ABI homenageia os repórteres fotográficos


02/09/2020


Por Alcyr Cavalcanti, membro da Comissão de Direitos Humanos da ABI

“Eu vou contar uma história. Isto é muito importante. Tenho que ter muita responsabilidade no registro de minhas imagens. Perseguir a dor, a morte e a desgraça alheia pode ser uma forma de exploração, mas a alternativa – permitir que a miséria humana permaneça clandestina e fora do alcance de uma ação seria muito pior”.

James Nachtwey

Estamos em mais uma crise do capital, caracterizada por escassez de frentes de trabalho, desmantelamento da estrutura sindical e associativa, competividade exacerbada que tem levado a um individualismo extremado, a uma concorrência desenfreada que beneficia somente, em nosso caso, os donos da mídia. As novas tecnologias obrigam os profissionais da imagem a renovar seu equipamento periodicamente para poder competir. Nesta fase tudo é tratado como mercadoria, dificuldades vão aumentando devido à necessidade da transmissão de dados no chamado tempo real. A apuração é feita de maneira acelerada, podendo levar em muitos casos à deturpação da informação, na maior parte das vezes incompleta. A melhor notícia é a que chega primeiro, pouco importa a veracidade da informação.

É o reino das Fake News e das Fake Photos para delírio dos embusteiros de todos os níveis. Para dificultar mais ainda nossa tarefa, a violência crescente que se encontra em todas as grandes cidades, principalmente no Rio e São Paulo apesar dos índices fornecidos pelo aparelho de Estado, ao que parece manipulados. A série de fatores dificulta, ou mesmo impede nossa atividade que é informar, através de imagens, as diversas situações de conflito que ocorrem diuturnamente.

Temos sido agredidos de todas as formas seja por um aparato repressivo extremamente violento e despreparado, seja por manifestantes desesperados e equivocados, que manifestam suas frustrações em trabalhadores que cumprem honestamente a tarefa de informar. Segundo o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana houve um crescimento significativo de casos de agressões a partir de 2012, principalmente após as manifestações de junho de 2013.

Profissionais no exercício de suas funções são ameaçados, agredidos, às vezes vitimados de maneira fatal, como nos casos dos repórteres cinematográficos Gelson Domingos e Santiago Andrade. Os repórteres fotográficos Alex Silveira e Sérgio Silva ficaram cegos atingidos por balas de borracha disparadas a esmo pelo aparato repressivo extremamente despreparado. Diariamente ameaças diversas são feitas contra profissionais da notícia, a maioria parte das autoridades que deveriam manter a lei e a ordem, prometidas em discursos vazios. Nossa tarefa, nossa missão é trazer a notícia através de imagens, feitas em frações de segundo, em instantes que não mais se repetirão.

Essa entidade abstrata chamada mercado, própria da fase atual do capitalismo aproveita a enorme oferta e procura aviltar os valores de uma imagem fotográfica, qualquer fotografia serve não importa a qualidade, desde que preencha as necessidades imediatas dos donos da mídia, ou de seus prepostos. Uma das características dessa nova, mas velha fase do capitalismo chamada por Ernest Mandel de Capitalismo Tardio é o investimento em novas tecnologias em detrimento dos enormes problemas de superpopulação e a consequente falta de moradias, escassez de alimentos, doenças de todos os tipos e atendimento médico cada vez mais precário. Em uma fase de desemprego crescente (apesar das estatísticas maquiadas) subemprego onde a máquina substitui o homem, que procura sobreviver a qualquer preço. Fica estabelecida a sobrevivência do mais forte, do mais “esperto”, um vale tudo ao estilo Big Brother, onde é cada um por si, todos contra todos.

Para tentar frear um estado de coisas que pode nos levar à barbárie é necessário resistir, trazer de volta o espírito associativo, comunitário onde a fraternidade e o auxílio mútuo substituam o individualismo exacerbado, a concorrência desleal com a eliminação do concorrente a qualquer preço. É preciso lembrar que o inimigo não é o outro, o profissional que luta e sofre como nós, mas os donos do capital, os únicos que lucram com essa situação em que estamos inseridos. O velho embate Capital X Trabalho permanece, mais vivo do que nunca.

A chamada captura de imagens via internet avilta cada vez mais e submete as imagens a um processo de massificação e consequente desvalorização, onde nada é importante porque tudo é importante. Começa o declínio das agências fotográficas, na Europa e Estados Unidos e a valorização excessiva da cobertura da vida íntima de celebridades, candidatas a quinze minutos de fama, em detrimento das chamadas Hot News ou noticiário do dia a dia, de certa forma uma estratégia para mascarar o que de fato importa.

Hoje proliferam as revistas especializadas e jornais diários dedicam espaço a esse tipo de jornalismo. Para Pierre Bourdieu “o jornalismo de instrumento da democracia, transformou-se em instrumento de opressão simbólica”. São os novos tempos envelhecidos do século XXI. A fase atual da economia agravada pela pandemia é um desafio para todos aqueles que produzem imagens.

Teremos que buscar novos caminhos que tenham como objetivo demonstrar a importância do fotojornalismo como um fator essencial para a compreensão das situações sociais na caminhada para um mundo melhor.

Galeria de imagens de fotojornalistas