Descortinando CAÓ


20/10/2022


Por Cely Leal, da Comissão de Igualdade Étnico-Racial da ABI

Chegou o momento de Carlos Alberto Oliveira dos Santos, uma das maiores personalidades da Imprensa, do Direito e da Política brasileiras, ter a merecida visibilidade. É dado o ponta pé inicial com a exibição do documentário

IGUALDADE JÁ! Tributo a Carlos Alberto Caó

Contamos com sua presença no sábado, dia 22 de outubro às 18hs, no Cine Odeon para a estreia do documentário “Igualdade Já” no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul.  Será um prazer contar com a sua presença nesse encontro.  Entrada franca. Pegar a senha, antes. Atenção: Acesso sujeito à lotação da sala.

Sinopse

O filme conta parte da trajetória de Carlos Alberto Caó de Oliveira, um político negro brasileiro, jornalista, advogado, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro. Foi também vice-presidente da UNE, tendo sido preso e torturado pela ditadura militar. Como Deputado Federal Constituinte em 1988, atuou na luta dos direitos civis foi dele a emenda que determina que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível”. Dirigido por Filó Filho e Wanda Ribeiro, o filme conta com apoio de duas instituições referência no Movimento Negro brasileiro, o CEAP – Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, atuante no combate à intolerância religiosa e racismo e o Instituto Cultne que detêm o maior acervo digital de cultura negra da América Latina.

Cineastas:

Filó Filho. “Desenvolver esta narrativa tem um significado muito especial por estar em consonância com a CULTNE que atua na formação da ampla consciência acerca da defesa do direito à memória e à história antirracista no Brasil”, revela o diretor Filó Filho.

Cine-documentarista, diretor, produtor cultural. Deu início à Cultne, o maior acervo digital de cultura negra da América Latina, há 35 anos, com seus incessantes registros em vídeos. Produziu e dirigiu os filmes “Marielle Presente: Eu Sou Porque Nós Somos”; “Tributo a Mãe Beata de Yemanjá”; “Tributo a Januário Garcia”; “Luta Sagrada” que retrata a intolerância religiosa na Bahia; “O Brasil em Durban”, realizado na cidade de Durban, na África do Sul, sobre a presença da delegação brasileira na Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas. “Mãe Meninazinha da Oxum – 55 Anos de Axé”; “111 Tiros na Alma Negra” que conta a mobilização da juventude negra após a chacina onde 111 tiros foram disparados por policiais militares contra cinco jovens negros, contemplado em 2º lugar na América Latina entre os curtas-metragens denunciando o genocídio da juventude negra no Brasil.

Wanda Ribeiro. “O diferencial do filme, Igualdade Já! está no precioso acervo de diversas organizações parceiras como o PDT, Arquivo Nacional, TV Senado, TV Alerj, Unitevê/UFF, CTAv, ABI, TV Brasil, Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, Jornal do Brasil (JB), entre outras.”

Produtora executiva, diretora, consultora de imagens e pesquisadora de diversas obras como: Música para os olhos – Cartola, de Lírio Ferreira & Hilton Lacerda; Soldado de Deus, de Sérgio Sanz; Noitada de Samba Foco de Resistência, de Cely Leal; Tópicos Urbanos, de Tríplice Produções; Pelé Eterno, de Anibal Massaini Neto, além de outros curtas, médias e séries.  Além de participar nos projetos O Cinema de Zózimo Bulbul e Obras Raras o Cinema Negro da Década de 70.  “Minha atuação no cinema brasileiro teve início em 1982, na Embrafilme, na década de 90 fui para o IBAC, atualmente Centro Técnico Audiovisual – CTAv, e desde de 1996 encontro-me cedida ao Arquivo Nacional”, diz a diretora.

A Brilhante caminhada de Caó

20 de dezembro de 1941, no bairro da Federação, em Salvador/Ba, a costureira Martinha Oliveira dos Santos e o marceneiro Themistocles Oliveira dos Santos assistem ao nascimento do sagitariano Carlos Alberto Oliveira dos Santos. Quem tem o sol no signo de sagitário costuma enxergar facilidade e o lado positivo de cada situação. São pessoas extrovertidas, espontâneas, comunicativas, vaidosas, determinadas e com o idealismo sempre presente.

É o incentivador ideal, capaz de contagiar qualquer equipe sem muitos esforços. Tentar prender um sagitariano não é uma boa ideia. De alma livre e coração aventureiro, viajar, pelo mundo ou pela mente alimenta personalidades e sempre buscam por experiências que trazem mais conhecimento. Características fortes que marcaram toda a sua trajetória.

Caó começou a se dedicar à política ainda na adolescência. Aos 16 anos, militava na associação de moradores do Bairro Federação, ao mesmo tempo que se engajava na campanha nacionalista O petróleo é nosso. Aos 17 anos, foi eleito vice-presidente do Centro Acadêmico do Colégio Central da Bahia. Depois, foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) até assumir a presidência da União dos Estudantes da Bahia (UBE). “Ele tinha uma retórica de militante político, o que não era típico na nossa idade”, lembra o sociólogo e professor Muniz Sodré.

Salvador passava por uma efervescência cultural e Betinho, como era chamado, já liderava a UEB e militava no PCB, demonstrava a força política que marcaria sua carreira. A universidade e o Centro Popular de Cultura da UNE eram polos de referência reunindo o cineasta Glauber Rocha, geógrafo Milton Santos, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o poeta José Carlos Capinam, os compositores Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil e Betinho.

Durante a Ditadura Militar, foi investigado e preso por sua atuação política. Chegou a ser condenado ao fim de um inquérito policial militar, mas foi libertado por decisão do Superior Tribunal Militar seis meses depois.

Em 1967, formou-se advogado pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua luta contra o racismo se destacou tendo sido o autor da Lei Caó. Filiado ao PDT militou no movimento negro, foi conselheiro do Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine) RJ. Elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1982. Entretanto, licenciou-se do mandato parlamentar para exercer o cargo de Secretário do Trabalho e da Habitação no governo de Leonel Brizola.

À frente da Secretaria, comandou a implantação do programa Cada Família, Um Lote, criado para regularizar áreas de favelas e ocupações clandestinas. Até 1985, o programa regularizou 32.817 lotes. Em 1986, deixou a Secretaria para se candidatar novamente à Câmara dos Deputados. Foi reeleito e integrou a Assembleia Nacional Constituinte. Na redação da Constituição brasileira de 1988, foi responsável pela inclusão do inciso XLII do artigo 5.º, que determina que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível.

No jornalismo teve bastante destaque. Seu primeiro trabalho foi na Luta Democrática em 1964. Nos anos seguintes, atuou como repórter nos jornais Diário CariocaTribuna da ImprensaO Jornal e Jornal do Commercio, além da TV Tupi. Em 1971, entrou para o Jornal do Brasil, inicialmente como repórter econômico, assumindo em seguida os cargos de sub-editor e editor de Economia. Nesse período, foi um dos fundadores da Associação dos Jornalistas Especializados em Economia e Finanças (AJEF), criada em 1974, e eleito presidente em 1975.

Presidiu também o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, entre 1981 e 1984. Criou ainda o Clube dos Repórteres Políticos, do qual foi secretário-geral.

Carlos Alberto Oliveira dos Santos, CAÓ. PRESENTE!