ABI celebra 105 anos com show e debates


03/04/2013


 

A Associação Brasileira de Imprensa comemora o 105º aniversário de fundação com um show do cantor e compositor Monarco e a Velha Guarda da Portela, na próxima segunda-feira, dia 8, às 19h, no Auditório Oscar Guanabarino, localizado no 9º andar do edifício sede da entidade. A apresentação do evento será feita pelo jornalista, escritor e pesquisador Sérgio Cabral, Conselheiro da Associação. A entrada é franca.
 
A ABI foi criada em 7 de abril de 1908, pelo jornalista Gustavo de Lacerda, com o objetivo de assegurar os direitos aos trabalhadores da imprensa. Ao longo de mais de um século de existência, a entidade expandiu a sua atuação e liderou importantes movimentos em defesa das liberdades e dos direitos humanos, prosseguindo na luta por sua missão institucional e em benefício do povo brasileiro.
 
Um dos pilares da história do samba, a Velha Guarda da Portela se une à ABI para esta comemoração, aplaudida pelos integrantes do grupo musical, em especial, o compositor Monarco, que foi funcionário da entidade entre 1947 e 1950.
 
Filho do marceneiro e poeta José Felipe Diniz, que chegou a publicar poemas no Jornal das Moças, Monarco nasceu no bairro de Cavalcanti e foi criado em Oswaldo Cruz, onde freqüentava as rodas de samba desde pequeno. Recebeu o apelido de Monarco aos seis anos em uma brincadeira de rua. Aos 11 anos já compunha seus primeiros sambas para blocos do subúrbio e aos 14 anos ingressou nos quadros da ABI.
 
— O Machado, meu vizinho em Oswaldo Cruz, era chefe da portaria na ABI e conseguiu um emprego para mim. Eu fazia serviços de office- boy e também de limpeza do 11º andar, onde se reuniam muitas personalidades importantes, como o Barão de Itararé (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly), Abdias Nascimento, Nássara e Villa-Lobos, que gostava muito de jogar bilhar francês.
 
Autor de “Vida de Rainha”, “Passado de Glória” e “Coração em Desalinho”, entre outros sucessos, Monarco lembra que o ambiente da ABI era pontuado pela descontração e cordialidade.
— A Casa era presidida por Herbert Moses e o clima era muito alegre. Já naquela época eu só queria saber de samba e vivia batucando junto com o Tupi, que era engraxate na barbearia da Associação. Um dia eu estava cantando e sambando com a vassoura na mão, junto com o Tupi, quando Herbert Moses nos flagrou. Ele ficou com a cara amarrada para mim durante algum tempo. Logo depois eu fui demitido. Guardo no meu coração os momentos bons na Associação. Considero uma honra participar desta homenagem à ABI ao lado do meu amigo, o Presidente Maurício Azêdo.
 
Guaracy 7 Cordas, outro integrante da Velha Guarda da Portela,  começou a tocar violão no subúrbio carioca de Boca do Mato. Chegou à Portela por intermédio de Osmar do Cavaco, e passou a compor em parceria com Candeia e outros sambistas. Para Guaracy, a participação no show da ABI será um momento especial:
—Eu gostaria muito de agradecer à ABI tudo o que ela tem feito pelo País e por todos nós. Não adianta falar muito. É melhor cantar e, através da música, agradecer a luta da ABI e de todos os seus dirigentes. Esta homenagem é muito justa. 
 
Nascida em 17 de novembro de 1940, criada em Madureira, Iranete Ferreira Barcelos, a Tia Surica, é membro da Velha Guarda da Portela desde 1981. Considerada uma das lendas vivas da Portela, Tia Surica ficou conhecida pelos dotes culinários e as famosas rodas de samba que promove na Portela, onde desfilou pela primeira vez aos 4 anos de idade. A festa de aniversário da ABI representa, na opinião de Surica, uma oportunidade para festejar a história do samba:
— A Velha Guarda da Portela se sente muito honrada em aplaudir este momento histórico para a ABI, especialmente através do samba, que no passado foi muito desvalorizado e marginalizado. Vencemos o preconceito e podemos mostrar a essência da nossa cultura no palco da Associação Brasileira de Imprensa, que reúne um passado de glória tão importante, assim como todas as velhas guardas.
 
Sérgio Procópio da Silva, mais conhecido como Serginho Procópio, é o caçula da Velha Guarda da Portela. Nascido em 5 de dezembro de 1967, entrou para o grupo após a morte de seu pai, Osmar do Cavaco, de quem herdou a paixão pelo samba e o cavaquinho.
 
— Será um prazer participar desta homenagem à imprensa brasileira. Devemos muitas conquistas à força da imprensa e ao trabalho dos jornalistas em defesa da nossa cultura, disse Sérgio.
 
História
 
A formação original da Velha Guarda reuniu Alberto Lonato, Alcides Dias Lopes, Alvaiade, Aniceto, Antônio Caetano, Antônio Rufino dos Reis, Armando Santos, Francisco Santana, Manacéa, Mijinha e Ventura. Ao longo dos anos, os integrantes mais idosos foram sendo substituídos.
 
De acordo com Monarco, para ingressar na Velha Guarda “é preciso ter passado”, e a escolha de novos componentes segue a tradição até hoje.
 
O primeiro CD da Velha Guarda, “Portela Passado de Glória”, foi lançado em 1970, com produção de Paulinho da Viola. Desde então, grandes nomes da música gravaram com o grupo, como Marisa Monte, Zeca Pagodinho, Cristina Buarque, Diogo Nogueira, Beth Carvalho e Teresa Cristina.
 
A trajetória de sucesso do grupo contribuiu para o resgate da memória do samba e da arte dos compositores. Fonte de inspiração para livros e filmes, a Velha Guarda da Portela reúne atualmente as pastoras Áurea Maria, Surica, e Neide Santana; os compositores Monarco e Davi do Pandeiro; e os músicos, Guaracy 7 Cordas, Serginho Procópio, Marquinhos, Timbira e Dinho.
 
— Nosso objetivo é não deixar morrer os sambas despretensiosos, sem intenção comercial, afirma Serginho Procópio.
 
Debate
 
Como parte integrante das comemorações dos 105 anos da ABI, será promovido na próxima terça-feira, dia 9, a partir das 14h, o seminário “Direitos Humanos – Ontem e Hoje”, no Auditório Oscar Guanabarino.
 
Participam da primeira mesa de debates o advogado paraguaio Martin Almada, pesquisador dos arquivos da Operação Condor; a professora Nadine Borges; integrantes da recém-criada Comissão da Verdade do Estado do Rio de Janeiro; Victoria Grabois, do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ; e o advogado Modesto da Silveira, Conselheiro da ABI e membro da Comissão de Ética Pública, da Presidência da República.
 
A segunda mesa de debates, que vai discutir questões relacionadas aos direitos humanos, reunirá o cineasta Silvio Tendler, o professor Michel Misse, do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS-UFRJ e Coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ – NECVU; o jornalista André Fernandes, Diretor da Agência de Notícias das Favelas e pesquisador sobre questões de violência em áreas segregadas; e o Vereador Renato Cinco(PSOL).