Cláudio Fonteles anuncia saída da CNV


17/06/2013


O ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles afirmou nesta terça-feira,18, que deixou a Comissão Nacional da Verdade. Ele negou divergências com o governo ou com membros da comissão e disse que renunciou porque completou “um ciclo”. Segundo Fonteles, a decisão é “irrevogável”.

— Considerei que meu trabalho na Comissão da Verdade cumpriu-se, chegou ao fim. Então, entendi, por razões absolutamente pessoais, que era o tempo de encerrar. Tudo na vida tem seu tempo, acho que foi meu tempo.

Cláudio Fonteles coordenou a comissão entre setembro de 2012 e fevereiro de 2013, segundo a assessoria do órgão. Rosa Cardoso é a atual coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, que, na manhã desta terça-feira,18, em conjunto com a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, tomou depoimentos dos militares Ivan Proença e Bolívar Meirelles, Ferro Costa, Antônio Duarte e Oswaldo Araújo, no auditório da Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro (Caarj), localizado ao lado do prédio da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ).

O coronel Ivan Proença foi o oficial que, no comando de uma tropa de elite, a dos Dragões da Independência, impediu que, no dia 1º de abril de 1964, um grupo de paramilitares invadisse o Centro Acadêmico Cândido de Oliveira – Caco, da UFRJ, onde estavam concentrados os estudantes de Filosofia e de Direito que articulavam a resistência ao golpe.

De acordo com Proença, os militares estavam com metralhadoras e revólveres no portão da universidade, aguardando os estudantes saírem.

— Os militares golpistas iam fuzilar esses jovens. Pedi para baixarem as armas. Entrei na faculdade e escoltei os estudantes. Alguns estavam passando mal por causa do gás lacrimogêneo que dispararam lá dentro. Quebramos as janelas para eles respirarem e tiramos todos de lá. Em razão disso, fui para isolamento e tive os direitos cassados. Prestei diversos concursos, passei em primeiro lugar, mas não me chamaram para nenhum. Minha mulher foi proibida de lecionar. A lei foi feita por eles, pelos torturadores. É preciso que haja uma modificação, afirmou Proença.

O coronel Bolívar Meirelles Meirelles foi um dos primeiros militares cassados. Durante o golpe de 1964, servia em Goiânia na patente tenente.

— Me recusei a acatar ordens do então Presidente Castello Branco para a prática de torturas no 10º Batalhão de Caçadores de Goiás, em 1964. As torturas ali eram comandadas principalmente pelo coronel Danilo de Sá da Cunha Melo. Tenho o direito de ser de esquerda, da mesma maneira que o Jarbas Passarinho se dá o direito de ser fascista. A tortura é um crime comum. Tem que ir para a cadeia, disse o coronel.

Foto: Alcyr Cavalcanti

 

*Com informações da Folha de S. Paulo, Última Instância, O Globo.