15/09/2020
Em discurso realizado nesta segunda (14), a ex-presidente do Chile e alta comissária da ONU para direitos humanos, Michelle Bachelet, incluiu o Brasil numa lista de 30 países que mais atacam jornalistas, direitos humanos e mecanismos de participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas.
Também figuram na lista criticada por Bachelet países como Venezuela, China, Arábia Saudita, Mianmar, Síria, Belarus, Líbano, EUA e Polônia.
Filha de um militar morto pela ditadura do general Augusto Pinochet (de quem o presidente Jair Bolsonaro já se declarou um simpatizante), Bachelet vem criticando o governo brasileiro de forma recorrente. Além de condenar as críticas de Bolsonaro à imprensa, ela já reprovou publicamente a violência policial do Brasil.
Nesta segunda Bachelet também alertou para o crescente envolvimento de militares nos assuntos públicos do Brasil.
Além de ataques a jornalistas, a alta comissária da ONU condenou o Brasil por episódios de violência rural, violência policial, despejos de comunidades sem terra em plena pandemia e “pelo menos 10 assassinatos de defensores dos direitos humanos confirmados este ano”.
“Um número alarmante de defensores dos direitos humanos e jornalistas continua a ser intimidado, atacado e morto – particularmente aqueles dedicados a proteger o meio ambiente e os direitos da terra”, disse Bachelet, desta vez referindo-se a toda América Latina.
A representante da ONU também fez um apelo para que líderes de todo o mundo deixem de desacreditar jornalistas, sob pena de colocar tais profissionais em maior risco de ataques.
Bachelet também falou sobre o desmonte – ou “contínua erosão”, como definiu – de conselhos colegiados e outros órgãos de participação da sociedade civil no governo Bolsonaro.
“Peço às autoridades que tomem medidas fortes para garantir que todas as decisões sejam fundamentadas nas contribuições e necessidades de todas as pessoas no Brasil”, disse.
Segundo o jornalista e colunista do UOL Jamil Chade, tal crítica se refere especificamente ao Decreto Presidencial nº 9759/2019, que enfraqueceu os conselhos colegiados no Brasil no ano passado.
Sobre a multiplicação de militares no governo Bolsonaro, Bachelet comparou o Brasil a México e El Salvador, onde também estaria havendo “um maior envolvimento dos militares nos assuntos públicos e na aplicação da lei”.
“Embora eu reconheça o contexto desafiador da segurança, qualquer uso das forças armadas na segurança pública deve ser estritamente excepcional, com supervisão eficaz”, pontuou.
Portal IMPRENSA