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“Ainda Estou Aqui” no Oscar 2025: Anatomia de uma premiação


27/02/2025


Por Salomão de Castro (*), em Comunicação ACI

Neste domingo (02/03), com os resultados do Oscar 2025, a partir das 19 horas, chegará ao fim uma maratona para os envolvidos na produção do filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. Será possível saber até que ponto vai o desempenho do longa-metragem que angariou indicações e prêmios variados desde que foi lançado mundialmente, no segundo semestre de 2024. Dentre os principais, os destaques foram os prêmios de melhor roteiro no Festival de Veneza e o Globo de Ouro de melhor atriz (drama) para Fernanda Torres.

A adaptação cinematográfica do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva conquistou plateias pelo mundo ao narrar a saga de sua mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres), às voltas com a família após o desaparecimento do marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), capturado pelo regime militar brasileiro em janeiro de 1971 – e a busca por ele nos anos subsequentes, o que tornou Eunice uma ativista de direitos humanos. A obra concorre aos prêmios de melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz (Fernanda Torres) neste domingo. Segundo dados do IMDb, o filme custou aproximadamente US$ 1,5 milhão e arrecadou até agora um pouco mais de US$ 26 milhões.

O alcance de “Ainda Estou Aqui” na premiação já é imenso. Dentre os 9.905 membros da Academia aptos a votar, conforme dados de dezembro de 2024, para se obter uma indicação na categoria de melhor filme, são necessários 901 votos (9,09% do total). Todos os membros da Academia votam, na primeira etapa, para definir os dez indicados a melhor filme e os concorrentes em sua categoria específica. Na segunda etapa, todos votam para definir os vencedores nas diversas categorias. Os números foram obtidos pelo jornalista Felipe Haurelhuk, do canal Meu Tio Cinéfilo no YouTube (https://www.youtube.com/@MeuTioCinefilo).

Na categoria melhor filme internacional, na qual “Ainda Estou Aqui” disputa favoritismo com o francês “Emília Pérez”, de Jacques Audiard, as regras são distintas. Todos os membros podem se voluntariar para a votação, sendo necessário comprovar que todos os filmes foram assistidos. Estima-se que algo em torno de 200 membros votem para definir o vencedor da categoria.

“Ainda Estou Aqui” revelou força no principal eleitorado do Oscar: o comitê de atuação, que é o mais numeroso: com 1.258 membros, são necessários 210 votos para que se alcance uma indicação a cada uma das categorias de interpretação (atriz, ator, atriz coadjuvante e ator coadjuvante) – o que corresponde a 16,69%. Foi com essa representatividade, no mínimo, que Fernanda Torres conquistou a indicação ao Oscar de melhor atriz.

Disputa acirrada para melhor filme

Para a categoria de melhor filme, a disputa tem três maiores concorrentes. São eles: “Anora”, de Sean Baker, “Conclave”, de Edward Berger, e “O Brutalista”, de Brady Corbet. Os três amealharam as principais premiações que são consideradas termômetros do Oscar.

Em “Anora”, longa dirigido e escrito por Sean Baker, a personagem título (Mikey Madison), trabalhadora do sexo da região do Brooklyn, nos Estados Unidos, acredita ter encontrado o seu verdadeiro amor e decide intempestivamente pelo casamento com o filho de um oligarca, o herdeiro russo Ivan (Mark Eidelshtein).

Repleta de reviravoltas, a trama conquistou seis indicações ao prêmio, bem como a Palma de Ouro (melhor filme) no Festival de Cannes, bem como foi eleito melhor filme no Critics Choice Awards, além dos prêmios principais dos Sindicatos dos Produtores, Roteiristas e Diretores. Com orçamento de US$ 6 milhões no total, “Anora” teve retorno de US$ 34,9 milhões.

Já “Conclave” acompanha a escolha de um novo Papa. Lawrence (Ralph Fiennes), conhecido também como Cardeal Lomeli, é o encarregado de executar a reunião confidencial após a morte inesperada do amado e atual pontífice. Com grande elenco e elevado apuro técnico, o filme alcançou oito indicações ao prêmio.

Seus maiores trunfos foram as vitórias no Bafta (Academia Britânica) em quatro categorias – dentre as quais melhor filme e melhor filme internacional –, o prêmio de melhor elenco no Sindicato dos Atores (Screen Actors Guild Awards, o SAG) – e o de melhor roteiro no Globo de Ouro. O filme teve orçamento de US$ 20 milhões sua receita ultrapassou os US$ 95,5 milhões.

O trio de favoritos ao prêmio principal é composto ainda por “O Brutalista”. A trama tem início em 1947, quando o arquiteto visionário húngaro László Toth (Adrien Brody) e sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) fogem da Europa devastada pela guerra em busca de um novo começo na América. Em sua jornada para reconstruir seu legado e testemunhar o surgimento da América moderna, eles se deparam com uma oportunidade que pode mudar suas vidas, ofertada pelo industrial Harrison Van Buren (Guy Pearce).

Com 3h35min de duração, foi o grande vencedor do Globo de Ouro – nas categorias melhor filme (drama), direção e ator (drama), para Adrien Brody (que conquistou diversos prêmios na mesma categoria). Também venceu quatro troféus no Bafta, dentre os quais os de direção, ator, fotografia e trilha sonora. Com custo de US$ 10 milhões, o longa alcançou US$ 31,3 milhões nas bilheterias.

Com propostas e estéticas distintas, “Anora” e “O Brutalista” dialogam com a realidade contemporânea dos Estados Unidos, diante da cruzada do presidente Donald Trump contra imigrantes. Já “Conclave” trata de um tema perturbadoramente atual, diante do agravamento do quadro de saúde do Papa Francisco. O certo é que “Ainda Estou Aqui” tem excelentes companhias na categoria principal. Agora, o que nos resta é cruzar os dedos e torcer.

(*) do Conselho Deliberativo da ABI