Darcy Ribeiro no Cine Macunaíma


28/09/2021


O Macunaíma debate hoje, 28/9, às 19h30, o documentário  O Brasil de Darcy Ribeiro, de Ana Maria Magalhães, com a diretora, o cineasta Sílvio Tendler e convidados. Veja os links para assistir. A diretora venceu o Prêmio Tal TV- Televisión de America Latina, de melhor série documental e que fala sobre a importância do antropólogo para a América Latina. Os episódios são: 1) Origem, formação e antropologia – a questão indígena; 2) Educação; 3) Golpe de 64 e exílio no Uruguai; 4) Volta ao Brasil, prisão e exílio no Peru – socialismo cibernético;5) Volta ao Brasil, Literatura, amor, governo Brizola, Cieps, morte.

Assista nos links a seguir:

1 Origens, formação e antropologia – a questão indígena: https://tvbrasil.ebc.com.br/o-brasil-de-darcy-ribeiro/episodio/o-paraiso-perdido?fbclid=IwAR1j4NchLAdBPZnhJrlnf_3n_LPjEKn32cdMj-yvapPUU2jV0Nhtb485QEs

2 Educação: https://tvbrasil.ebc.com.br/o-brasil-de-darcy-ribeiro/episodio/a-construcao-da-nacao

3 Golpe de 64 e exílio no Uruguai: https://tvbrasil.ebc.com.br/o-brasil-de-darcy-ribeiro/episodio/os-idos-de-marco

4 Volta ao Brasil, prisão e exílio no Peru – socialismo cibernético: https://tvbrasil.ebc.com.br/o-brasil-de-darcy-ribeiro/episodio/havemos-de-amanhecer

5 Volta ao Brasil, Literatura, amor, governo Brizola, Cieps, morte: https://tvbrasil.ebc.com.br/o-brasil-de-darcy-ribeiro/episodio/a-coragem-da-alegria

Ana Maria Magalhães ressalta que problemas apontados por Darcy nos anos 1950 e 1960 ainda não foram resolvidos como a reforma agrária, questões ligadas aos índios e, principalmente, à educação e precisam de  maiores entendimentos. Às 19h30, haverá um debate sobre a obra com os cineastas Silvio Tendler e Ana Maria Magalhães, o presidente do Conselho Executivo da Fundação Darcy Ribeiro José Ronaldo Cunha e a conselheira Gisele Moreira (ex-assessora técnica de Darcy), o crítico e professor de História da Arte Paulo Sergio Duarte e o escritor Carlos Senna. A mediação será do jornalista Ricardo Cota. Assistir o filme e o debate pelo canal da Associação Brasileira de Imprensa do YouTube.

Filme

No documentário sobre Darcy Ribeiro, Ana Maria Magalhães procurou contextualizar o antropólogo historicamente e fazer uma pesquisa profunda.Ela acredita que seja cada vez mais importante ouvir Darcy Ribeiro e ressalta que ele foi um dos grandes pensadores brasileiros, tendo que estar numa série sobre a América Latina, pois viveu um exílio no Peru, no Chile e no Uruguai.  Também passou pela América Latina com uma presença muito forte, pois escreveu livros, reformou universidades e participou do governo Allende.

O antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político mineiro Darcy Ribeiro nasceu Montes Claros em  26 de outubro de 1922 e morreu em Brasília em 17 de fevereiro de 1997. Ficou conhecido por seu foco em relação aos indígenas e à educação no país e pelas suas ideias de identidade com a América Latina que influenciaram vários estudiosos latino-americanos posteriores.

Como Ministro da Educação na presidência de João Goulart realizou profundas reformas, o que o levou a participar de reformas universitárias no Chile, Peru e Uruguai, onde passou seu exílio durante a ditadura brasileira de 1964, além de México e Venezuela. Foi também Vice-Governador do Estado do Rio de Janeiro no governo Leonel Brizola (1983-1987) e Ministro -Chefe da Casa Civil na presidência de João Goulart (18 de junho de 1963 a 2 de abril de 1964 ), além de Senador (de 1991 a 1997).

Darcy foiamigo e admirava Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início da década de 1960, ficando também na história desta instituição por ter sido seu primeiro reitor. Redigiu o projeto, como funcionário do Serviço de Proteção ao Índio, do Parque Indígena do Xingu, criado em 1961e idealizou a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), além de publicar vários livros, muitos deles sobre os povos indígenas.

Durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ribeiro, como vice-governador, criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEPs), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal – dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio. Nas eleições de 1986, Darcy foi candidato ao governo fluminense pelo PDT, mas foi derrotado nas urnas por Moreira Franco.

Criador do projeto cultural do Memorial da América Latina, centro cultural, político e de lazer, inaugurado  em 1989, na Barra Funda, em São Paulo, foi também responsável pelo projeto de lei que deu origem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira.

Exerceu o mandato de senador pelo Rio de Janeiro de 1991 até sua morte em 1997 – anunciada por um lento processo canceroso que comoveu o Brasil. Darcy, sempre polêmico e ardoroso defensor de suas ideias, teve, em sua longa agonia, o reconhecimento e admiração até dos adversários. Publicou O Povo Brasileiro em 1995, obra em que aborda a formação histórica, étnica e cultural do povo brasileiro, com impressões baseadas nas experiências de sua vida.

A implantação de uma universidade pública já era um sonho antigo da população de Campos dos Goytacazes (RJ) quando uma mobilização da sociedade organizada conseguiu incluir na Constituição Estadual de 1989 uma emenda popular prevendo a criação da Universidade Estadual do Norte Fluminense.  Após um intenso esforço coletivo de sensibilização das autoridades, finalmente foi aprovada pela Assembleia Legislativa a lei de criação da UENF.Com a eleição de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio de Janeiro e sua posse em 1991, o projeto da UENF ganhou novos rumos.

Cumprindo compromisso de campanha assumido em Campos (RJ), Leonel Brizola pôs em execução a implantação da UENF,  delegando ao professor Darcy Ribeiro a tarefa de conceber o modelo e coordenar a implantação. Darcy fora o criador e o primeiro reitor da Universidade de Brasília (UnB) e autor de projetos de instauração ou reforma de universidades na Costa Rica, Argélia, Uruguai, Venezuela e Peru.

Ao receber a missão de fundar a UENF, Darcy se impôs o desafio de fazer da nova universidade o seu melhor projeto. Concebeu um modelo inovador, onde os departamentos – que, na UnB, já tinham representado um avanço ao substituir as cátedras – dariam lugar a laboratórios temáticos e multidisciplinares como célula da vida acadêmica. Cercou-se de pensadores e pesquisadores renomados para elaborar o projeto da UENF e apresentou-a como a ‘Universidade do Terceiro Milênio’. Previu a presença da UENF em Macaé (RJ), onde viriam a ser implantados os Laboratórios de Engenharia e Exploração do Petróleo (Lenep) e de Meteorologia (Lamet).

As marcas da originalidade e de ousadia que Darcy imprimiu a seu último grande projeto de universidade se tornaram visíveis. A UENF foi a primeira universidade brasileira onde todos os professores têm doutorado. A ênfase na pesquisa e na pós-graduação, sem paralelo na história da universidade brasileira, faz da UENF uma universidade para formar cientistas. Ao conquistar a autonomia, a instituição incorpora na prática o nome do seu fundador, passando a se chamar Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

Reflexões

As ideias de Darcy Ribeiro pertenciam à escola evolucionista de sociologia e antropologia. Ele acreditava que os povos passavam por um “processo civilizatório”, começando como caçadores-coletores. Este “processo civilizatório” teria sido marcado por revoluções tecnológicas e, entre elas, Darcy enfatizou as oito mais importantes: agrícola, urbana, irrigação, metalúrgica, pecuária,, mercantil, revolução industrial e a termonuclear. Ribeiro propôs também um esquema de classificação para os países americanos onde identificou “Novos Povos” (Chile, Colômbia, Paraguai, Venezuela) que se fundiram da mistura de várias culturas; “Povos Testemunha” (Peru, México, Equador, Guatemala e Bolívia), restos de civilizações antigas; e Argentina e Uruguai, antigos “Novos Povos” que se tornaram “Povos Transplantados”, essencialmente europeus, após imigração maciça. Entre os Povos Transplantados estão também os Estados Unidos e Canadá.

Academia Brasileira de Letras

Darcy Ribeiro foi eleito em 8 de outubro de 1992 para a cadeira 11, que tem por patrono Fagundes Varela, sendo recebido em 15 de abril de 1993 por Cândido Mendes.Em seu discurso de posse, deixou registrado:

Confesso que me dá certo tremor d’alma o pensamento inevitável de que, com uns meses, uns anos mais, algum sucessor meu, também vergando nossa veste talar, aqui estará, hirto, no cumprimento do mesmo rito para me recordar. Vendo projetivamente a fila infindável deles, que se sucederão, me louvando, até o fim do mundo, antecipo aqui meu agradecimento a todos. Muito obrigado. Estou certo de que alguém, neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade.

Obras

Com obras traduzidas para o inglês, o alemão, o espanhol, o francês, o italiano, o hebraico, o húngaro e o checo, Darcy Ribeiro figura entre os mais notórios intelectuais brasileiros. Divididas tematicamente, foram elas:

Etnologia: Culturas e línguas indígenas do Brasil – 1957; Arte plumária dos índios Kaapo – 1957; A política indigenista brasileira – 1962; Os índios e a civilização – 1970; Uira sai, à procura de Deus – 1974;

Configurações histórico-culturais dos povos americanos – 1975; Suma etnológica brasileira – 1986 (colaboração; três volumes); Diários índios – os urubus-kaapor – 1996, Companhia das Letras.

Antropologia: O processo civilizatório – etapas da evolução sócio-cultural – 1968; As Américas e a civilização – processo de formação e causas do desenvolvimento cultural desigual dos povos americanos – 1970; O dilema da América Latina – estruturas do poder e forças insurgentes– 1978; Os brasileiros – teoria do Brasil – 1972; Os índios e a civilização – a integração das populações indígenas no Brasil moderno – 1970; The culture – historical configurations of the American peoples – 1970 (edição brasileira em 1975); O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil – 1995.

Romances: Maíra – 1976; O mulo – 1981; Utopia selvagem – 1982; Migo – 1988

Ensaios: Kadiwéu – ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza – 1950; Configurações histórico-culturais dos povos americanos – 1975; Sobre o óbvio – ensaios insólitos – 1979; Aos trancos e barrancos – como o Brasil deu no que deu – 1985; América Latina: a pátria grande – 1986; Testemunho – 1990; A fundação do Brasil – 1500/1700 – 1992 (colaboração); O Brasil como problema – 1995; Noções de coisas – 1995

Educação: Plano orientador da Universidade de Brasília – 1962;  A universidade necessária – 1969; Propuestas – acerca da la renovación – 1970; Université des Sciences Humaines d’Alger – 1972; La universidad peruana – 1974; UnB – invenção e descaminho – 1978; Nossa escola é uma calamidade – 1984; Universidade do terceiro milênio – plano orientador da Universidade Estadual do Norte Fluminense – 1993.

Homenagens: o principal campus da Universidade de Brasília tem o nome Campus Darcy Ribeiro; a Universidade Estadual do Norte Fluminense se chama oficialmente “Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro”; a Usina de Biodiesel da Petrobras Biocombustível, em Montes Claros, se chama “Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro”;  é o patrono da Cadeira 28 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros;  foi agraciado, em 1996, com o Prêmio Anísio Teixeira; o Sambódromo do Rio de Janeiro tem oficialmente o nome de “Passarela Professor Darcy Ribeiro”;  o edifício sede da Controladoria-Geral da União em Brasília, chama-se oficialmente Edifício Darcy Ribeiro;  um dos espaços culturais do Memorial da América Latina chama-se “Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro”; em 2005, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural;  no carnaval 2020, a Império da Uva, situada em Nova Iguaçu e desfilando no Carnaval Carioca, teve Darcy Ribeiro como seu enredo.

Biografias: Toninho Vaz: Darcy Ribeiro – Nomes que honram o Senado. Ed. Senado, 2005; BRITO, Carolina Arouca Gomes de. Antropologia de um jovem disciplinado: a trajetória de Darcy Ribeiro no serviço de proteção aos índios (1947-1956). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2017. 240 f.; em 2014, a TV Brasil lançou um documentário com cinco episódios de 52 minutos denominado “O Brasil de Darcy Ribeiro”, dirigido por Ana Maria Magalhães.

Diretora

Ana Maria Magalhães, além de cineasta, é também atriz, produtora de cinema e roteirista brasileira. Foi casada com o cineasta Nelson Pereira dos Santos com quem teve um filho e com o cineasta Gustavo Dahl com quem teve dois filhos. Em 1967, estreou como atriz de teatro profissionalmente no Grupo Oficina. Foi atriz de filmes de diretores famosos como Nelson Pereira dos Santos, Carlos Diegues, Gustavo Dahl, Antonio Calmon, Hector Babenco, Neville D’Almeida. Uma de suas atuações mais marcantes foi contracenando com Tarcísio Meira em A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha. Nos anos 2000, trabalhou no filme O Estranho Caso de Angélica (2010), do aclamado diretor português Manoel de Oliveira, selecionado para a mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2010.  Atuou também em novelas de TV como Gabriela (1975), e Saramandaia (1976) da Rede Globo.

Uma das mais atuantes atrizes do cinema brasileiro na década de 70, tornou-se diretora de curtas e longas-metragens nos anos 80.Como diretora, seu primeiro filme foi Mulheres no Cinema (1977), documentário m 16mm sobre as mulheres cineastas do Brasil. No início dos anos 80, dirigiu o documentário sobre Leila Diniz Já que ninguém me tira para dançar (1982) que se tornou o primeiro vídeo com produção independente a ser exibido pela televisão brasileira.

Dirigiu ainda curtas, como Assaltaram a gramática (1984); Spray Jet (1985); O mergulhador (1985), O bebê (1986) e o média-metragem Mangueira do amanhã (1992). Sua estreia como diretora no longa-metragem aconteceu com o episódio Final Call, para a produção internacional Erotique (1994).Em 2002 lançou o longa-metragem Lara, sobre a atriz Odete Lara. Em 2009 dirigiu Reidy, a construção da utopia, premiado no Int’l Rio de Janeiro Film Festival como Melhor Documentário de Longa-Metragem e em Portugal no Cine Eco Seia – Prêmio Pólis, em 2010.Dirigiu a série em cinco episódios O Brasil de Darcy Ribeiro (2014) que recebeu o prêmio de Melhor Série Documental pela TAL TV – Televisión de America Latina em 2014.

Algumas Premiações: atriz revelação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1972); em 1975, arrebatou o Kikito de melhor atriz por sua atuação em Uirá, um Índio em Busca de Deus, de Gustavo Dahl.); melhor direção no I Festival Nacional de Caxambu (1984) com Assaltaram a gramática; melhor direção no II Festival Nacional de Caxambu (1985) com Spray Jet; Prêmio do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (1987) com o vídeo Já Que Ninguém Me Tira pra Dançar; Prêmio especial do júri do Festival de Cinema de Brasília com O bebê (1987); Menção Honrosa (Margarida de Prata) pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por Mangueira do Amanhã; Melhor Documentário de Longa-Metragem do Int’l Rio de Janeiro Film Festival (2009) por Reidy, a construção da utopia;  Prêmio Pólis do Cine Eco Seia, Portugal (2010), com Reidy, a construção da utopia;Melhor Série Documental pela TAL TV – Televisión de America Latina (2014) com O Brasil de Darcy Ribeiro.