Cobiça da Amazônia no Macunaíma


25/10/2021


 

Idade da Água mostra cobiça da Amazônia

O Cineclube Macunaíma exibe “Idade da Água“(2018), de Orlando Senna, amanhã, a partir das 10h. O premiado documentário de 82 minutos traz um alerta sobre a questão da falta de água no planeta e fatos sobre a cobiça internacional da Amazônia, o maior reservatório de água doce do planeta. Estão no elenco, a cantora Gaby Amarantos, a atriz Dira Paes, o ator Pedro Dix, e traz na trilha sonora o clássico “Uirapuru”, de Heitor Villas-Lobos.

O longa-metragem documental é uma referência à “A Idade da Terra”, de Glauber Rocha, produzido por Hermes Leal e ganhou o prêmio principal de Melhor Filme da mostra competitiva oficial do Festival Internacional de Cine del Agua, em El Calafate, na cidade de Santa Cruz, na Argentina. No debate, às 19h30, estão o diretor Orlando Senna, o cineasta Silvio Tendler, o produtor Hermes Leal, a cineasta paraense Jorane Castro e o crítico Rodrigo Fonseca. O jornalista Ricardo Cotta faz a mediação.

Filme

Filmado no final de 2017 e início de 2018, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, em Belém, no Pará, São Paulo e Rio de Janeiro, o filme trata da cobiça internacional pela Amazônia, por tentativas de ocupação de outros países ou para torná-la independente do Brasil. É um alerta global sobre a escassez de água doce no planeta e as raízes de uma possível “guerra da água”. Idade da Água conta com a participação especial de Dira Paes e Gaby Amarantos, além de depoimentos de populações ribeirinhas da Amazônia, lideranças indígenas e representantes de países latino-americanos que compõem a Amazônia, que são intercalados por reconstituições de alguns fatos históricos como pronunciamentos de dirigentes europeus e norte-americanos querendo que a Amazônia seja um território internacional.

O júri do Festival Internacional de Cine del Agua, na Argentina, onde Idade da Água ganhou o prêmio principal de Melhor filme da mostra competitiva oficial, foi composto por Martín Ferrari, vice-reitor da ENERC em Neuquén, Inés Olmedo, diretora de arte do Uruguai, e Marco Santuário, jornalista e programador do Festival de Gramado, que reforçaram a escolha do d0cumentário em mensagem virtual. Dizem que o primeiro prêmio foi para o longa documental “La Edad del Agua”, de Orlando Senna, porque “reúne profundidade e difusão de conceitos fundamentais para a tomada de consciência deste problema da água e porque se articula com enorme precisão e riqueza de recursos puramente cinematográficos, razão pela qual constitui um exemplo de como abordar esse tema a partir do cinema para se conscientizar”.

Do Brasil, Senna enviou suas palavras de agradecimento ao festival: “Se um recurso natural como a água potável está desaparecendo paulatinamente, nós enfrentamos a ameaça de extinção da espécie humana. Não há vida humana sem água potável, e a situação, sem dúvida, se encaminha para conflitos gigantescos, os maiores que se tenham produzido na Terra. Nosso planeta, tal como o conhecemos, deixará de existir. Evitar essa grande tragédia é uma missão e um compromisso dos seres humanos, de cada um de nós. Estou muito agradecido e emocionado de receber este prêmio no 1º Festival Internacional de Cine del Agua. Viva a vida.”

“Idade da Água” foi lançado em 2018 no canal de TV por assinatura CineBrasilTV e no seu streaming CineBrasilJá. Estreou no circuito de festivais no 51º Cine Viña del Mar (2018), no Chile, tendo participado de vários outros festivais internacionais – 40º Festival de Havana (Cuba, 2018), 9º Cine Político (Argentina, 2019) e 14º El Ojo Cojo (Espanha, 2019). No Brasil, o longa participou da 8ª Mostra Ecofalante (2019), 5º Amazônia Doc (2019), 23º FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul (2019), 6º Planeta.Doc (2019), 17º Cineamazônia (2020), 2º Festival de Cinema de Alter do Chão (2020) e 1º Facine – Festival de Cinema Ambiental da Chapada Diamantina (2021).

Diretor

Após realizar filmes icônicos, como “Iracema – Uma Transa Amazônica” (codireção com Jorge Bodanzky, 1974), “Idade da Água” (“Edad del Agua”) marca o retorno do cineasta, documentarista e roteirista baiano Orlando Senna, de 81 anos, na direção. Em parceria com Hermes Leal e a HL Filmes, ele lançou também, em 2019, o longa documental “Sol da Bahia”, uma homenagem do cineasta à sua terra natal e à Guerra da Independência da Bahia.

Nascido em Afrânio Peixoto em 1940, ele estreou no cinema como assistente de Roberto Pires em Tocaia no asfalto (1962). Antes, participou ativamente da vida cultural de Salvador, na Escola de Teatro da Bahia, no Centro Popular de Cultura e escrevendo críticas de cinema e dirigindo teatro. Mudou-se para o Rio de Janeiro no fim dos anos 1960, quando realizou seu primeiro longa-metragem, A construção da morte (1969). Associado a Jorge Bodanzky fez uma mistura de reportagem e ficção em Iracema, uma transa amazônica (1974) e em Gitirana (1976), antes de realizar Diamante bruto (1977).

 

Escreveu também roteiros para Hector Babenco (O rei da noite, 1975), Geraldo Sarno (Coronel Delmiro Gouveia, 1977) e Ruy Guerra (Ópera do malandro, 1985). Em 1988, em codireção com o cubano Santiago Alvarez fez o documentário BrasCuba e, no início dos anos 1990, iniciou longa temporada em Cuba, trabalhando como professor e diretor da Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños.

 

Depois de uma temporada em Fortaleza como professor do Instituto Dragão do Mar, foi subsecretário de Audiovisual da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, no governo Benedita da Silva. Mais recentemente, fez consultoria de roteiro do filme Glauber, o filme – Labirinto do Brasil (2004), de Silvio Tendler. Em 2003, assumiu o posto de Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura e em 2007, o de diretor geral da Empresa Brasil de Comunicação, coordenando o desenvolvimento da TV Brasil, o novo canal de televisão pública do país, cargo que deixou em junho de 2008.

 

Orlando Senna esteve envolvido em praticamente todos os movimentos culturais das quatro últimas décadas, desde o Cinema Novo até a assim chamada Retomada, passando pelo Cinema Marginal e pelo Tropicalismo. Essa trajetória impressionante é narrada pelo próprio Senna, em depoimento ao escritor, documentarista e diretor de TV Hermes leal, em O Homem da Montanha.No livro, estão, por exemplo, os percalços pelos quais o cineasta passou com a Ditadura Militar por conta de filmes como Iracema – Uma Transa Amazônica e Gitirana, co-dirigidos por Jorge Bodansky, nos quais é ignorada a fronteira entre ficção e documentário para uma melhor imersão na realidade brasileira à época da repressão.

A história narrada em O Homem da Montanha é épica, iniciada no interior da Bahia e que se espalha pelo Brasil e pelo mundo, cheia de coadjuvantes de peso (Glauber Rocha, Jorge Amado, Gabriel Garcia Márquez, Darcy Ribeiro e outros) e de lances dignos de filmes de suspense. Filmografia de Orlando Senna: 2018 – Idade da Água; 1987 – Bras Cubas; 1977- Diamante Bruto; 1976 – Gitirana; 1974 – IracemaUma transa Amazônica; 1969 – A

Convidados

A roteirista e diretora Jorane de Castro, nasceu em Belém (Brasil), dirigiu mais de 20 filmes, entre documentários e ficções, e tem se destacado em festivais no Brasil e no exterior. Criou a produtora Cabocla Filmes, em 2000, para desenvolver projetos audiovisuais que propõem um novo olhar sobre a Amazônia.

O produtor Hermes Leal é PhD em Narrativa de Ficção,  escritor com sete livros publicados, explorador e documentarista. É também ornalista, Mestre em Cinema, com especialização em Roteiro pela ECA/USP, e Doutor em Letras, com especialização em Linguística e Semiótica das Paixões, pela FFLCH/USP.

Formado pela UFRJ, Rodrigo Fonseca é crítico de cinema e roteirista. Escreveu séries e programas na TV Globo, entre os quais Os Trapalhões. Publicou sete livros sobre audiovisual e o romance Como era triste a chinesa de Godard.