Descontração no ensaio do Conjunto Nacional


19/03/2009


Bernardo Costa 
18/03/2009

                                         Bernardo Costa

A banda Conjunto Nacional, formada por Paulo Caruso (piano, violão e voz); Chico Caruso (voz); Luís Fernando Veríssimo (sax alto); Aroeira (sax tenor); Fernando Barros (baixo); e Nelson Pagani (bateria), abriu a sua temporada anual de shows na noite de lançamento da mostra “ABI — 100 anos de luta pela liberdade”, na terça-feira, 17, no Centro Cultural Justiça Federal.

A apresentação do grupo musical, que reúne importantes cartunistas, chargistas e ilustradores da imprensa brasileira, foi o ponto alto da festa que homenageou a centenária Associação.

A passagem de som, realizada pouco antes do evento, foi marcada pelo clima de descontração entre os artistas, que ensaiaram um repertório recheado de humor e crítica.

Em um lado do palco, Paulo Caruso afinava o violão e pedia aos técnicos para mudarem a posição do piano. Mais adiante, Aroeira tirava algumas notas de seu sax tenor e solicitava mais volume para o microfone.

O baixista Fernando Barros também pedia mais retorno, quando Paulo Caruso começou a tocar ao piano, em sol menor, “Obama lá e nós aqui”, de sua autoria, cujos versos satirizam George Bush e Barack Obama (o vira-lata do Obama encarou o pitbul de batom / O cão do Bush meteu bronca num repórter de televisão).

            Verissimo, Aroeira e Chico Caruso

— Gostei dessa coisa afro-cubana. Essa música é ideal para tocarmos hoje. Alterna três tons com 18 convenções. Precisaríamos de uns três ensaios para tocá-la, disse Aroeira, provocando gargalhadas.

Sentado em uma das poltronas do teatro, Chico Caruso observava a movimentação do grupo, quando foi convocado:
— Ô Chico, você não faz essa comigo não? Vem cá, vem cá! — exclamava o irmão, referindo-se ao samba de breque “The shoes must go on”.
— Faço questão de tocá-lo hoje à noite, já que acabou de ser condenado o jornalista iraquiano que fez o que todo mundo queria fazer: atirar o sapato no Bush e acertar o alvo! O mais surpreendente não foi a atitude do repórter, mas sim o reflexo do Bush. Tentando entender as motivações de sua reação, fiz esta canção, explicou Paulo Caruso.

Fuso horário

Carregando o seu sax alto, recém-chegado dos Estados Unidos, Luís Fernando Veríssimo, compareceu ao ensaio com ligeiro atraso e logo foi saudado pelos amigos.
— Tá no fuso horário ainda? — perguntou Paulo Caruso.

— Ele ainda está no Blue Note — brincou Aroeira, referindo-se a um dos mais famosos clubes de jazz de Nova York.

— Vamos passar a música do Obama com o Veríssimo, pediu Paulo Caruso a Fernando Barros, que tocava o baixo sentado na poltrona do teatro.
— Ele achou que este conforto ia durar, disparou Aroeira.

Com a formação completa, o Conjunto Nacional executou o repertório do show, que incluiu as músicas “Muda Brasil Tancredo Jazz Band”, “The shoes must go on” e outros standards “para o Veríssimo mostrar seu virtuosismo no sax alto”, gracejou Paulo Caruso.

História

O Conjunto Nacional foi formado em 1985, quando vários artistas do traço e das letras, e que também faziam música, foram convidados para participar do Salão Internacional de Humor de Piracicaba:
— Foi justamente na época em que o Tancredo Neves tinha morrido. Eu estava indo para o evento e pensei que o nome da banda poderia ser “Muda Brasil Tancredo Jazz Band”. Depois disso, continuamos discutindo a realidade política através da sátira musical. Para cada momento do Brasil, após a redemocratização, criamos um tema e utilizamos um determinado gênero musical, sempre de acordo com os personagens que o representasse. A Erundina, por exemplo, inspirou uma valsa; o Collor, um funk; e o Itamar, uma música sertaneja.

O grupo lançou os CDs “Pra seu Governo”, pela Dabliu Discos, e “E La Nave Va…doppo Fellini”, pela Som Livre. As composições, em sua maioria, são assinadas pelos irmãos Caruso:
— Assim como Lennon e McCartney, nós somos Caruso e Caruso, comparou Paulo.

Turnê 

A banda apresenta um espetáculo diferente a cada ano. A música “Aula de inglês com o professor Lula”, é um dos destaques da atual temporada:
— O Lula fez questão de tirar a língua inglesa da formação necessária do Itamaraty, achou que era supérfluo. Então, a gente brinca com isso fazendo uma tradução verso a verso, do inglês para o Lulês, da música “One for my baby and one for the road”, de Frank Sinatra, explica Paulo Caruso, para quem o rótulo de músicos frustrados não se aplica ao grupo:
— Somos devotados ao desenho e ao texto e seria impossível abdicar de uma paixão por outra.

No grupo desde a sua fundação, Veríssimo, que é fã do saxofonista norte-americano Charlie Parker, conta que aprendeu a tocar saxofone ainda na adolescência:
— Desde esse tempo nunca cheguei a me aprofundar em música, a dominar o instrumento. Quero apenas brincar de ser músico.

No dia 12 de junho, no restaurante Cais do Oriente, no Centro do Rio, o Conjunto Nacional estreia “Cabaré Caruso — Onde tudo pode acontecer”, esquete que leva a assinatura de Ricardo Cravo Albim, baseada no roteiro do filme “Casablanca”.
— Vamos introduzir o Obama nessa história e ver no que vai dar. A nossa intenção é que o projeto dê muito dinheiro para a gente poder comprar um cabaré de verdade, anuncia Chico Caruso.