Antonio Olinto, uma lacuna


14/09/2009


Como disse o Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cícero Sandroni, a morte do escritor e acadêmico Antonio Olinto representa uma lacuna, devido à grande contribuição que ele deu para a cultura brasileira com as obras que escreveu. Ele morreu de falência múltipla dos órgãos, na madrugada de sábado, dia 12 de setembro, em sua residência, em Copacabana, aos 90 anos de idade.

 
Antonio Olinto ocupava desde 1997 a cadeira nº 8 da ABL e também era sócio da ABI, onde ingressou em 30 de novembro de 1950. O corpo do acadêmico foi sepultado no carneiro nº 3 do Mausoléu  da ABL no cemitério de São João Batista, Zona Sul do Rio, mesmo túmulo de sua mulher,  a escritora Zora Seljan (com quem foi casado durante 41 anos), e ao lado dos jazigos de Austregésilo de Athayde e do economista e ex-Ministro da Fazenda, Roberto Campos, que foi seu colega de seminário, em Minas Gerais.
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No tradicional Discurso de Adeus a Antonio Olinto, o Presidente da ABL ressaltou a atuação de Antonio Olinto, que, mesmo com a idade avançada, manteve a assiduidade com a crítica literária e o jornalismo:
— É muito difícil para nós, seus confrades, entender o desaparecimento de Antonio Olinto, este homem que, aos 90 anos, levava uma vida tão intensa  não só de trabalhos administrativos, de jornalista atuante, crítico literário  e acadêmico assíduo, sempre pronto a viajar para representar a Academia, e presente em todos os eventos para os quais era convidado, seja no exterior ou na mais distante cidade do interior do Brasil, destacou Cícero Sandroni.
 
O Discurso  de Adeus é tradição  na ABL, quando por ocasião da morte de um de  seus membros.  É pronunciado pelo Presidente da Casa no momento em que o féretro deixa  o Petit Trianon para o sepultamento no mausoléu acadêmico. “Adeus, velho amigo — emocionou-se Sandroni — tenha a certeza de que a sua falta será muito sentida por todos”.
 
Farol
 

Nascido na cidade de Ubá, em Minas Gerais, em 1919, Antonio Olinto tornou-se imortal em 1997, ocupando a cadeira deixada pelo escritor Antonio Callado. foi crítico literário do Globo durante 25 anos. Seus últimos textos foram publicados para o Jornal do Brasil, para o qual já não vinha escrevendo devido às complicações de saúde.

 
Escreveu vários livros de poesia, entre os quais “Presença” (1949), “Resumo” (1954) e “O homem do madrigal” (1957). Em 1969, lançou o romance “A casa da água”, que faz parte da trilogia Alma da África — juntamente com “O rei de Keto” e “Trono de vidro” —, que teve a África como inspiração e foi um dos seus livros mais reeditados.
 
Nos anos 60, Antonio Olinto cumpriu uma temporada de três anos no continente africano como adido cultural na cidade de Lagos, na Nigéria. Foi nesse período que escreveu também o livro “Brasileiros na África” (1964), considerada uma obra de referência. A proximidade de Antonio Olinto com a África mereceu o seguinte comentário do também acadêmico Marcos Vilaça:
— Como pessoa, Antonio Olinto era uma festa móvel, um farol permanentemente apontado para a cultura africana.
 
Além dos textos que produziu para a imprensa uma das importantes contribuições de Antonio Olinto para o jornalismo foi o ensaio “Jornalismo e literatura”, lançado pelo MEC em 1955, trabalho que acabou adotado por diversos cursos de comunicação social do País.
 
Com o dinamismo ressaltado por Cícero Sandroni, Antonio Olinto foi também autor do livro “Ary Barroso, a história de uma paixão”, lançado em homenagem ao compositor de quem era conterrâneo, em 2003.
 
Em 2009, Antonio Olinto foi tema de enredo e desfilou da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. As homenagens continuam na quinta-feira dia 17 de setembro, na sede da ABL, no Centro do Rio, com a tradicional Sessão de Saudade. Em breve será lançado o livro “Antonio Olinto, 90 anos de paixão — Memórias de um imortal”, do jornalista João Lins de Albuquerque, com prefácio de Cícero Sandroni e depoimentos de colegas da ABL, como Paulo Coelho.
 
 
Depoimentos:
 
Senador e acadêmico José Sarney: “Quero ressaltar um aspecto relevante em Olinto. Ele prestou serviços ao Brasil no plano internacional, ao aperfeiçoar as ações do Itamaraty, na África, pelo alto conhecimento que  tinha da cultura afro e das interrelações conosco.”
 
Domício Proença Filho: “Olinto foi um dínamo da cultura brasileira, como romancista, como promotor cultural, como  intelectual e  acadêmico sempre inquieto,  sempre presente.”
 
Tarcísio Padilha:  “Ele nos deixa um exemplo dignificante de cultivar, durante  sua   longa vida, as letras e fincar raízes na solidariedade e na prestimosidade.”

Alberto da Costa e Silva:
“Seu “A Casa da água”  é um dos mais destacados livros do século XX. Ao se enredar  na cultura africana, Olinto conheceu de perto as pessoas, as crianças, as quituteiras, a verdadeira essência daquela cultura.”
 
Murilo Melo Filho: “Rendo homenagem ao intelectual incansável distribuidor de bibliotecas pelas favelas e morros do Rio de Janeiro.”