Editor do The Guardian fala do amigo Dom Phillips


16/06/2022


O jornalista e escritor britânico Jonathan Watts, editor de Meio Ambiente Global do jornal inglês The Guardian, conhecia muito bem o compatriota Dom Phillips, assassinado com o indigenista Bruno Pereira no início do mês no Brasil. Em entrevista hoje (16/6) ao programa Today, da BBC Rádio 4, Watts falou das qualidades do amigo e do livro que Dom estava escrevendo sobre a Amazônia. Ex-correspondente na América Latina e na Ásia Oriental, Watts mora no Brasil, onde chegou em 2012 para cobrir a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro. Casado com a jornalista brasileira Eliane Brum, é autor do livro Quando Mil Milhões de Chineses Saltam: viagem à vanguarda da conservação ambiental na China.

Jonathan Watts

A seguir, trechos da entrevista:

“Dom era um espírito maravilhoso e generoso e um jornalista brilhante. Eu o conheci quando cheguei ao Brasil em 2012. Ele imediatamente me contagiou com o amor dele pelo Brasil, pela cultura, arte, música e política do país. Era curioso por absolutamente tudo. Escreveu sobre todos esses assuntos com grande paixão, mas era também muito cuidadoso, meticuloso e sempre muito justo. Um jornalista moderno e um bom amigo de todos aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo. Nos últimos anos, o interesse dele se voltou para o meio ambiente, em especial a floresta amazônica e os defensores dos indígenas. Isso se tornou ainda mais forte após a eleição de Jair Bolsonaro como presidente, algo que Dom tinha uma preocupação muito grande sobre o impacto que isso teria na Amazônia e no Brasil em geral. Então, ele passou os últimos anos nisso e resolveu se afastar do trabalho de jornalista freelancer por um ano para escrever um livro, intitulado Como salvar a Amazônia, porque ele realmente queria uma busca positiva por soluções.”

“Ele se afastou por esse período, recebeu uma bolsa, mas, típico de Dom, não quis deixar de investigar nada. Fez tantas viagens de reportagem para diferentes partes da Amazônia que acabou estourando o seu orçamento e precisou pedir uma ajuda extra à família no Reino Unido. Isso mostra a dedicação dele a esse projeto. A ida ao Vale do Javari seria uma das últimas viagens de pesquisa para o livro e, sem dúvida, uma das mais importantes. Ele já tinha estado lá uma vez, em 2018, quando conheceu Bruno Pereira, o indigenista brasileiro que o acompanhou nessa viagem e também foi assassinado. Dom sabia que era um lugar arriscado, mas um lugar especial e uma história importante. E ele realmente queria que esse livro fosse “o livro” da Amazônia, muito importante. Ele foi ao Vale do Javari porque era do tipo de jornalista que gostava de evitar o lugar-comum e de contar histórias que não são muito retratadas.”

“Há um grande grupo de amigos de Dom, muitos deles jornalistas, que gostaria, primeiro, de oferecer apoio à família dele, em especial à esposa, Alessandra Sampaio, mas, também, continuar o trabalho de alguma forma. Tenho certeza que haverá conversas no sentido de concluir o livro, mas, também, de tentar reportar as histórias que ele considerava importante, como a degradação dos sistemas de suporte natural à vida e a importância das pessoas que tentam protegê-los, principalmente os indígenas. E o jornalismo em geral, a importância do jornalismo de uma forma geral, e a proteção a jornalistas. Dom era um jornalista de alto nível, que adorava o trabalho que fazia. Ele era extremamente interessado em tudo que escrevia, fosse a indústria petrolífera, fosse a música, porque ele foi um jornalista de música nos anos de 1990, fosse esporte ou, mais recentemente, as questões ambientais.”

Tradução: Geraldo Cantarino

Jonathan Watts

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