Assembléia RJ dá cidadania a Grabois


03/10/2012


Morto na Guerrilha do Araguaia em 25 de dezembro de 1973, o ex-Deputado Maurício Grabois, nascido em São Paulo, é agora cidadão do Estado do Rio de Janeiro, por ato da Assembléia Legislativa do Estado, que aprovou proposta com esse fim formulada pelo Deputado Paulo Ramos (PDT). A entrega do diploma de Cidadão, em sessão solene nesta terça-feira, dia 2 de outubro, integrou as comemorações do centenário de nascimento de Grabois, que foi deputado à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 e era o comandante militar da Guerrilha do Araguaia quando foi aprisionado e executado pela tropa do Exército que o rendeu.
 
À mesa de honra da sessão tiveram assento a filha de Grabois, Victoria Grabois, que é Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro; Elizabeth Silveira, diretora do Grupo; Suely Belato, Vice-Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça; Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade; socióloga Maysa Santana, que foi aluna de Grabois no curso de Ciências Sociais da antiga Faculdade Nacional de Filosofia-FNFi, e Carlos Henrique Tibiriçá, Presidente da Fundação Mauricio Grabois, A ABI fez-se representar no ato por seu Presidente, Maurício Azêdo, como homenagem a seu antigo associado: Grabois foi jornalista e editor na clandestinidade do jornal “A Classe Operária”, órgão do Partido Comunista Brasileiro-PCB, do qual ele se afastaria para fundar em 1962 o PCdoB, ao lado de João Amazonas e outros dissidentes do PC.
 
Ao agradecer a manifestação da Assembléia e a iniciativa do Deputado Paulo Ramos, Victoria Grabois fez comovido relato sobre a vida do pai, que foi o primeiro parlamentar a ocupar a tribuna da Assembléia Constituinte de 1946 e passou grande parte de sua vida na clandestinidade. Ela se emocionou ao relembrar que só conviveu com o pai durante a adolescência, e assim mesmo por pouco tempo. 
 
Assim como outros oradores, entre os quais dois sobrinhos netos de Grabois, Carlos Henrique Tibiriçá e Suely Belato, Victoria Grabois apontou a criação da Comissão Nacional da Verdade como resultante da luta de muitos anos de instituições da sociedade civil, como o Comitê Brasileiro pela Anistia e o próprio Grupo Tortura Nunca Mais. Ela reclamou a abertura dos arquivos da ditadura militar, para identificação dos agentes do Estado que mataram centenas de presos políticos, apuração das circunstâncias em que esses crimes foram cometidos, quais foram os mandantes e quais as vítimas. 
 
Sempre com forte emoção e indignação, Victoria Grabois lamentou a impunidade dos torturadores, como o Major Lício Augusto Maciel, atualmente reformado, que confessou num livro que matou seu irmão André Grabois, jovem comandante de um dos destacamentos da Guerrilha do Araguaia, e mais três guerrilheiros. Contou Victoria que numa audiência do processo criminal aberto contra ele por esses crimes, Maciel ofendeu a juíza e xingou o então Presidente Lula. Disse Victoria que ele deveria sair preso da audiência, mas nada lhe aconteceu.
 
Em homenagem a Grabois, que era judeu, o coral da sociedade israelita Scholem Aleichem interpretou um hino da resistência judia ao nazismo, a canção “Grandola, Vila Morena”, senha para a deflagração da Revolução dos Gravos em Portugal, em 1974, e, encerrando a sessão, o hino “A Internacional”