Delator de esquema de espionagem dos EUA pode ser extraditado


Por Cláudia Souza*

10/06/2013


Edward Snowden Foto: "The Guardian"

Edward Snowden Foto: “The Guardian”

Os integrantes republicanos do governo dos Estados Unidos pediram na noite do último domingo, dia 9, a extradição de Edward Snowden, 29 anos, ex-técnico da CIA, que revelou para a imprensa o esquema do monitoramento de dados de telefone e internet feitos ilegalmente pelos serviços de inteligência do país.

Edward Snowden assumiu a autoria do vazamento de informações em entrevista publicada pelo jornal britânico “The Guardian” na tarde do último domingo, 9. Ele entregou ao “The Guardian” e ao “The Washington Post” documentos sigilosos mostrando como a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA obtinha dados sobre clientes de empresas americanas de telefonia e internet.

Snowden está há dez dias em Hong Kong, mas informa que pretende buscar asilo junto ao governo da Islândia, com reputação de apoiar “os que defendem a liberdade na internet”.

Para se exilar na Islândia, contudo, Snowden teria de fazer a solicitação pessoalmente, informou à CNN a embaixadora da Islândia na China, Kristin Arnadottir.

Os EUA e Hong Kong assinaram um tratado de extradição em 1996, um ano antes de a então colônia britânica ser devolvida à China. O acordo permite a troca de suspeitos de cometerem crimes, em um processo formal que pode envolver também o governo chinês. De acordo com o tratado, as autoridades locais podem manter Snowden detido até 60 dias depois que os EUA apresentarem uma solicitação, citando o possível crime cometido, enquanto Washington prepara um pedido formal de extradição.

O chefe do Subcomitê de Segurança Nacional da Casa Branca, o republicano Peter King, pediu o início do processo de extradição do delator “o mais rápido possível”.

“Os Estados Unidos devem deixar claro que nenhum país pode lhe dar asilo. Essa é uma situação que causou uma extraordinária consequência à inteligência americana”.

O porta-voz do Escritório do Diretor Nacional de Inteligência, Shawn Turner, disse que o caso foi entregue ao Departamento de Justiça e que está sendo avaliado o dano causado por Snowden. “Qualquer pessoa que tem um certificado de segurança tem a obrigação de proteger informação confidencial e cumprir a lei”, disse.

Em comunicado, a empresa Booz Allen Hamilton, para a qual Snowden trabalhava, disse que o vazamento é “chocante” e se colocou à disposição das investigações. “Esta ação representa uma grave violação do código de conduta e os maiores valores de nossa empresa”.

Mesmo com o pedido do governo americano, a extradição do delator pode ser rejeitada por Hong Kong. O país e o território chinês terem contratos que permitem o retorno forçado de criminosos, mas há exceções para casos de perseguição política.

Defensores

Enquanto as autoridades americanas ameaçam processá-lo, uma parte da população apoia ex-técnico da CIA. Uma petição circula na internet pedindo que ele seja perdoado. Mais de 20 mil assinaturas foram registradas até o momento.

A ex-procuradora de Justiça Jesselyn Radack disse que este é um dos maiores vazamentos de informações da história americana feito por um só indivíduo. Para ela, o caso pode ser tornar “um divisor de águas que pode mudar a política da guerra contra os delatores e aumentar o conflito pela informação” nos Estados Unidos.

O ex-integrante da Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês) Thomas Drake disse que Snowden foi “extremamente valente e corajoso”.

“É um ato extraordinário de desobediência revelar a Caixa de Pandora do Estado do Leviatã”, disse o ex-agente, que também assumiu o vazamento de diversas informações secretas do governo americano.

*Com O Globo,  Folha de S. Paulo e Agências de Notícias.