CPJ repudia ações contra a imprensa na Venezuela


22/02/2017


Presidente Nicolás Maduro. Foto: Agência Brasil

Presidente Nicolás Maduro. Foto: Agência Brasil

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) criticou as últimas ações do presidente venezuelano Nicolás Maduro contra a imprensa estrangeira. O repúdio visa a série de táticas para restringir o trabalho da mídia independente. Recentemente, dois jornalistas brasileiros que investigavam uma rede de corrupção continental foram detidos na Venezuela. Separadamente, Maduro anunciou em comício que queria a CNN fora do país e acusou a rede de espalhar “notícias falsas” sobre o seu governo.

“A mídia internacional deve ser capaz de cobrir questões de interesse público e informar sobre temas sensíveis sem temer represálias e perseguição por parte das autoridades”, declarou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, de Nova Iorque. “Pedimos ao governo do Presidente Maduro para por fim a prática sistemática de obstruir a cobertura informativa e deixar de interferir no trabalho da imprensa”.

O Portal Comunique-se destacou que o repórter Leandro Stoliar e o câmera Gilson Fred Oliveira, da TV Record, chegaram em São Paulo após serem liberados pela polícia venezuelana. Eles foram presos em Maracaibo por volta de meio-dia de 11 de fevereiro durante reportagem sobre a ponte Nigale, de 11.8 km sobre o lago Maracaibo cuja construção está sob responsabilidade da Odebrecht.

Funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) detiveram os brasileiros, pegaram suas digitais e os interrogaram, segundo os jornalistas. Eles foram escoltados de volta ao hotel por volta de 1h15 da manhã de 12 de fevereiro e mantidos sob vigilância até às 8h, quando foram levados de volta para a sede do Sebin.

Na mesma noite, a polícia venezuelana conduziu os dois profissionais de Maracaibo com destino à capital, de onde foram escoltados até um voo para o Brasil, segundo representante da TV Record contou ao CPJ. A polícia confiscou o equipamento em que as imagens e as entrevistas foram gravadas.

“Assédio, aprisionamento, ausência de comunicação, a polícia nos seguia mesmo ao banheiro”, disse Stoliar ao site da emissora. “Nos trataram como criminosos quando a verdade é que nós estávamos apenas fazendo nosso trabalho. Nós voltamos para casa com as roupas que estávamos e uma mochila que conseguimos manter”.

A Venezuela tem adotado posição cada vez mais hostil contra repórteres estrangeiros nos últimos meses e proibiu a entrada de vários jornalistas, segundo dados do CPJ. O correspondente da ABC News, Matt Gutman, foi detido em outubro junto com um cinegrafista e um médico venezuelano que os havia acompanhado durante reportagem sobre a crise do sistema de saúde nacional. Aitor Saez, correspondente espanhol da Deutsche Welle (DW), foi deportado à Colômbia no dia 22 de janeiro. O jornalista havia chegado ao país para cobrir protestos da oposição.

As ações contra jornalistas estrangeiros ocorrem em meio a ofensiva contra a oposição, em momentos em que o governo de Maduro enfrenta crescente mal-estar perante a escassez generalizada de alimentos e uma inflação de três dígitos.