Coronel Jacarandá admite ter torturado no DOI-Codi


Por Cláudia Souza*

14/08/2013


Jacarandá menor cortado

O coronel Walter Jacarandá, da reserva do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, admitiu nesta quarta-feira, 14, ter participado de sessões de tortura no Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi, do 1º Exército do Rio em 1970. Ele prestou depoimento às Comissões Estadual e Nacional da Verdade na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj).

Jacarandá disse que integrava um grupo de operações especiais subordinado ao DOI-Codi, e que participou de sessões em que presos políticos eram submetidos a choques elétricos, espancamentos afogamentos e outras formas de tortura.

O coronel da reserva contou que entrou na repressão aos grupos políticos de contestação ao regime militar “por aventura”. E que considera ter participado de “uma guerra” a “um movimento contra-revolucionário”.

Questionado sobre a morte do jornalista Mário Alves em janeiro de 1970, sob tortura no DOI-Codi, Jacarandá, inicialmente, falou em excessos. Posteriormente, admitiu que “o excesso é a tortura e a tortura é o excesso”. Ele negou ter participado da morte de Alves, que era dirigente do clandestino PCBR.

O depoente citou os oficiais da reserva Duleme Garcez (tenente e à época comandante do Pelotão de Investigações Criminais), Luiz Mário Correia Lima (tenente) e Roberto Duque Estrada (tenente) como companheiros de atuação no DOI-Codi. Os três também foram convocados pelas comissões, mas enviaram petição, por meio de advogado, argumentando que já respondem pelos fatos investigados no Ministério Público Federal e na Justiça Federal.

Os membros das comissões disseram que os ausentes serão chamados para nova sessão. Se faltarem, poderão ser trazidos com auxílio de força policial.

Participaram como testemunhas o jornalista Alvaro Caldas membro da Comissão Estadual da Verdade ,que leu depoimento feito em 1979 por outros presos políticos, entre eles, Antonio Carlos de Carvalho, Raimundo Teixeira José Carlos Tortima, Paulo Sergio Paranhos. Além das testemunhas, compareceram ao evento Rosa Cardoso, presidente da Comissão Nacional da Verdade, Wadih Damous, da Comissão Estadual da Verdade, e Lucia Vieira, filha de Mario Ales, que deu um depoimento emocionado.

Um grupo de manifestantes iniciou protesto exibindo  faixas pedindo punição para os torturadores, mas foram reprimidos pela segurança. O deputado Gilberto Palmares foi obrigado a intervir para evitar que o conflito se generalizasse.

Partido Comunista

Mario Alves de Souza era dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário –PCBR  tendo saído do Partido Comunista Brasileiro-PCB, que não adotava  a luta armada  como forma de resistência ao governo militar. O PCBR,  fundado em 1968 em um sitio no interior do Estado do Rio, pregava uma revolução popular que destruiria o Estado burguês associado a uma ditadura militar, para ser formado um governo popular revolucionário.

*Com informações da Agência Estado/ Wilson Tosta, e Alcyr Cavalcanti.

Lúcia Vieira, filha de Mário Alves, em depoimento na Alerj (Foto: Alcyr Cavalcanti)

Lúcia Vieira, filha de Mário Alves, em depoimento na Alerj (Foto: Alcyr Cavalcanti)