Câmera na mão e pé na estrada


15/07/2008


Rodolpho Terra 
18/07/2008

“Todos os assuntos podem ser interessantes, tudo depende do enfoque.” Esta frase do fotógrafo húngaro radicado no Brasil Thomaz Farkas é também o lema de Gustavo Stephan de Souza quando o assunto é sua atividade predileta, fotografar:
— Para o Thomaz, a fotografia sempre foi uma janela para se conhecer o mundo. Pessoalmente, tenho um gosto por imagens da cultura popular e uma característica de me envolver com as pessoas e o ambiente que estou fotografando.

Antártica

Aos 41 anos, Gustavo Stephan carrega extensa bagagem profissional, que inclui 68 dias a bordo de um veleiro, numa viagem à Antártica pelo jornal O Globo, juntamente com o colega cinegrafista Acyr Fillus (Kito), o explorador Amyr Klink e três tripulantes. O resultado da jornada está no livro “Dias na Antártica: imagens de uma expedição de Amyr Klink”:
— Foi algo incrível, em todos os sentidos. Nunca tinha navegado e convivido com cinco pessoas diferentes, num barco, por quase 70 dias. Foi uma experiência muito rica.

Momentos da expedição que ele não irá esquecer são as duas tempestades que o veleiro enfrentou, sendo que a primeira alcançou a embarcação no litoral de Santa Catarina, logo no início do percurso:
— Foram dois dos piores momentos da minha vida e também do Amyr. Realmente pensei que fosse morrer em alto-mar.

Com as tempestades, Gustavo aprendeu que a melhor a forma de passar o tempo no barco era cuidando do seu equipamento de trabalho e dos afazeres no interior da embarcação, já que não estava habituado ao mar:
— Tentava fazer coisas como limpar o barco, lavar a louça e participar de tarefas simples. Obviamente, procedimentos complicados eu deixava para a tripulação, que, aliás, enfrentava bem as situações perigosas. Pensava assim: “Vou fazer meu trabalho e cuidar da minha integridade física.” Ainda sim, houve vezes em que quase caí na água gelada, por causa da vela. E também afundei andando no gelo.

Além dos filmes, filtros, câmeras e lentes, o violão é outra “ferramenta” que Gustavo gosta de levar em suas viagens:
— Só que, na Antártica, o pessoal acabou inventando que, sempre que eu tocava, atraia a tormenta. Isso porque eu só pegava o violão em momentos de calmaria e as grandes tempestades vieram logo depois de dois deles, ao som da música. Acabei sendo proibido de tocar enquanto navegávamos.

Carreira

A paixão pela fotografia e pelas viagens surgiu cedo na vida de Gustavo, que, já aos 15 anos, gostar de pegar a estrada com a mochila nas costas e a máquina na mão. Depois, exibia o resultado em casa:
— Desde pequeno, fui o fotógrafo oficial da família e adorava ver os álbuns de retratos. Quando ia acampar com os amigos na adolescência, também queria registrar tudo. Daí veio o gosto pelos trabalhos produzidos em viagens.

Depois de fazer um curso de especialização na Editora Bloch, “com grandes nomes da fotografia brasileira”, ele rumou para as cidades históricas de Minas Gerais e fez seu primeiro portfolio — “acho que foi o momento da profissionalização”, diz Gustavo. Trabalhando como frila, fazia desde capas de disco a trabalhos de pesquisa, como acompanhar uma cientista que tratava a malária em Rondônia, até ser contratado pelo Globo, em 91. Mas não se atém apenas à redação do jornal:
— Gosto especialmente dos trabalhos que faço pelo interior do País. Deles, o que mais gosto permanece inédito: durante quase dez anos, refiz parte do caminho da Coluna Prestes, fotografando pessoas que acompanharam o movimento e gravando seus depoimentos. Um dia pretendo publicar este material.

Sem editoria fixa, Gustavo não esconde uma certa preferência pela Nacional, que lhe permite algumas viagens:
— Gosto de entrar em contato com culturas diferentes. Cheguei a cursar Ciências Sociais e sempre senti proximidade com a Antropologia. De qualquer forma, sinto prazer de poder atuar em diferentes áreas; isso só enriquece o meu trabalho.

Projetos

Outros projetos que Gustavo desenvolve paralelamente incluem o acompanhamento de jovens trabalhadores rurais, feito há cinco anos com o apoio do Instituto Souza Cruz. Também trabalha, juntamente com outros colegas de profissão, na capacitação de 120 jovens, que terão suas fotos publicadas. Em 2006, passou dois meses retratando a vida de caminhoneiros pelo Brasil. Agora, diz que gostaria de se dedicar aos seringueiros na Floresta Amazônica e até mesmo produzir um documentário:
— Tive a oportunidade de filmar o Chico Mendes três meses antes de sua morte, 20 anos atrás. É um material inédito, ao qual estou juntando outros depoimentos.

É sempre o material humano que importa a Gustavo, não os equipamentos:
— Trabalho com o que há de melhor no mercado, mas busco a simplicidade na fotografia e considero desnecessário dar um valor exagerado aos acessórios. É muito mais importante o olhar, a intenção de quem tira a foto. Uma boa imagem pode ser feita com qualquer câmera, mesmo a digital, cuja grande vantagem é a diminuição no custo operacional. Mas o profissional tem que ter cuidado com ela, pois, como não há limite para registrar as imagens, ele corre o risco de fazer uma fotografia descuidada. É importante pensar em cada clique. 
 

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