorial ressalta que a iniciativa tomada pelo jornal não é uma rendição aos grupos que se impõem pela força, mas uma maneira de tentar entender o que se espera de um órgão de mídia, que não deseja mais mortes dos seus jornalistas ou dos seus colegas de profissão: “Não queremos mais ferimentos ou até mais intimidação. É impossível exercer o nosso papel nessas condições. Diga-nos, portanto, o que querem que publiquemos ou o que devemos parar de publicar, o que esperam de nós como meio (de comunicação).”

 
A mensagem do El Diario destaca também que o México virou um ambiente que não oferece garantias suficientes para os cidadãos desenvolverem as suas vidas e atividades com segurança, e que o resultado disso é que o jornalismo tem-se tornado uma das práticas profissionais “mais perigosas” de se exercer no país.
 
 
Repercussão
 
 
O atentado que matou o estagiário do El Diario e o editorial endereçado às organizações criminosas despertaram a atenção de diversos setores, inclusive de governantes locais. Para o Prefeito José Reyes Ferri, os Governos devem dar garantias aos trabalhadores dos veículos de comunicação: “A comunicação é uma parte essencial de qualquer sociedade democrática, temos de proteger os jornalistas que desempenham esta importante função”, declarou o prefeito à reportagem do El Diario.
 
 
Na opinião Elia Baltazar — membro do Conselho de administração do Centro de Jornalismo e Ética Pública (Cepet), sediado na Cidade do México —, um fator grave é que a ausência do Estado e a impunidade estão provocando um vazio de poder institucional em regiões como Ciudad Juárez, onde a violência tem sido acentuada. Segundo ele, isso dificulta o trabalho da imprensa, que não encontra no Exército nem na polícia parceiros a que possa recorrer: “E se isso não é grave para uma democracia, me diga então o que é mais grave”.
 
 
As palavras de Baltazar coincidem com a observação de Carlos Lauria, coordenador do Programa das Américas do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), que alertou sobre o envolvimento de setores do Estado com o narcotráfico e para a incapacidade das autoridades governamentais, que permite que os grupos criminosos em conflito consigam os seus objetivos de controlar a circulação de notícias.
 
 
Ao El Diario o coordenador do CPJ disse que os traficantes de drogas operam em várias frentes “e são conectados” com as autoridades, forças de segurança e o Judiciário: “Sabemos que a informação (a notícia) é um bem precioso e que pode ser usada para prejudicar a reputação de cartéis rivais, e é isso que eles estão conseguindo, de um Estado que está cada vez mais ausente, evidentemente incapaz de oferecer garantias aos jornalistas”, afirmou Carlos Lauria em entrevista ao jornal mexicano.
 
Violência
 
 
A atuação dos jornalistas que cobrem áreas de conflito de narcotraficantes é uma preocupação que cada vez mais vem sendo debatida pelas entidades ligadas à categoria. Esse inclusive foi o tema central do fórum realizado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas na Universidade Austin no Texas, realizado nos dias 17 e 18 de setembro, que debateu a cobertura do tráfico de drogas e do crime organizado na América Latina e no Caribe, com a participação de 40 organizações dedicadas à capacitação e segurança de jornalistas.
 
 
Participaram do encontro entidades como Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Nacional de Jornalistas Hispânicos, Sociedade Interamericana de Imprensa e o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), entre outras.
 
 
O jornalista Mauri Konig, do jornal Gazeta do Povo e membro da Abraji foi um dos debatedores do painel “Iniciativas regionais, transfronteiriças e globais sobre cobertura do crime organizado”, que teve a participação de Osmar Gómez, do jornal ABC Color e do Fórum de Jornalistas Paraguaios; Gabriel Michi, do Fórum de Jornalismo Argentino; Giannina Segnini, do jornal La Nación da Costa Rica; e Paul Radu, do Centro Romeno para o Jornalismo Investigativo.
 
 
Durante o fórum discutiu-se também, entre outros assuntos, o que pode ser feito para ajudar repórteres e editores que trabalham em ambientes hostis, sob condições perigosas e estressantes, e quais medidas práticas os jornalistas podem tomar quando estiverem cobrindo a violência. A violência no México foi um dos temas centrais do encontro.
 
 
Como desdobramento do fórum, foi anunciado que de 25 a 28 de novembro será realizada a primeira reunião regional de jornalismo para as fronteiras da Argentina, Brasil e Paraguai, que irá acontecer em Ciudad Del Este (Paraguai). O principal objetivo do evento é promover palestras sobre jornalismo investigativo, uma vez que os jornalistas da região têm muito pouca oportunidade de capacitação nesse sentido.
 
 
* Com informações do El Diario e agências internacionais.
 
 
 

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