Criação sem criador


13/09/2010


A fé e as demonstrações matemáticas são
coisas inconciliáveis”. Dostoievsky (Diário 1821/1881)
 
 
                                                                                   
Sob o título acima, O Globo de 3 de setembro corrente fez publicar em seu caderno Ciência (páginas 34) a matéria referente ao assunto, ou seja a afirmação de Sthepen Hawking, considerado um dos maiores pensadores  da ciência contemporânea, contestando afirmação de Isaac Newton de que “a existência do Cosmo demanda a de Deus, pois não seria possível que sua estrutura ordenada tivesse vindo do caos”, dizendo  ainda: “Não é necessário invocar Deus para acender o pavio e colocar o Universo em movimento”.

A nova posição de Hawking, conforme esclarece a matéria, contrasta com o que ele próprio sustentara há mais de duas décadas, de que a existência de um Criador não era incompatível com a ciência.

 
Preferimos nos conciliar com a fé e em face a isso, aguardar para lermos e conjeturarmos a respeito do novo livro de Hawking, The grand design que O Globo informa deveria ser lançado na Inglaterra em 9 do corrente, não havendo, porém, previsão de sua chegada ao Brasil.
 
Ao nos situarmos sobre o momentoso assunto, que envolve considerações de grandes naturalistas, evidentemente que não podemos  esquecer  das teorias de Darwin, as quais foram,  na época, em razão da sua cultura, aliada à sua exemplar humildade, julgadas por ele  como transitórias e assim se expressara  ele em uma das suas citações a respeito de A origem das Espécies: “Embora eu esteja completamente convencido da verdade das idéias expostas neste livro, de modo nenhum desejo convencer os naturalistas cujas mentes estão abastecidas com uma multidão de fatos, todos encarados durante longos anos de um ponto de vista diretamente oposto ao meu”.

E já prevendo o futuro de novas concepções, Darwin, citando Herbert Spencer (1820-1903) filósofo inglês, cujo princípio era o evolucionismo na humanidade, conclui, como aquele, que “a aquisição necessária de cada poder e capacidade mental é feita gradualmente. Acreditava Darwin que “muita luz será lançada sobre a origem do homem e sua História”.

 
Considerando, ainda, que seus estudos poderiam dar margem a qualquer censura em termos de idolatria, declarou Darwin: “Não vejo nenhum motivo para que as idéias aqui expostas neste livro se choquem com a religiosidade de quem quer que seja.”
 
Em face do que sabemos em torno dos grandes naturalistas, cremos que vale a pena lembrarmos ainda de um axioma sempre usado por Darwin quando nos seus momentos de preocupação: “Aprendi a não fazer nenhum caso de opiniões a que faltem os fundamentos dos fatos.”
 
Aguardemos que nos chegue o novo livro de Stephen Hawking  de que falou O Globo, a fim de que possamos  nos aprofundar sobre essa questão do Cosmos , eis que já não nos atrai  falar  ou escrever sobre a política atual  que invade os nossos lares, contra a qual nada a fazer, ao que julgamos; todavia, vale a pena nos valermos da teoria de Sigmund Freud ( Mark  Edmundson, A morte de Freud,  página 98) para darmos  mais um pouco de atenção aos ângulos do ego e superego da maioria inculta do povo brasileiro.
 
Ao considerarmos e isso é por demais relevante, as atuais condições dos nossos eleitores em termos de ego, o que os leva, por insuficiência  de  conscientização, à deriva dos seus atos sócio-políticos, lamentamos o fato.
 
Em troca de pseudo-favores, baseados em uma política assistencialista que obedece a um pragmatismo de fachada, tais “enganos” se perdem no tempo, engolfados que estarão, em seqüência a outros planos e projetos mirabolantes, tão próprios de uma política inconseqüente e nefasta aos destinos do País.
 
Como já dissemos em parágrafo anterior, não tentaremos dirigir doravante nossos pensamentos para outros assuntos, senão àqueles que possam nos cativar e aos nossos leitores, sem que preciso seja nos determos em problemas que atingem nossa alma, sem que nada possamos fazer para dirimi-los.
 
Considerando que, entretanto, a nossa  mente  é palco de nossas emoções e o nosso intelecto se dispõe sempre a transmudá-las, que continuemos  a buscar assuntos  que possam ser ditos e escritos, manifestando-nos sobre os mesmos em pleno exercício do direito de expressão que nos garante a nossa Constituição.
 
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* Bernardino Capell Ferreira é jornalista, sócio da ABI e sócio efetivo do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.