Do filme preto e branco à era digital


12/09/2007


Marcia Martins
14/09/2007

Hoje Marcos Cunha não fotografa mais profissionalmente. Está mais dedicado ao Buriti Sebo Literário, uma simpática livraria localizada no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. Apesar de a paixão por livros ter tirado o Marcos do fotojornalismo, o processo inverso aconteceu há 37 anos, quando a literatura o aproximou da fotografia.

Na década de 70, já com um laboratório preto e branco, e após conhecer o autor de “Malagueta, Perus e Bacanaço”, João Antônio, Marcos Cunha publicou suas primeiras imagens na revista Livro de Cabeceira do Homem, editada por Ênio Silveira na Civilização Brasileira. Passado algum tempo, foi trabalhar na Bloch e passou pelo antigo curso de Fotografia da editora:
— Para mim foi uma grande oportunidade de aprender e entrar numa empresa com um time cheio de craques como Nelson Santos, Gil Pinheiro, Gervásio Batista, Frederico Mendes e Márcia Ramalho, só pra lembrar alguns.

Foi na Bloch, fotografando para uma matéria da Fatos & Fotos, que Marcos passou por uma das situações mais complicadas na carreira de repórter-fotográfico. A pauta era com a pintora Flora Morgan Snell. Após o trabalho, foi convidado por Flora para tomar um café com a escritora Clarice Lispector. Depois da conversa, fotografou a escritora e a foto foi publicada:
— A Clarice me ligou, mas não para dizer que tinha gostado da imagem, pelo contrário. Ela estava decepcionada com o resultado, já que a foto fez com que ela adquirisse um ar mais velho e respeitável na edição. Eu é que saí mal na foto tirada pela Clarice — brinca.

Depois que saiu da Bloch, Marcos passou a fazer frilas e, após tentar advogar, acabou voltando para a fotografia no caderno de variedades da Tribuna da Imprensa. A experiência de laboratorista foi útil neste período de trabalho em que, além de fotografar e revelar os filmes, usava o próprio carro para fazer reportagens.

Pós-graduação

De lá foi para a sucursal da Folha de S.Paulo, já na década de 80, e depois reencontrou João Antônio na sucursal do Estadão. Marcos também deu aulas de Fotojornalismo na Universidade Estácio de Sá e, com isso, sentiu necessidade de voltar a estudar.
— Minha pós-graduação foi coordenada pelo colega fotógrafo Milton Guran. O curso, como instrumento de pesquisa nas Ciências Sociais, me reciclou e fez ver que eu poderia tentar este novo caminho.

O projeto “Estrangeirismo” começou a tomar corpo na Feira Cultural de Fotografia. Marcos chegou a levar a exposição para algumas universidades, mas acabou desistindo por falta de patrocínio.

A chegada da era digital foi fator decisivo para que ele abandonasse de vez a carreira de repórter-fotográfico. Apaixonado por fotos em preto e branco, o advogado, fotógrafo e professor percebeu que ficaria difícil insistir na sua preferência. Durante algum tempo, ainda tentou manter o laboratório. Mas os custos elevados e a falta de trabalho com o conceito que abraçara fizeram com que largasse a fotografia.
— Não posso negar que a máquina digital é mais dinâmica e mantém a força da linguagem e da informação, mas o brilho da fotografia se perdeu um pouco com esta modernidade — lamenta.

Atualmente, segundo Marcos, não basta apenas entender de fotografia: se o profissional não tiver um bom curso de Photoshop, não sobrevive no mercado:
— Este é o lado positivo, fazer com que o fotógrafo seja mais preparado e tenha que entender de informática. A parte ruim é que o equipamento digital limita mais o profissional.

Quanto a voltar a ser repórter-fotográfico um dia, Marcos Cunha é enfático ao afirmar que não tem mais vontade de trabalhar no jornalismo diário. Porém, com mais alguns minutos de conversa, diz que o projeto “Estrangeirismo” pode voltar à tona. O fato é que, ainda em fase de “namoro” — iniciado há um ano — com o Buriti Sebo Literário, fica difícil saber qual paixão falará mais alto em seu futuro: a fotografia ou a literatura.  


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