“Brizola, o último caudilho”


15/09/2011


 
 
Por Paulo Ramos Derengoski
 
 
Na iluminada década de 60, Leonel Brizola, governador do Rio Grande do sul, empolgava corações e mentes da juventude estudantil, não só pelas posições nacionalistas, então em moda, mas principalmente por ter chefiado a luta de resistência à tentativa de golpe militar de 1961 que se seguiu à renúncia do doidivanas Jânio da Silva Quadros. Brizola dividiu os adversários – e os venceu com grande apoio popular na campanha de defesa da legalidade.
 
Vi- pela primeira vez naquelas jornadas inesquecíveis de Porto alegre, quando todos queriam participar dos batalhões constitucionais
 
No governo João Goulart do qual foi um crítico de vacilações e compromissos, criou um jornal, dirigido por José Silveira e Tarso de Castro, no qual muitos de nós colaborávamos. Nos idos de março de 1964 voltei a vê-lo, tentando inutilmente resistir a um golpe que, este sim, viria para durar duas décadas. Ao lado de alguns generais, como Ladário Pereira Teles, Oromar Osório Crisanto Figueiredo, Almirante Cândido Aragão e Brigadeiro Francisco Teixeira, líderes sindicais e estudantes, tentou repetir a Resistência. Mas falhou. Pois João Goulart se negava a derramar o sangue dos brasileiros.
 
Foi para o exílio. Era odiado pela extrema direita. Como repórter da revista Manchete fui entrevistá-lo em Montevidéu. Jamais esquecerei o que vi. Ele estava num pequeno apartamento dos arrabaldes. A barba grande, um revólver na cintura. Ofereceu-nos um café. Achei que algum empregado iria trazer. Ele foi à cozinha, ferveu a água e nos serviu. Estava sozinho. Ameaçado de morte, mandara a família para outro lugar e aguardava o pior. Mas no Rio a entrevista foi censurada.
 
Anos depois encontrei-o numa visita que fez a Lages, quando o entrevistei para a TV Planalto e ele me lembrou aquele episódio. Em 1982 fui vê-lo no rio, na Avenida Atlântica. Disse-me que seria candidato a Governador do Rio. Fui franco e dei-lhe a opinião de que nunca deveria sair do Rio Grande do sul, onde era um ídolo, e que o rio de Janeiro era um pantanal político onde poderia se atolar, mas ele ainda achava que a antiga capital federal era “um tambor nacional”. S se fosse um tambor furado, argumentei. Naqueles dias ele tinha 5% de intenções de votos. Ma acabou vencendo. E ainda se reelegeu governador.
 
Mas nunca chegou à Presidência. Era seu grande sonho. Que agora se transforma em memória. Em breve estará coberto pela pátina do tempo. Dissolvendo-se como lágrimas na chuva no vasto mar do futuro… O último caudilho a nadar contra a corrente avassaladora da recolonizarão.