Cidadania planetária no Le Monde Diplomatique


15/02/2008


Seguindo o rastro das publicações irmãs feitas em mais de 30 países, o Le Monde Diplomatique Brasil pavimenta de vez sua expansão no mercado nacional. O suplemento, lançado em agosto do ano passado no País, já tem tiragem mensal de 40 mil exemplares e começa 2008 com uma média de vendas de 12 mil unidades, número considerado muito bom, especialmente porque não houve qualquer publicidade do novo veículo.

Na Argentina, por exemplo, onde há nove anos os leitores são brindados com edições mensais do Le Monde Diplomatique, as vendas hoje atingem, em média, 20 mil exemplares, depois do pico de 24 mil durante o auge da crise econômica sofrida pelo país vizinho, cerca de seis anos atrás.

O Le Monde Diplomatique é publicado hoje em quatro continentes (Europa, América, Ásia e África) e tem 36 edições mensais impressas, perfazendo uma tiragem total de 1,5 milhão de exemplares, fora as 33 edições eletrônicas:
— Não precisamos fazer nenhuma pesquisa de viabilidade econômica. Tínhamos uma clara percepção de que havia um mercado potencial para este tipo de publicação, destinada a atender formadores de opinião, como intelectuais, doutores, mestres e alunos de pós-graduação, fora pensadores sociais e jornalistas — diz o editor do Le Monde Diplomatique Brasil, José Tadeu Arantes, que tem 30 anos de profissão.

Autonomia

Publicado mensalmente, o Le Monde Diplomatique era originalmente encartado no diário francês Le Monde, até tornar-se autônomo da empresa-mãe e ganhar o mundo, com uma linha editorial exclusiva:
— Não há influência do Le Monde na linha editorial do Le Monde Diplomatique — explica Arantes.

No Brasil, a publicação repete a fórmula consagrada nos demais países onde ganhou versão própria. Ou seja, 70% de seu conteúdo são traduções das edições do Le Monde Diplomatique francês e os outros 30% ficam a cargo de colaboradores de notório saber residentes em cada país. E os temas abordados, segundo o editor brasileiro, incluem as grandes questões políticas, geopolíticas, sociais, econômicas, culturais e filosóficas:
— O objetivo é oferecer matérias analíticas aos leitores. Para tanto, as pautas são encomendadas com bastante antecedência, em média dois meses antes da futura edição, para que nossos colaboradores tenham tempo suficiente de esgotar os temas propostos na edição local.

Ele confirma que a publicação teve uma acolhida muito promissora no mercado brasileiro, com 8 mil bancas vendendo o periódico em território nacional. Em seu entendimento, a publicação aproveita-se de um vácuo editorial que havia no País:
— De fato, não há nada equivalente por aí. O que mais se aproxima é a revista Caros Amigos, mas as propostas são bem diferentes.

Originalidade

Em conseqüência de sua originalidade, ele acredita que são muito positivas as perspectivas da publicação.
— Podemos dizer que ainda estamos numa fase de implantação do veículo. Mas o bom desempenho obtido até aqui não deixa dúvidas de que ele vai se consolidar no mercado nacional.

Do ponto de vista ideológico, a edição brasileira segue também o movimento de uma cidadania planetária perseguida pelo “DNA francês”:.
— A idéia é de se bater muito em prol da ampliação da democracia, capaz de acolher as múltiplas e contraditórias reivindicações da sociedade. A meta é debater uma sociedade mais eqüitativa, com mais liberdade — explica o jornalista.

No editorial de estréia do Le Monde Diplomatique Brasil, Arantes escreve que o Brasil não tem a tradição de olhar de forma abrangente a conjuntura global. Menos ainda, acrescenta, se consolidou entre nós uma visão alternativa ao enfoque da grande mídia norte-americana, cuja credibilidade ficou seriamente abalada com a cobertura da guerra do Iraque — “nosso jornal pretende estimular reflexões profundas a partir da construção de uma visão multilateral da cena planetária”.

Daí a seleção rica de temas das edições, que inclui a participação feminina nos movimentos agrários e os efeitos de séculos de escravidão no continente africano, fora os cadernos da América Latina. 

Apesar da predominância de reportagens da edição francesa, Arantes afirma que existe um esforço em apresentar como matéria de capa um tema instigante da realidade nacional, como as questões ambientais, econômicas, políticas, culturais e, sobretudo, sociais:
— Nem sempre é possível ter uma matéria de capa com temas específicos do Brasil. Em contrapartida, tendo em vista a parceria com a redação Argentina do Le Monde Diplomatique, é possível dispor de algum tema ligado à América Latina.
Diferencial

Um plantel de colaboradores é outro diferencial da publicação. Boa parte deles faz parte do Conselho Editorial do jornal, o que é importante para a variedade de assuntos apresentados aos leitores — “contamos com nomes respeitáveis do cenário intelectual, artístico, científico e político brasileiro”, assinala Arantes. Esta característica é um salvo-conduto para que, depois de assinaturas e vendas em banca, a publicação passe a buscar maior respaldo publicitário.

A idéia de lançar a edição brasileira do Le Monde Diplomatique reuniu as forças de duas instituições: o Instituto Polis, responsável pela edição impressa; e o Instituto Paulo Freire, que cuida da versão eletrônica. A cada edição, três textos são publicados simultaneamente em papel e na internet. Os demais são disponibilizados no site 40 dias após o lançamento nas bancas.

A edição eletrônica exibe ainda, na seção “Primeira página”, dossiês especiais. Eles oferecem ao leitor artigos que foram publicados em números anteriores do jornal, mas conservam a atualidade. Cada dossiê é apresentado por um texto produzido pela redação brasileira, que atualiza as informações e as associa a fatos recentes e relevantes.