Dom Orani celebra missa de corpo presente de Santiago Andrade


13/02/2014


O arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, celebrou a missa de corpo presente do cinegrafista Santiago Ilídio de Andrade, de 49 anos, no Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária. O momento foi acompanhado com emoção por colegas de trabalho e parentes do cinegrafista. Em sua homilia, dom Orani disse que os problemas do país não serão resolvidos com violência e pediu que a paz seja preservada.

O caixão do cinegrafista estava coberto com uma bandeira do Flamengo e tinha uma miniatura de uma câmera em cima do seu corpo. Santiago morreu após ser atingido por um rojão enquanto trabalhava em um protesto no Centro do Rio, no dia 6 deste mês. Vanessa Andrade, filha de Santiago, disse que espera que a TV Bandeirantes dê exemplo de segurança a todos os jornalistas. Ela disse ainda que espera que a morte do cinegrafista não seja em vão. “Vamos até o fim. O nome dele não será esquecido”, disse.

O velório começou por volta das 8h20m na capela 8. A viúva de Santiago, Arlita Andrade, e a filha do cinegrafista chegaram ao local vestida com uma camisa do Flamengo. Durante o velório, Arlita lembrou que Santiago ficava muito preocupado coma violência no país. Emocionada, ela deixou um recado:

“Gente, somos todos irmãos. Somos todos do mesmo país. Então, a gente tem que ser unido. Já pensou se todo mundo mudasse essa consciência e tirasse a violência e fosse um cada vez mais amigo do outro? Como seria nossa Copa? Seria maravilhosa. Isso que fizeram é pedir a todo mundo que sejamos mais tranquilos. Tenham amor um pelo outro. Porque é através desse amor que a gente vai te rum Brasil diferente. Gostaria de falar apenas uma coisinha para esses dois rapazes: que pena. Eu tenho muita pena deles. Eles não tiveram o bem maior que nós temos, que é o amor pelo próximo. Isso ninguém ensinou a eles”, desabafou.

Muitos amigos foram prestar as últimas homenagens ao cinegrafista. Colegas de Santiago Andrade da Rede Bandeirantes chegaram ao cemitério vestidos com camisetas, nas quais, Santiago aparece sentado numa nuvem segurando uma câmera e dizendo “Uau! que ângulo”. O desenho foi assinado pelo chargista Celso Mathias. Nas costas da camisa, a inscrição era: “Poderia ter sido qualquer um de nós”.

Bastante emocionado, Edeilton Macedo, também cinegrafista da Bandeirantes, lembra da convivência com Santiago. “Foi uma das maiores tristezas que tivemos. Conheço Santiago há dez anos. Todo dia encontrava com ele, quando eu chegava da rua e ele começava o trabalho. Desde quinta-feira, não tenho mais isso”, lamentou.

O repórter Alexandre Tortoriello, que ganhou prêmios de jornalismo com Santiago Andrade, disse que espera que a justiça seja feita. “Eu me sinto representando todos nós (a imprensa). Santiago era uma cara que sempre tinha um sorriso. Tratava todo mundo com gentileza e carinho. Ele queria construir um mundo melhor. É difícil se distanciar de um fato como esse, mas também não dá para querer vingança. Só queremos que a punição seja justa e que esse caso sirva de exemplo para quem pensa que mudar o mundo seria levar paus e pedras para a rua”, disse o repórter.

O diretor nacional de jornalismo do grupo Bandeirantes, Fernando Mitre, chegou ao velório de Santiago Andrade e, durante entrevista, fez críticas à falta de uma legislação específica. “Mais uma vez uma tragédia que poderia ter sido evitada, se tantas providências necessárias tivessem sido tomadas antes. Hoje, já há uma discussão em Brasília sobre mudanças na legislação, mas acho que é muito mais do que isso que a gente precisa. Há uma irracionalidade e uma desordem absurdas. Isso todo mundo vê. Acho que durante certo tempo nós todos vimos isso com uma naturalidade que não é adequada. Você não pode imaginar que um grupo de mascarados seja representante de algo legítimo”, disse Fernando Mitre.

Na entrada da capela, foi colocada uma grande quantidade de coroas de flores. A maioria é de amigos de emissoras de TVs e associações da classe. Em uma delas, tem a inscrição: “Suas imagens e suas lembranças serão eternas”. O corpo de Santiago foi cremado.

Santiago Andrade foi atingido por um rojão lançado por manifestantes. O cinegrafista chegou a passar por cirurgia no Hospital municipal Souza Aguiar. Ele teve morte cerebral anunciada na última segunda-feira. Foi o primeiro caso de morte entre jornalistas atacados durante os protestos que, desde junho de 2013, acontecem no Rio e em outras cidades do país. Seus órgãos foram doados.

Homenagem

A ONG Rio de Paz faz uma homenagem ao cinegrafista na manhã desta quinta-feira, 13 de fevereiro, na Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. Segundo a organização, o objetivo foi o de expressar solidariedade à família e aos profissionais da imprensa que se encontram consternados com a tragédia.

Para o protesto, que começou às 6h, na altura da Avenida Princesa Isabel, foi instalada uma cruz preta de 15 metros e uma câmera em um tripé apontada para baixo, simbolizando o fim de sua atividade profissional. Além de um cartaz com os dizeres “Santiago Ilídio Andrade: em memória de quem morreu no exercício de profissão de valor indispensável para a democracia”. Após o ato, os profissionais da imprensa presentes foram convidados a colocar seus equipamentos no chão por cinco minutos como forma de protesto e apoio aos parentes do cinegrafista.

No domingo, 15 de fevereiro, o arcebispo de Niterói, dom José Francisco, vai celebrar, na Catedral de São João Batista, no Centro de Niterói, uma missa às 18h30m, em memória de Santiago. A missa foi solicitada pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro.

*Com informações do jornal O Globo.