Artigo: “O doce Azêdo”


Por Miranda Sá*

04/11/2013


mauricio-azedo

“Sonado, com uma tristeza imensa pela perda de um quase irmão – amigo por mais de 60 anos –, participei do velório de Maurício no Memorial do Carmo, perdido no meio de grande e variada afluência. Lá, ouvi muitos depoimentos relembrando a juventude, o jornalismo e a participação política do Presidente da ABI que teve o mandato interrompido em pleno exercício.

Entre recordações de Alcir Cavalcanti, Altenir Rodrigues, Ancelmo Góis, Chico Paula Freitas, Daniel Mazola, Fischel Davit, José Argolo, Maria Ignez, Mário Augusto, Sérgio Caldieri e Pery Cotta, um diálogo com Argolo inspirou-me a registrar o perfil do ente querido que levamos ao túmulo.

—“Azêdo tinha um pavio curto”, comentei; e Argolo: – “Ele não tinha pavio…”

Relembramos assim as discussões ácidas e as respostas contundentes de Azêdo às provocações, seja nas lutas políticas ou nas diversas redações em que foi repórter, redator, cronista, chefe de reportagem e editor.

Oscar Maurício de Lima Azêdo era impetuoso contra a impostura e a transgressão dos princípios; assim, foi sem dúvida azedo, mas doce na convivência, no trato social e na cortesia com os que o procuravam. Tive, pela Internet, o depoimento de um jornalista paranaense que observou a lhaneza dele numa visita que fez a ABI.

No nosso longo relacionamento, que vinha dos tempos da Ames – Associação Metropolitana dos Estudantes Secundários, até dois anos atrás quando me indicou para o Conselho Deliberativo da ABI e o honroso convite para fazer parte da sua diretoria, nunca tivemos um atrito. Divergimos, discutimos, mantivemos desacordos, sem nunca abandonarmos o tratamento fraternal consolidado através dos anos.
Tentei mergulhar no infinito para descobrir como Azêdo gostaria de ser tratado no seu obituário. De coração acredito que o que mais o agradaria seria a referência ao seu profissionalismo, porque a imprensa era a sua paixão. E nos jornais e revistas em que atuou, entregava-se de corpo e alma.

A prova disso é que, mesmo atento e exigente na presidência da entidade representativa dos jornalistas, nunca abandonou a editoria do Jornal da ABI, refugiando-se em casa para o seu fechamento sempre meticuloso, e, como homem de jornal, obediente aos prazos. Acompanhava todas as fases do jornal, da pauta à colheita do material; da apuração e revisão ao texto final; e, da hierarquização do conteúdo – o fechamento propriamente dito –, até a distribuição.

Nessa agitada atividade no Jornal da ABI não estava encerrando sua notável contribuição ao jornalismo brasileiro, porque nos seus editorais manteve a continuidade da sua coerência como arquiteto da informação e, principalmente, como irradiante defensor dos princípios da liberdade de expressão e de imprensa.”

* Miranda Sá é diretor de Arte, Cultura e Lazer da ABI.