Angola e Moçambique repelem Acordo Ortográfico


08/02/2011


O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entrou em vigor no Brasil em janeiro de 2009, não está sendo adotado pelos outros sete países signatários. Segundo o professor e escritor Ernani Pimentel, recentemente, Angola e Moçambique também adiaram o projeto de implementação das novas regras.
 
Professor de Língua Portuguesa há mais de 40 anos, Ernani Pimentel é autor de diversas obras sobre a disciplina e também um dos principais críticos do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, cujo decreto nº 6.583 foi assinado em 29 de setembro de 2008, pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva, subscrito pelos Governos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste, cuja língua oficial é o português.
 
No Brasil, o Acordo entrou em vigor em 1º de janeiro de 2009, tendo sido adotado por empresas jornalística, editoriais e educacionais. Contudo, de acordo com Ernani, além do Brasil, nenhum outro país está se adaptando ao Acordo:
— Moçambique pediu moratória sine die para adotar as novas regras. Além disso, lá, assim como em Angola, os professores não conseguem entender as regras. No Brasil também existe este problema, fruto das incoerências e exceções que caracterizam as novas regras. A partir deste pedido de moratória de Moçambique, será muito difícil que os outros países venham a adotar o Acordo.
 
O impasse, segundo o professor, é desfavorável ao País:
—O Brasil encontra-se em uma posição antipática e negativa perante os demais países. O Brasil impõe o Acordo e ao mesmo tempo desrespeita-o, já que foram feitas modificações, com base em ilogicidades, que passaram a vigorar sem serem discutidas no Congresso, como determina o decreto.
 
Ernani considera a mudança um fator importante para os países de língua portuguesa, mas defende a simplificação das regras e o debate em torno do tema:
—O Acordo está naufragando em função das ilogicidades que permeiam as novas regras. Um Acordo que mexe com a grafia, levando em consideração que a língua é um patrimônio coletivo, deveria ser discutido com todas as categorias que têm a língua escrita como ferramenta de trabalho, como advogados, jornalistas, escritores. Como se deixa uma classe com a de professor de português nesta situação, vendo cotidianamente as dificuldades dos alunos em assimilarem um conjunto de regras ilógicas?
 
Fundador do movimento Acorda Melhor(www.acordarmelhor.com.br) cujo objetivo é discutir problemas e soluções para o Acordo, Ernani está colhendo assinaturas para buscar a participação da sociedade neste processo:
—Com o abaixo-assinado pretendemos pedir que as reformas ortográficas sejam revistas abertamente e não impostas por duas academias que não têm representatividade lingüística, já que a Academia Brasileira de Letras(ABL) e a Academia de Ciências de Lisboa apresentam apenas um lingüista em seus quadros. Por que motivo a Associação Brasileira de Filologia(Abrafil), que existe desde 1954, não foi consultada? As idéias do Acordo foram pensadas em 1975, assinadas em 1990, e estão sendo impostas em pleno século 21, baseadas na didática medieval, daí as exceções e as ilogicidades.
 
O professor destaca a relevância do processo educativo como instrumento no combate à exclusão social e vê nas novas regras um entrave para o desenvolvimento educacional do País:
—A educação brasileira dedica 450 horas-aula nos ensinos fundamental e médio só para o ensino da ortografia. Contudo, o aluno sai de lá fadado a procurar o dicionário pelo resta da vida, por não saber escrever. A culpa não é dele nem do professor, e sim das regras. Dentre os fatores de exclusão social, a ortografia é a mais forte. Se nós criamos uma ortografia baseada na logicidade, com apenas 200 horas-aula o aluno sai da escola sabendo escrever. A alfabetização será mais rápida e eficiente e a ortografia passará a ser um fator de inclusão social. Vamos continuar na luta para que a ortografia seja simplificada e para que a didática tenha sua base na lógica e no entendimento e não mais na vetusta decoreba. A Associação Brasileira de Imprensa compartilha da opinião de que o Acordo foi imposto e não discutido.