Apaixonado pelo poder do fotojornalismo


07/08/2007


José Reinaldo Marques
10/08/2007 

Para Eder Chiodetto, o grande fascínio da fotografia jornalística é o seu “poder de desvendar a complexidade do ser humano”:
— Hoje atuo em várias frentes na fotografia, mas acho que quase nenhuma outra nos dá a possibilidade de conhecer o mundo e o ser humano de forma tão profunda e complexa como a reportagem-fotográfica. Por mais que eu seja um grande crítico do fotojornalismo contemporâneo e da burrice com que os veículos tratam a imagem, continuo achando que essa é uma das atividades mais apaixonantes que existem.

Chiodetto nasceu em São Paulo, em 1965. Formado em Jornalismo, faz pós-graduação na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP e é autor do livro “O lugar do escritor” (Cosac Naify), com o qual foi um dos vencedores do prêmio Jabuti 2004. A fotografia, diz ele, entrou em sua vida como remédio para curar uma desilusão:
— Tive uma paixão frustrada, lá pelos meus 19 anos, e procurava qualquer coisa que me motivasse a sair da fossa, quando vi num jornal o anúncio de uma exposição de fotografias de alunos do Araquém Alcântara. Foi como se um novo mundo tivesse se aberto aos meus olhos. Superei o rompimento, fui estudar com o Araquém, virei assistente dele, fiz faculdade de Jornalismo e não parei mais. Gosto de escrever, mas achava péssimo o modo como os jornais tratavam os textos. Com o Araquém, aprendeu que a fotografia pode ser uma forma de escrita repleta de espírito crítico e poesia, às vezes mais rica que a palavra.

Qualidade

A carreira começou como frila no Diário Popular (hoje Diário de São Paulo) não foi promissora:
— Quase me fizeram desistir de tudo. Mas fui para a Folha da Tarde quando a Junia Nogueira de Sá assumiu o jornal e, durante um bom tempo, fez dele um ótimo espaço para os fotógrafos. Meu trabalho ali acabou me levando para a Folha de S.Paulo, onde fui editor de Fotografia por nove anos.

Hoje, Chiodetto colabora com artigos críticos sobre fotografia para o caderno Ilustrada, da Folha, e para as revistas Fotosite, Vogue Brasil, Key, Vero Alphaville e Foco Economia — “sempre acreditando que a próxima pauta será o grande momento da carreira, que a melhor foto será o próximo disparo”. Na busca pelo aperfeiçoamento, ele acabou virando um pesquisador minucioso da produção nacional e estrangeira:
— Posso dizer que a nossa fotografia é de alta qualidade, tanto no documental quanto no experimental artístico. A prova disso é a quantidade de artistas brasileiros que têm se projetado nas grandes mostras mundo afora. Somos antropofágicos por natureza e isso nos faz digerir a informação global, dar um sabor local e gerar um produto original e vigoroso.

Em julho de 2005, Chiodetto passou a integrar o Conselho Consultivo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde também ministra a oficina “Ensaio fotográfico”:
— Como Conselheiro, minha função era basicamente ajudar a organizar o calendário de exposições e sugerir obras a serem adquiridas. Agora sou o curador do Clube dos Colecionadores de Fotografia do museu e integro o grupo que sugere mostras.

Flip

Na edição deste ano da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), Chiodetto realizou uma exposição com as fotos de “O lugar do escritor”:
— Para o livro, fotografei e entrevistei 36 dos mais importantes ficcionistas brasileiros, como João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Luis Fernando Veríssimo. Foi muito gratificante expor essas imagens para um público aficionado por literatura, como o desse belíssimo evento anual de Paraty. Em três dias, tivemos mil visitantes.

Segundo ele, no livro a fotografia tenta captar, em preto e branco, a atmosfera dos locais onde os autores se enclausuram para criar:
— Chamo-os de não-lugares, pois ali o escritor imagina outros ambientes e dialoga com pessoas que não estão lá. Ou seja, o escritório do escritor é um trampolim para a imaginação e o ato solitário da criação literária.

Sobre a proximidade entre as duas artes, Chiodetto diz que o mesmo ocorre com todas as linguagens em que a imaginação e a força expressiva dominam:
— Como sempre gostei de escrever e de fotografar, sigo meu caminho tentando poéticas nessas conciliações casuais.

No momento, ele é curador do Prêmio Porto Seguro de Fotografia, da Semana Fnac/Epson/Fotosite da Fotografia, da Fnac Pinheiros e do Projeto Portfólio, no Itaú Cultural, além de coordenar a coleção “FotoPortátil”, editada pela Cosac Naify:
— Já foram produzidos seis volumes, com os trabalhos de Luiz Braga, Rosângela Rennó, Cris Bierrenbach, Antônio Saggese, Eustáquio Neves e Raul Garcez. A coleção é editada em formato pocket que é também uma sanfona desdobrável e pretende oferecer um panorama sobre a fotografia moderna e contemporânea brasileira e quebrar o estigma de que livro de fotografia tem que ser ou caro ou malfeito. Entre este semestre e o próximo, lançaremos mais quatro volumes — promete. 

                                                                           
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