Deu brazuca no Oscar


18/03/2023


Brasil agora é o foco do premiado Daniel Dreiffus

Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI

Depois de dar o Oscar de melhor filme estrangeiro à Alemanha com Nada de novo no front, que ainda levou a estatueta nas categorias direção de arte, trilha sonora e fotografia, o produtor executivo Daniel Dreiffus tem planos de realizar no Brasil e, por que não!?!, trazer o maior prêmio da indústria cinematográfica para o país.

Daniel se formou em Comunicação Social na PUC-RJ e começou a trabalhar na representação da Motion Pictures of America (MPA) no Rio até ser transferido para Los Angeles, cidade em que vive até hoje. A carreira seguiu na Paramount onde se especializou em planejamento estratégico. Nos Estados Unidos se formou pelo American Film Institute, o renomado AFI, e fez mestrado em Produção. Para Daniel, o caminho mais acertado de uma produção é garantir a criatividade na concepção e desenvolvimento dos projetos.

Em meio à correria pós-cerimônia, Daniel abriu espaço na agenda para conceder à ABI o depoimento enviado por mensagem de voz para a diretoria de Cultura*.

Segue o depoimento Daniel Dreiffus:

“A primeira vez que pisei no tapete vermelho do Oscar foi na cerimônia de 2013, há exatos 10 anos, quando fui indicado pela primeira vez pelo filme No, que também representou a primeira indicação na história do Chile. Então, é um prazer e uma honra voltar à cerimônia agora com a Alemanha e, dessa vez, ganhar o Oscar com um filme alemão.

Há muito tempo a Alemanha não leva o prêmio de melhor filme estrangeiro, o último foi em 2007 com A vida dos outros. Nada de novo no front é o filme mais premiado da história do cinema alemão e na história do Netflix. Um filme indicado em nove categorias, então foi uma noite da qual me orgulho muito, realmente, foi o que eu queria, muito mais do que eu poderia ter sonhado como marco deste final da primeira década da minha carreira que vai além da categoria de melhor filme estrangeiro incluindo as outras categorias.

Ao longo desse processo fiz vários outros filmes, uns foram mais bem sucedidos que outros, uns correram o mundo, outros foram mais para seus mercados locais. Agora começo um pouco a pensar o que é a nova fase da minha carreira, como trazer um pouco o DNA dos projetos que tenho feito sobre histórias muitas verídicas, eventos políticos, momentos de transição, ditaduras, guerras, personagens complexos, sempre, o meu maior interesse são as personagens, e trazer isso para um outro universo. Adoraria produzir no Brasil. Tenho dois projetos de minissérie e um de filme. Acho que o Brasil tem muito talento, muita gente interessante com a qual gostaria de estar dialogando e intercambiando ideias. Estou sempre aberto a receber projetos, é uma troca criativa que acho um barato, que me permite falar de qualquer outro assunto.

Me perguntam se não me incomoda ter levado o projeto de Nada de novo no front para a Alemanha por causa do meu histórico familiar. Não, não me incomoda porque entendo que esse projeto baseado num livro que foi banido pelos nazistas, filme que em 1930 foi banido pelos nazistas, um livro e um filme considerados degenerados à sua época pelo regime, história baseada em uma pessoa que passou pela guerra e claramente está do nosso lado na narrativa. Eu tenho muita honra de ter meu nome associado para o resto da História.

Tenho muito orgulho do filme. Recebi um prêmio do Cinema da Paz, em Berlim. Isso foi para mim um 360 graus. Meu avô lutou na guerra, foi para o campo de concentração, foi para a América do Sul e eu voltei a essa história especifica para ser o produtor do filme da guerra em que lutou meu avô judeu. Tenho muito orgulho de ter contado a história dessa maneira com uma visão claramente antibélica.

Os alemães entenderam muito bem essa questão da circularidade da história que vem de lá do meu avô que sobreviveu à I e à II Guerra, e me tornou um produtor de cinema que pode ir , voltar, e contar a mesma história. Eu acho essa narrativa bacana.

Agora eu quero muito produzir no Brasil. Espero que os streamings e as empresas no Brasil tenham interesse em investir em projetos que não sejam só de público amplo e comercial, mas projetos complexos, de personagem, que possam viajar o mundo, sendo ou não premiados. Quero realizar projetos com o Brasil. Poxa, já levei o Chile para a primeira indicação, a Alemanha para o prêmio, e o Brasil? O Brasil virá quando houver apoio para um tipo de cinema que pode ter reconhecimento e prestigio e não só público amplo.

No momento estou avaliando vários projetos antigos que estou retomando e novos que estão entrando na carteira de projetos. Para o Brasil, tenho dois projetos ainda não formatados. Um, baseado no livro O homem que morreu três vezes, do jornalista Fernando Molica, e outro baseado em um roteiro original que ainda não posso revelar”.

* A diretoria de Cultura agradece a ajuda da colega associada Maria Helena Malta, sem a qual o contato não teria sido possível.