As portas da profissão abertas por um sorriso


12/05/2008


Cláudia Souza
17/05/2008

Quando o jornalista e apresentador Pedro Bial anunciou o nome de Rafinha como o vencedor da 8ª edição do “Big Brother Brasil”, o jovem elevou os braços e se ajoelhou, em agradecimento. Atrás dos espelhos e corredores envidraçados da casa, o fotógrafo Kiko Cabral, de 37 anos, registrava a imagem que foi publicada em veículos de todo o País:
— Consegui congelar o instante em que o joelho dele ainda não tinha tocado o chão. Tem um movimento interessante na foto. Este tipo de trabalho assemelha-se ao fotojornalismo na medida em que o profissional precisa ter sensibilidade e perfil documental.

A paixão pela fotografia está enraizada na família de Kiko. O avô, militar e dentista, montou na garagem de casa um laboratório para revelar fotos em preto e branco e fazia pinturas sobre as imagens; o pai herdou o gosto pela arte e também fotografava; o tio materno Júlio Nogueira, professor de Fotografia durante 30 anos, logo percebeu o olhar jornalístico do sobrinho:
— Desde criança eu gostava de fotografar e meu pai sempre me emprestava sua Minolta. Na adolescência, decidi entrar no curso do meu tio, para fazer imagens submarinas como hobby — recorda.

Formado em Administração de Empresas, pós-graduado em Marketing e com  Formação Executiva em Cinema e TV, pela FGV, Kiko trabalhou alguns anos como assessor de marketing, mas sempre pedia para executar os serviços de fotografia solicitados pelas empresas, como outdoors, anúncios e catálogos dos produtos. Até que decidiu se dedicar de verdade à carreira de fotógrafo.

Réveillon

O primeiro trabalho na área surgiu em meados dos anos 90, quando uma amiga que era repórter do Correio da Bahia lhe ofereceu uma pauta. Ela entrevistaria o cantor Tony Garrido durante o réveillon e ele faria as fotos:
— Fiz as imagens, mas no dia seguinte minha câmera foi roubada em Morro de São Paulo. Felizmente, encontrei a bolsa com os filmes jogada no chão e pude ilustrar a matéria.

De volta ao Rio, Kiko comprou o equipamento de um colega e inaugurou a câmera registrando imagens de um casal de famosos:
— Estava num show e vi os artistas na platéia. Fiz a foto sem compromisso, mas uma moça se aproximou e perguntou se eu poderia vendê-las para a coluna da Danuza Leão. Aceitei e o material foi publicado no dia seguinte. A sorte me presenteou novamente ao ser convidado para o casamento de Tony Garrido, que me autorizou a enviar para as revistas algumas fotos que tirei da cerimônia. Em seguida, recebi o convite do cantor para registrar as imagens da turnê nacional da banda Cidade Negra.

Celebridades

Disposto a se manter no mercado, Kiko conseguiu uma oportunidade na Bloch Editores. No primeiro dia de trabalho, cobriu uma gravação da TV Globo para a revista Amiga, na qual permaneceu até a falência da editora, em 99.

Na seqüência, atuou durante dois anos nas revistas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, cobrindo pautas variadas. O perfil de fotógrafo de celebridades se consolidou a partir da experiência na publicação IstoÉ Gente, seguida de quatro anos na Quem e, a partir de 2004, na Caras:
— Os contatos com a TV Globo se intensificaram quando ingressei na Quem, da Editora Globo. Nos lançamentos de novelas, por exemplo, a revista sempre montava um estúdio para clicar as personalidades. Eu já conhecia muita gente então, mas a aproximação foi maior a partir desse tipo de cobertura. Eu me pus à disposição da emissora para qualquer trabalho. Meses depois, fui convidado para ser o fotógrafo de divulgação da 6ª edição do “Big Brother”. Depois, fiz a 7ª e a 8ª.

Durante as temporadas do programa, Kiko trabalha todos os dias, com direito a uma folga semanal. Às sextas-feiras, em geral, faz a edição semanal das fotografias e abastece o site da emissora. As imagens são feitas no interior dos corredores escuros e envidraçados que circundam a casa, espaço onde também trabalham cinegrafistas e outros técnicos:
— Gosto muito do desafio profissional deste trabalho. Como preciso evitar o flash, para não chamar a atenção dos participantes da competição, compenso a falta de iluminação usando filmes mais sensíveis e ajusto o equipamento para conseguir mais luz em menor tempo de exposição, o que evita a chamada imagem borrada. Para não interferir no ambiente da casa, inibo o som do disparador da câmera e jamais falo alto. O brother não pode perceber que eu estou do outro lado, tão próximo.

Para não perder uma boa foto na casa, é preciso ainda, segundo ele, estar muito concentrado nas situações e no clima entre as pessoas:
— Lembro de um paredão com duas moças que aguardavam apreensivas e de mãos dadas a decisão do público. Quando o resultado foi anunciado, a menina que perdeu soltou a mão da vencedora e expressou no rosto o sentimento de decepção, enquanto a outra ainda oferecia a mão à “amiga”. Minha foto revelou com clareza a situação.

Qualidade

Em busca de mais qualidade e diversificação no trabalho, Kiko investiu em cursos na área de cinema e no mercado de comunicação empresarial:
— A remuneração da classe ficou muito reduzida com o advento da fotografia digital. Como agora todo mundo jura que sabe fotografar, o volume de trabalho diminuiu drasticamente. Para ampliar o leque, abri uma empresa de fotografia e vídeo para atender a produção de house organs de grandes empresas.

Outra dica importante para impulsionar a carreira é a aquisição de equipamento de boa qualidade. Um obstáculo no Brasil, lembra o fotógrafo, “em função do elevado custo dos equipamentos importados e da falta de incentivo fiscal do governo para diminuir as taxas de importação”. E o pulo-do-gato para fazer uma trajetória respeitada, avisa Kiko, é ter humildade e respeito ao próximo:
— Nos momentos em que fui arrogante e grosseiro, só perdi. No círculo das celebridades, com egos extremamente inflados, é preciso elevar o espírito e exercitar a compreensão e a generosidade. No complexo mundo da fotografia, um sorriso é capaz de abrir todas as portas. 


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