Alto custo de crédito asfixia pequeno empresário


12/05/2020


“O que podemos fazer por você hoje?

Sou proprietário de uma rede de autocenter, estabelecida há 23 anos, com relativo sucesso. Temos uma equipe de 65 funcionários, alguns deles com mais de dez anos de casa.

Há dois anos abrimos uma unidade perto do Norte Shopping com 10 funcionários e outra no Leblon, com mais 10 funcionários.

Com o advento da pandemia, tivemos que fechar as portas, desde o dia 20/03 em algumas unidades. No nosso caso, como da maioria dos negócios da região, o delivery e o take-away não funcionam. Colocamos a maioria dos funcionários no programa de suspensão do contrato de trabalho, iniciativa do governo, que garantiu o emprego de milhões de pessoas, pelo menos neste primeiro período da crise.

Mas os nossos compromissos financeiros não são somente estes. Nem pagamos o Simples de Fevereiro em 20/03. Pagamos a folha de março integralmente em 05/04. Pagamos IPTUs, que não foram postergados. Continuamos a pagar o plano de saúde da equipe. Pagamos todos os nossos fornecedores até 31 de março , cujas faturas e boletos já estavam emitidas, inclusive energia e água (que continuam emitindo contas pela média de consumo!). Do dia 1° de abril em diante mandamos e-mail aos principais fornecedores, explicamos que não conseguiríamos continuar pagando e pedimos 30 dias de prorrogação, e continuamos a pagar algumas contas que são água, luz, IPTU, condomínio, e alguns micro fornecedores. Negociamos parcialmente o aluguel.

Mas isso tudo não foi suficiente.  O capital de giro, quase todo concentrado nos recebíveis de cartões e tickets, se esgotou. Sempre trabalhamos com uma reserva financeira, para imprevistos. Mas depois de anos de recessão, parecia que desta vez a economia ia retomar. Decidimos inovar e crescer o negócio, e abrir uma nova unidade, a de Niterói, que contribuiu para o esgotamento das reservas financeiras.

Nunca precisamos tanto de crédito bancário nestes 23 anos de atuação; já até pegamos, mas para investimento, o que é o ideal. Mas neste momento, não tivemos opção. Voltamos em busca de crédito junto aos bancos com os quais trabalhamos já há muitos anos, o Santander, Caixa e Itaú. O único crédito disponível, a custo baixo, foi o financiamento da folha, no programa do BNDES pelo Itaú. Mas como utilizamos a MP 936 para colocar a equipe em suspensão, este crédito não se aplica à minha rede de autocenter no momento.

O próximo crédito disponível, o capital de giro pelo Santander, acabou me oferecendo R$ 550.000, para pagar quase R$ 1.000.000 (isso mesmo, um milhão de reais). E sobre o do BNDES, captado a 3,75% a.a, o banco cobra juros de 12% a.a , e ainda exige garantias reais (uma aplicação financeira, ou imóvel).

Além disso, me inscrevi para pegar empréstimo, através da parceria Sebrae e Caixa Econômica, na linha Capital de Giro BNDES com taxa de 5% ao ano.  Niterói disse que emprestaria até R$ 250 mil sem juros, para pagar em 3 anos, etc, etc, bla-bla, bla… Tudo mentira! Nada disponível!

Esse texto não é somente sobre a minha rede de autocenter, mas sobre todos os negócios afetados pela pandemia. Não é ,tampouco, sobre o Santander, Caixa e Itaú, mas sobre todos os bancos, inclusive os bancos públicos, que não estão cumprindo a sua função de girar a economia, no seu momento de maior crise. Não adianta fazer propaganda bonita na televisão. Não basta fazer doações emergenciais. Responsabilidade social é antes de tudo cumprir o seu papel na sociedade.

Sr. Presidente, Sr. Paulo Guedes, Sr Maia, Sr. Alcolumbre, façam alguma coisa para salvar os negócios, os empregos e a economia. Precisamos de crédito a juros baixos, com carência, a prazos longos, lastreados por um fundo garantidor do governo. Ainda digo mais, acho que as perdas deveriam ser compartilhadas pelo governo.

Façam isso logo, antes que seja tarde! Imprimam dinheiro, mas não deixem milhões de negócios quebrarem!

Que a pandemia passe logo, e que sobrevivamos todos, literalmente”.

*O empresário preferiu não se identificar