Missa de 7º dia do companheiro Arnaldo César será na sexta (22)


A Missa de 7.o Dia do companheiro Arnaldo César será realizada nesta sexta-feira (22), às 10h00, na Paróquia Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, no Rio de Janeiro.
 

Foto: Teresinha Santos, na posse da nova diretoria da ABI

É com profunda tristeza que a Associação Brasileira de Imprensa comunica o falecimento, ocorrido na manhã de sexta-feira (15), no Rio de Janeiro, do nosso conselheiro, diretor e coordenador da Comissão de Tecnologia e Inovação, Arnaldo César Ricci Jacob, aos 71 anos, vítima de um câncer no cérebro. Ele estava internado desde o dia 27 de junho.

Associado da ABI desde 1976, Arnaldo César teve participação destacada na nossa entidade, especialmente na construção do Movimento ABI Luta Pela Democracia, que retomou a direção da ABI, em 2019.

“Muita tristeza!!! Perdemos um amigo e companheiro de muitas lutas. Sem Arnaldo, não haveria o movimento ABI Luta pela Democracia. A ABI perde um diretor dedicado e incansável. Nossa entidade, tão amada por Arnaldo, está de luto”, disse o presidente da ABI, Octávio Costa.

O velório, realizado neste sábado (16), das 10h00 às 14h00, no saguão do 9.o andar da ABI, reuniu inúmeros jornalistas e companheiros de Arnaldo César, que foram se despedir e render suas últimas homenagens e condolências à viúva Ivete e à filha Laura. Em nome dos jornalistas, falaram o presidente da ABI, Octávio Costa, e o conselheiro Marcelo Auler, grande amigo de Arnaldo.

A viúva Ivete se despede do companheiro

Fotos: Moysés Côrrea e Terezinha Santos

A ABI recebeu centenas de mensagens de condolências, enviadas por associados de todo o país, jornalistas, parlamentares e amigos. O ex-presidente da ABI,  Paulo Jerônimo (Pagê), enviou a seguinte mensagem:

“Estou extremamente abalado com a notícia do falecimento do Arnaldo César. Fomos amigos e parceiros por mais de 50 anos, como nas lutas pela reconquista do Sindicato dos Jornalistas na década de 70 e em várias batalhas na defesa pela liberdade de imprensa. Na ABI estivemos sempre juntos, como na campanha para a sucessão de Maurício Azedo. Fomos parceiros na Comissão de Liberdade de Imprensa na gestão Domingos Meirelles. Ele foi um dos artífices da vitoriosa chapa ABI LUTA PELA DEMOCRACIA, em 2019. Como Diretor de Inovação Tecnológica estivemos novamente juntos na árdua luta para a recuperação da imagem da ABI, finalmente conquistada. Deixa um legado como um dos baluartes nas lutas pela liberdade de expressão. É uma perda inestimável. Estou muito comovido com o seu falecimento. Envio meus sentimentos à Ivete e sua filha. Descanse em paz,  Arnaldo”.

Perfil
Arnaldo César Ricci Jacob nasceu em Ponta Grossa (PR), em 2 de dezembro de 1950. Em 1972 formou-se pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj/RJ) e em 2011 concluiu MBA pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Começou a trabalhar em 1966, como ajudante de impressor no Diário dos Campos, em Ponta Grossa (PR), onde permaneceu até 1969. Com 18 anos, transferiu-se então para o Rio de Janeiro (RJ), onde solidificou a carreira jornalística. Passou pelas redações e sucursais de importantes veículos cariocas, a começar pelo Correio da Manhã, onde ficou de 1969 a 1970. No Diário de Notícias, foi repórter em 1971. Depois, ingressou em O Globo, também como repórter, onde ficou de 1971 a 1972, ano em foi para O Jornal.
Foi repórter especial da TV Globo entre 1973 e 1979. Exerceu a mesma função na revista Manchete em 1979. Entre esse ano e até 1986, chefiou o escritório de Exame na cidade. Já em 1987 e até 1990, trabalhou como editor de Economia e Negócios no Jornal do Brasil. Também foi chefe de Redação de Veja entre 1991 e 1996. Em 1997 tornou-se diretor executivo de O Dia, no qual permaneceu até 2004. De volta à televisão, chefiou a Redação da TV Bandeirantes entre 2005 e 2007.
Foi presidente da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), empresa subsidiária da TV Brasil, em 2007.
Em 1992 recebeu o Prêmio Febraban na categoria Economia e Negócios. Em 1993, conquistou o principal Prêmio Abril de Jornalismo.
Em 2022 foi reeleito como membro efetivo do Conselho Deliberativo da ABI e coordenador da Comissão de  Tecnologia e Inovação.

 

Membro do Conselho Deliberativo da ABI representava a entidade no Observatório da Sociedade Civil no Processo Eleitoral do TSE. Lembramos aqui, a entrevista dada a Irene Cristina, presidenta do Conselho Deliberativo da ABI, em abril de 2022, sobre seu trabalho no Observatório:

 

Em homenagem ao nosso bravo companheiro Arnaldo César republicamos uma entrevista dele dada ao site da ABI, em agosto de 2006:

 

Entrevista – Arnaldo César Ricci Jacob

Em busca de agilidade e conteúdo

Claudio Carneiro
18/08/2006

Paranaense de Ponta Grossa, Arnaldo César Ricci Jacob trabalha na imprensa desde os 16 anos de idade. Começou como linotipista de um jornal daquela cidade, onde respirou o vapor de chumbo e aprendeu a operar as máquinas. Depois, passou para a Revisão. Com 18 anos, chegou ao Rio de Janeiro, onde fez de tudo na carreira: além de repetir a experiência como linotipista e revisor, foi repórter, editor e até dirigiu carro da Reportagem. Agora, está assumindo a Direção Geral de Jornalismo da TV Bandeirantes no Estado.

ABI Online — O senhor passou por importantes jornais e revistas do País. Como foi essa trajetória?
Arnaldo César Ricci Jacob — Logo que cheguei de Ponta Grossa, fui fazer um estágio no Correio da Manhã. Depois passei pelo Diário de NotíciasO Jornal, TV Globo, as revistas Manchete e Exame e o Jornal do Brasil — e, enquanto estava no JB, fazia também o comentário econômico na Rádio Jornal do Brasil. Tive duas importantes passagens pela Veja. Mais tarde, vieram O Dia, a TV Alerj, e agora este novo desafio, na TV Bandeirantes. A maior parte da vida profissional, passei na Editora Abril, onde fui Diretor da sucursal Rio da Exame e editor da Veja; em duas passagens, acumulei 15 anos. A minha “baiana” é bastante rodada. Além disso — enfrentando, como todo jornalista, uma jornada dupla de trabalho — fui correspondente de uma agência internacional chamada Interpress Service, que tem sede na Itália e da qual, hoje, apenas faço parte do Conselho.

ABI Online — Que mudanças ou inovações o senhor pensa em levar para a Band?
Arnaldo César — Cheguei há poucos dias na Bandeirantes, onde fui convidado a dirigir o Jornalismo. Esta é uma operação infinitamente mais complexa do que o trabalho na TV Alerj — que deixei recentemente —, pois aqui, além dos telejornais de rede, temos jornal local, as três emissoras de rádio e três de TV — sendo uma aberta e duas por assinatura —, além de um quarto canal de televisão, em Barra Mansa, no Sul do Estado. No momento em que você está me entrevistando, ainda estou fazendo diagnósticos, observando rotinas, enfim, vendo as coisas e corrigindo algumas que já percebo. O projeto maior virá depois.

ABI Online — Como o senhor vê a empresa que vai dirigir?
Arnaldo César — A Band é, tradicionalmente, uma empresa jornalística. Não só a rádio, mas também a TV tem essa marca de tradição jornalística muito forte. É uma empresa constituída por bons jornalistas. O que vou tentar fazer, na verdade, será agregar valor. Temos um telejornal local que precisa ser redirecionado, na medida em que concorre com outros telejornais, de outras redes, no mesmo horário. É preciso repensar o caminho que ele vai tomar, para não ficar igual aos demais, concorrendo com as mesmas informações e matérias rigorosamente iguais. Isso é complicado. Vamos buscar um caminho para ele. Aqui temos também a Rádio Band News Fluminense, que é uma rádio all news e está em processo de consolidação. Este será, certamente, um lugar onde teremos muito trabalho para fazer.

 

ABI Online — Qual o maior desafio?Arnaldo César — O desafio agora não é só colocar no ar o factual, é se antecipar aos acontecimentos. E para isso necessitamos de uma matéria-prima muito importante: jornalistas com fontes e com experiência. Como o volume de informação é muito grande, o leitor, às vezes, tem dificuldade de entender certos fatos. Cabe aos veículos — jornais, rádios e TVs — explicar aquela “maçaroca” toda de informação, para que ele possa entender o que está por trás do que está recebendo.

Hoje, no jornalismo moderno, há uma concorrência muito forte pela velocidade exclusividade da informação, especialmente depois que surgiu a internet e os sites de informação, muitos deles, aliás, ancorados em grandes redações, como as do Estado de São Paulo, do Washington Post e do New York Times. Isso criou um desafio novo para as rádios: a velocidade deixou de ser um privilégio delas.

ABI Online — Como será isso na prática?
Arnaldo César — Veja agora, por exemplo: estamos no meio de uma guerra do tráfico, 23 pessoas morreram nos últimos dias, no Vidigal, no Juramento, no Complexo do Alemão, no Dona Marta. O leitor, ouvinte ou telespectador vai recebendo isso “picado”. Como é tudo muito rápido, às vezes o cara não entende por que se mata tanta gente no Rio de Janeiro. E, em função dessa velocidade, nem os veículos se dão ao trabalho de explicar que estas não são mortes isoladas, mas que estão num contexto da guerra do tráfico que assola o estado. Lá em São Paulo, já estamos em 180 e tantos atentados provocados pelo PCC. Estas são estatísticas claras de um país que está em guerra. Então, em algum momento, alguém tem de chegar e explicar o que está acontecendo. Esta é uma concepção que a gente pretende dar. As televisões estão cheias de comentaristas. Temos aqui o Joelmir Betting, que fica “entendendo” a economia para as pessoas.

ABI Online — O comentarista terá papel importante?
Arnaldo César — O comentarista tem que explicar ao espectador como os fatos do dia-a-dia impactam a sua vida. É preciso ter esse cuidado. Afinal, esses fatos não estão desconectados da vida das pessoas. Elas precisam entender que cada fato tem a ver com suas vidas. E não é só a questão da segurança; tem a economia, a política etc. Essa é a tendência.

 

ABI Online — A questão é se conectar?
Arnaldo César — A questão é como vamos conviver ou como vamos concorrer com a internet. E as respostas são basicamente duas: o New York Times e o Washington Post, alguns jornais europeus e o japonês Asahi Shimbun acham que ganham essa concorrência com a internet na exclusividade e na qualidade da informação. Quanto mais histórias exclusivas eles contarem para seus leitores, mais fidelidade terão. Essa opção implica em alto custo, na qualificação cada vez maior do profissional, uma vez que o jornalista tem que estar cada vez mais bem preparado. Sou um militante desta corrente

Outra corrente aposta que a informação é uma commodity que deve ficar disponível a qualquer momento, em todos os lugares, em todos os sites — e que o seu veículo tem como saber como tirar essas informações das agências, da internet, da radioescuta e criar um produto em cima disso para os leitores. Os que apostam nessa segunda opção acreditam no baixo custo para a produção de informação.

Mas o grande segredo desta história toda é a credibilidade. Em 2004, estive num congresso da International Newspaper Marketing Association (INMA) — uma entidade norte-americana que congrega 480 jornais. Lá, tive a oportunidade de conversar com a então Vice-presidente do New York Times, Janet Robinson. Ela me contou que, para o jornal se preparar para esta nova realidade e agilizar sua distribuição, foram investidos US$ 1 bilhão em infra-estrutura em cross media — que é o cruzamento destas mídias eletrônicas com as chamadas mídias impressas — e na formação de pessoal. No dia em que conversamos, discutia-se na Redação o pedido de desculpas aos leitores pela cobertura feita da guerra do Iraque. A tensão na Redação era grande, porque estava em discussão a credibilidade do jornal. Eles consideraram que cometeram muitos erros. E a redução dos erros só se faz através da qualificação do pessoal com quem se trabalha. Parte desse investimento de US$ 1 bi também foi para treinamentos e cursos na Redação — e treinamento ali não é ficar discutindo lead e sublead, essas coisas. É para formar o cara sobre a História do Oriente Médio e outros temas com que ele vai lidar no dia-a-dia. Esse tipo de treinamento passa pelos veículos eletrônicos.

ABI Online — Tudo isso requer sempre grandes investimentos?
Arnaldo César — Você sabe qual a grande vantagem da nossa profissão? Nós somos que nem vinho. Nós nos tornamos profissionais melhores quanto mais velhos ficamos, ao contrário de outras profissões. Vamos acumulando experiências. Se você quer uma matéria bem escrita, se você quer uma informação com profundidade, tem que fazê-la com um jornalista de cabelo branco. Se você entrar na redação do Washington Post, a incidência de cabelos brancos é um negócio fantástico.

ABI Online — Mas nas redações aqui no Brasil não é o que se vê…
Arnaldo César — Aqui não. Tem muita gente jovem. Mas eu acho que, à medida que o leitor — ou o telespectador, ou o ouvinte — começar a demandar mais profundidade, teremos de lançar mão de experiências acumuladas. Isto é um sintoma animador, que vai gerar também um leitor mais bem informado.

 

ABI Online — O senhor acha que, num momento em que a agilidade do noticiário é tão cobrada, haverá espaço para acrescentar informações de aspecto histórico ou cultural à notícia?
Arnaldo César — Sim. Ou você faz isso na pré-produção, no caso das rádios e TVs, transmitindo aos repórteres o planejamento da matéria, ou você faz na apuração. Quanto mais bobinhas forem as matérias, mais o jornalista deixou de exercer o papel de filtro, de criticar alguns conteúdos ou de imprimir seus próprios conhecimentos à informação final. Quanto melhor o filtro, melhor será o resultado. É nisso que devemos insistir. Não somos um mero suporte de microfone. A gente tem de interagir com o entrevistado, a gente pode questionar e criticar. Essas são funções clássicas do jornalista que, diante da nova concorrência, ficam mais aguçadas. Como você escolhe uma rádio para ouvir ou um jornal para ler? O veículo tem de agregar algum valor ao seu conteúdo. Você compraria um jornal que conta tudo o que você já sabe?

ABI Online — Leitor quer novidade…
Arnaldo César — Ele precisa de histórias novas. O jornalismo precisa de jornalistas que saibam trabalhar com fontes de informação. Em todo o processo na redação, essa preocupação tem de existir: Não é só o repórter que está ali na ponta, mas todos precisam trabalhar nesse sentido e com essa preocupação de buscar a informação nova. Jornalista que trabalha com fonte ainda é um conceito incipiente no jornalismo brasileiro. As pessoas não têm essa formação.

Meu patrimônio nesses quase 40 anos de profissão é a minha agenda com as minhas fontes, as pessoas que me conhecem, que gostam de mim, que confiam em mim, que me respeitam, que sabem que vão entregar uma informação e que ela não será usada de maneira leviana, pessoas que atendem um telefonema meu na hora — o que, aliás, é uma coisa que hoje em dia, com o real time, é muito valorizado. Tudo isso é um patrimônio que o jornalista forma.

ABI Online — Mudando um pouco de assunto, esta não é sua primeira experiência em TV.
Arnaldo César — Eu venho da experiência de um ano e meio na TV Alerj, onde tive, na verdade, o trabalho de remontar um canal de televisão. Quando cheguei lá, não existia grade de programação, telejornais, programas definidos, essa coisa toda. Então, fui organizar o canal nesta direção. Hoje, você sintoniza o canal e sabe que em tal horário tem determinado programa. Fizemos lá três telejornais diários e uma revista semanal. E criamos conceitos de apuração, que chamávamos lá de “caminho de mão dupla”: buscávamos informações dentro da Alerj, a partir dos projetos de lei, dos eventos internos, e as transformávamos em reportagem de TV, buscando aproximar os temas dos telespectadores e eleitores. O objetivo era mostrar que o que se decidia ali tinha a ver com a vida das pessoas. Também pagávamos os assuntos daqui de fora e os repercutíamos lá dentro, com os deputados. A mágica disso era tentar fazer uma televisão que mostrasse ao telespectador que o que se faz lá — apesar de tudo o que se fala — é uma coisa importante.

A TV Alerj é uma televisão legislativa, mas tentamos imprimir ali o conceito de televisão pública. Com base nisso, fizemos vários convênios com produtores de conteúdos, inclusive com a Public Broadcast Service (PBS), que é a maior rede de televisão pública dos Estados Unidos. Este convênio abrangeu a troca de programas e treinamento e formação de pessoal da TV Alerj. Firmamos outros convênios: com a Multi-Rio — que é uma boa produtora de conteúdo da Prefeitura do Rio de Janeiro —, o STV — grande produtor público do Sesc e do Senac em São Paulo —, o Sebrae, a Radiobrás, os canais legislativos — TV Senado e TV Câmara — e algumas universidades, como a UFRJ e a UFF.

ABI Online — E sua atuação, digamos, política, tanto em sindicatos quanto na ABI?
Arnaldo César — Em 69, eu trabalhava na TV Globo e resolvi assumir a Direção do sindicato da categoria no Rio, que estava na mãos de uns pelegos. Houve uma espécie de uma frente de jornalistas, em todas as redações, que se juntaram, num grande esforço, para ganhar essa eleição. A partir daí, tive uma vida sindical, convivi com as pessoas. Logo depois da morte do Dr. Barbosa Lima Sobrinho — eu já estava no jornal O Dia — vi se repetir esse tipo de movimento de jornalistas para assumir a ABI. Participei de um grupo de jornalistas que concorreu e acabou redundando na ida do Maurício Azêdo para a Presidência da Casa. Faço parte do Conselho da ABI, mas confesso que sou um Conselheiro meio relapso, meio ausente, porque minha jornada de trabalho nunca é menor que 12 horas por dia. 

E uma entrevista, ao tele.síntese, em maio de 2020

O COMBATE ÀS FAKE NEWS DEVE SER COM A CHECAGEM DA INFORMAÇÃO, DEFENDE ABI

Desde as eleições de 2014, a ABI participa de debates e projetos sobre notícias falsas. Inclusive foi parceira de experiência contra a disseminação de fake news em relação à pandemia do novo coronavírus e tem projeto de checagem sobre notícias faltas nas eleições deste ano apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para Arnaldo César Ricci Jacob, dirigente da entidade, “a maneira mais efetiva de combater as fake news é checando a informação”.

Ele observa que a liberdade de expressão e de imprensa necessariamente tem que estar acompanhada de responsabilidade. Mesmo admitindo que a  internet “é terra de ninguém”, recomenda que não se dê poder às plataformas da internet para fazerem a censura.

Mas ressalta que as tecnologias a serviço das fake news e da difamação estão se tornando bem mais sofisticadas, como é o caso do uso de tecnologias que vieram dos efeitos especiais do cinema e que estão sendo usadas para trocar um personagem do vídeo, ou colocar outra frase da boca de pessoas, conhecidas como “deep fakes”.

Seguem principais trechos da entrevista:

Tele.Síntese — Qual é sua avaliação sobre os casos recentes envolvendo ações de combate a fake news tanto no Brasil, por conta de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), quanto no exterior em razão de ameaças do presidente Donald Trump contra as grandes plataformas digitais?

Arnaldo César Ricci Jacob — As grandes plataformas (Google, Facebook, Instagram, Twitter) estão sob acusação de invasão de privacidade, de concorrência fraudulenta, essas coisas. Com relação ao Brasil, nós temos essa investigação que está sendo feita pelo STF e temos no Senado e na Câmara dois projetos para combater as fake news.

Há no Parlamento um esforço grande para aprovar um projeto em uma situação absolutamente caótica. O próprio Parlamento não consegue se reunir regularmente, está se rendendo às videoconferências, e eles estão trabalhando para aprovar esse projeto. E qual é a razão deles para isso? O que está por trás? Os parlamentares precisam de uma ferramenta qualquer para se defenderem da disseminação de fake news nesta eleição que vem aí.

A ABI tem observado o fenômeno das fake news desde as eleições de 2014, que já se fez sob o impacto da Cambridge Analytica, ou seja, foi a utilização das redes sociais para fazer campanha política nos Estados Unidos, que, para a surpresa de todos, elegeu o Donald Trump. O grande problema é que ninguém consegue definir com precisão o que vem a ser as fake news. Então, a maneira mais efetiva de combater é checando a informação.

A ABI, em parceria com o Instituto FioCruz da Bahia e a Universidade Federal da Bahia, criou um grupo chamado COVIDA, formado por jornalistas, cientistas, pesquisadores, infectologistas, professores de medicina. A intenção do grupo é pegar informação científica sobre o COVID-19 e fornecer informações para todos os veículos e combater fake news.

Tele.Síntese — Poderia citar exemplo de fake news sobre a pandemia?

Ricci — A proliferação de fake news na área da saúde é muito grande. Já desmontamos fake fews disseminadas inclusive por Carlos Bolsonaro e assinadas por ele. Como por exemplo, uma montagem feita por ele, sobre o isolamento, e divulgada inicialmente pelo gabinete do ódio para o sul do país, visto que na região se concentra o maior número de apoiadores do Bolsonaro. Nesta fake news, conseguimos percorrer todos os caminhos, a verdade, quem disseminou, o que realmente foi dito e colocamos nas redes uma “vacina” explicando o que era realmente a verdade. Há outros exemplos envolvendo a cloroquina.

Tele.Síntese — Qual é a preocupação com os projetos  PL 2630/2020, do senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE), e PL 2927/2020, dos deputados Felipe Rigoni (PSB/ES) e Tabata Amaral (PDT/SP), que tramitam no Congresso brasileiro?

Ricci — Esses  projetos defendem que o simples fato da pessoa ir lá, reclamar e provar que é falso, deve fazer a empresa que opera a plataforma retirar do ar. No caso do Trump, o Twitter anunciou, em meados de abril, os critérios utilizados para fiscalizar essas informações produzidas por terceiros na sua plataforma. O conteúdo do presidente foi analisado e concluiu-se que havia potencial duvidoso.

Tele.Síntese — Esses PLs têm chance de vingar se votados agora? Atentam contra a democracia?

Ricci — Essa história é muito recente e estes projetos estão tramitando em uma velocidade espantosa, mas o Parlamento deveria se ocupar de questões essenciais, prioritárias. Sob o ponto de vista da sociedade, esse tema não é prioritário. Sob o ponto de vista dos políticos, eles querem para se proteger nas eleições. As reuniões da Câmara e do Senado acontecem por teleconferência e às vezes tem menos de 20, 30 pessoas, e esse tema será julgado nessas condições.

Ao lado de outras instituições, a ABI defende que esses projetos sejam debatidos em audiência pública com todos os segmentos da sociedade interessados.

Tele.Síntese — Esse combate às fake news, como também a investigação feita no STF, interfere na questão da liberdade de expressão? Até onde vai o poder de liberdade dos aplicativos?

Ricci — Se analisarmos o que está acontecendo na investigação feita pelo ministro Alexandre Moraes, não há somente as informações falsas, mas também outros crimes que podem ter sido cometidos como difamação, invasão de privacidade, chantagem e ameaça de morte. Tanto no Congresso quanto no Supremo acho que há dificuldade em estabelecer o que é uma fake news. Acredito que, no caso da investigação do STF, serão criados mecanismos de proteção dos ministros, mas terá como consequência o desmonte das estruturas brasileiras de financiamento da disseminação das fake news. Tanto que recolheram provas não só de parlamentares, mas também de empresários e jornalistas. Sob o ponto de vista político, a utilização de fake fews nas eleições de 2018, se analisadas e investigadas pelo STF, poderão resultar na anulação das eleições de 2018, que elegeu Bolsonaro e Mourão. E aí surge uma nova crise, um novo problema.

Tele.Síntese — A ABI entende que o direito de expressão do cidadão é absoluto ou pode ser passivo de filtros por significar crimes?

Ricci — A ABI acha que a liberdade de expressão e de imprensa, necessariamente devem estar acompanhada da responsabilidade. Os profissionais de imprensa, quando se expressam utilizam desse direito, precisam estar sempre cientes de que aquilo que estão escrevendo, falando, opinando tem que ter um calço na realidade, na verdade.

A internet é “terra de ninguém”, todo mundo escreve o que bem entende. As pessoas precisam ter responsabilidade. Não é preciso censurar as pessoas, mas é preciso estabelecer fronteiras, isso é o que foi tentado no Marco Civil da Internet. A sensação que eu tenho é que hoje há uma polarização muito grande no Brasil e no mundo, e as pessoas se agridem de uma forma absolutamente irracional porque isso é algo que eles trazem das redes sociais. Lá o cara escreve o que quer, ofende todo mundo.

Tele.Síntese — A liberdade de se dizer o que quiser e ser responsável por isso, deve ser mantida ou não? E as plataformas, devem ser responsabilizadas por veicular esses tipos de insultos?

Ricci — Acho que as pessoas podem falar o que quiserem e respondem pelo que falam. Você precisa ter a noção de que será responsabilizado. No plano pessoal, é uma questão complicada, se as plataformas podem censurar, colocar filtros, é extremamente complexo e delicado. Porque se você der pleno poder para essas plataformas retirarem os conteúdos, você terá problemas de censura.

Tele.Síntese — Mas o Marco legal da internet não prega a neutralidade da internet?

Ricci — Não sei se pode ser classificado como neutralidade a hipótese das redes retirarem o conteúdo. [O Marco Legal] admite a possibilidade de retirar se for efetivamente falso. As mídias da internet podem fazer essas correções, desde que tenham dito para os usuários quais são os critérios. Há determinados conteúdos que não há o que se discutir. Por exemplo, há um consenso da maioria esmagadora da sociedade de que usar essas redes sociais para a promoção e veiculação de pedofilia é inaceitável. Conteúdos que façam apologia ao fascismo, nazismo, ao holocausto, não tem o que se discutir também, mas há outros conteúdos que a questão não é tão simples e cristalina assim.

Hoje, nesta área de fake news há um avanço tecnológico muito grande, por exemplo no qual o cara pega um vídeo e insere características de outra pessoa, pega o áudio e troca, coloca paródia, conhecidas como “deep fakes”. Estão usando softwares de altíssima complexidade a partir de identificação visual, que alteram as imagens e os áudios. A pornografia na internet também usa muito esse recurso.Há conteúdos que são pornográficos e que  retira o rosto de um ator e coloca no lugar o rosto de outro ator. Aqui no Brasil essa tecnologia ainda é pouco usada, já que custa muito caro.