#ABISaúde: Temporão diz que fake news na saúde é crime


18/03/2021


Ex-ministro da Saúde do Governo Lula, José Gomes Temporão foi o entrevistado da estreia do #ABISaúde

Na primeira entrevista online ao Projeto #ABISaúde, organizado pela Comissão de Assistência Social da ABI, o ex-ministro José Gomes Temporão fez sérias críticas ao governo federal pelo fracasso no combate à Covid-19. No dia da entrevista, 12 de março, o Brasil havia chegado a mais de 2 mil mortos pela doença causada pelo novo coronavírus em apenas 24 horas e nesta quarta-feira (17) passou de 2.700 óbitos.

Ao todo, são 285.136 vidas perdidas desde o começo da pandemia e 11.700.431 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus. Foram 90.830 casos confirmados somente no último dia, a pior marca de diagnósticos em 24 horas já registrada no país. Para especialistas, o agravamento da pandemia de Covid-19 e suas variantes escancara as feridas abertas de um país infectado por uma epidemia de negacionismo, com fraturas expostas da desigualdade social e de uma crise política sem precedentes. Há luz no fim desse túnel?!

Durante quase duas horas, o médico sanitarista e doutor em Saúde Pública pela Uerj respondeu às perguntas das jornalistas Rosayne Macedo, Ana Helena Tavares e  Cristina Nunes de Sant´Anna sobre formas de combate à Covid e o papel do Ministério da Saúde no tímido enfrentamento à doença. Quando à frente daquele ministério no Governo Lula, Temporão organizou um plano de combate à epidemia de H1N1, com a vacinação da população.

Na live “Mimimi ou tragédia anunciada”, o ex-ministro da Saúde destacou o negacionismo diante da gravidade e letalidade da doença pelo governo federal, a falta de vacinas, que torna lenta a imunização. Isso faz aumentar as mutações e a força do vírus, que se multiplica em cepas ainda mais graves e resistentes. Lembrou também que faltam ao Ministério da Saúde sobretudo um plano de comunicação eficaz e profissionais gabaritados e experientes. “Misturou-se má política com má ciência”, lamentou Temporão, que também assinou com outros médicos um pedido de impeachment de Jair Bolsonaro com bases científicas.

A seguir, trechos da entrevista:

FAKE NEWS NA SAÚDE:  “Uma análise mal colocada no whatsapp atinge todos. Uma informação inadequada. Como combater? Montando-se um grupo de pesquisadores gabaritados para combater as fake news e uma estratégia de comunicação. Fake news na saúde pública é crime”.

PROJETO DELIBERADO DE MORTE: “A professora Deisy Ventura da USP sustenta uma tese e publicou um artigo muito importante em que diz que não é incompetência, não é  descaso, não é omissão. É um projeto deliberado, que é uma racionalidade. Parte de um diagnóstico de um vírus respiratório e mistura com a política. ‘Não posso correr o risco de ter uma crise econômica gravíssima porque isso inviabiliza a candidatura para  2022’. Então a economia tem de vir na frente. Vai morrer gente? Vai. Paciência. Todo mundo morre” (referindo-se ao pensamento de Jair Bolsonaro).

DESGOVERNO: “Quando você soma isso com médicos terraplanistas, obsessão em armas, morte, uma companhia miliciana, é um desgoverno. A gente não tem governo.  Governo existe para proteger a vida e implementar políticas de melhorar as condições de vida da população. É um desgoverno total. Um governo que desconstrói a política de segurança, de proteção social, de saúde, educação”.

OBSESSÃO: “[É] um governo obcecado em distribuir armas. Quero chamar a atenção para dois aspectos: Um é o equívoco de chamar a epidemia de uma guerra. Numa guerra, existem perdas. Esta visão militar de que é uma guerra é equivocada. Numa guerra é normal morrer. Dois: a desigualdade. Os mais vulneráveis a este vírus são os moradores da periferia, negros. Esse vírus tem um viés de classe, sim”

*A entrevista completa está disponível no canal ABI do YouTube em: https://youtu.be/s2_urRgSkbM

Sobre o #ABISaúde

O #ABISaúde será quinzenal, sempre às sextas-feiras, no canal da ABI no Youtube, e contará com a participação de médicos, profissionais de saúde e especialistas em diferentes áreas, para esclarecer e tirar dúvidas sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida. Associados, jornalistas e demais pessoas interessadas podem também enviar perguntas previamente pelo email das@abi.org.br.

“Para estrear este espaço optamos por falar sobre a gestão da pandemia de Covid-19 e seus impactos na vida da população. Um ano depois de a OMS declarar a pandemia mundial do novo coronavírus, entendemos que este é um momento crucial para unirmos nossas forças contra um único inimigo comum. Contra o vírus das fake news, a valorização do trabalho da imprensa, com informação de qualidade, pode ser um antídoto”, afirma a diretora de Assistência Social da ABI, Rosayne Macedo.

O programa é uma das primeiras iniciativas do PLANO DE AÇÃO DAS 2021, recentemente submetido ao conhecimento da Diretoria Executiva e com apoio de integrantes do Conselho Deliberativo. A proposta de criação de um espaço para tratar de temas de saúde atende a uma demanda dos associados em relação a mais informações qualificadas sobre o tema, apontada na  pesquisa “A Saúde do Associado da ABI em Tempos de Pandemia”, realizada em abril do ano passado e que terá nova edição ainda este mês.

Os entrevistadores são integrantes da COMISSÃO, que hoje é formada pelos jornalistas Agata Messina, Ana Helena Tavares, Analea Rego, Cleyber Fintelman, Cristina Nunes, Glória Alvarez, Ilza Araújo, José Luiz Laranjo,  Malu Fernandes, Maria Inês Estrada, Paulo Marinho, Terezinha Santos, Vilson Romero e Yacy Nunes.

O Brasil é o novo epicentro mundial da pior crise sanitária de sua História. Com mais de 280 mil mortes, hospitais superlotados, equipes médicas esgotadas e sem leitos para tanta gente doente, o Brasil agoniza na UTI.  Como salvar mais vidas em um sistema público de saúde à beira de um colapso generalizado, enquanto não chegam vacinas para todos?  #ABISaúde – Porque informação é a nossa vacina.Sugestões e comentários para das@abi.org.brSobre o convidado: José Gomes Temporão é médico sanitarista e político luso-brasileiro. Foi ministro da Saúde durante boa parte do segundo mandato do governo Lula, entre 2007 e 2010. Atualmente é diretor executivo do Instituto Sul-americano de Governo em Saúde.Temporão se formou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1977. Especializou-se em Doenças Tropicais na mesma Universidade. Fez mestrado em Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz e doutorado em Medicina Social no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).Foi secretário de Planejamento do Inamps, presidente do Instituto Nacional do Câncer (Inca), presidente do Instituto Vital Brazil (IVB). É membro titular da Academia Nacional de Medicina.