ABI aplaude Imprensa e Zuenir Ventura


02/06/2011


ABI homenageou o Dia da Imprensa e o 80º aniversário do jornalista Zuenir Ventura em cerimônia realizada na tarde desta quarta-feira, dia 1, na Sala Belisário de Souza. Dezenas de pessoas prestigiaram o evento, entre jornalistas, Conselheiros e associados da ABI, colegas e admiradores de Zuenir Ventura.

 
A mesa de honra foi formada por Pery Cotta, Presidente do Conselho Deliberativo da Casa, pelos Diretores da entidade, Domingos Meirelles e Ilma Martins, pelo jornalista Cícero Sandroni, Conselheiro da ABI, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, por Mary Ventura, mulher do homenageado, e pelo cartunista Ziraldo.
 
Avesso a comemorações, Zuenir Ventura explicou os motivos que o levaram a abrir exceção no aniversário de 80 anos:
—A ABI é nossa Casa, com sua história de luta pelas liberdades. Quando entrei aqui hoje, senti uma emoção muito grande. Nunca pensei que um dia eu estaria na ABI como personagem e para comemorar meus 80 anos. É uma honra que vale a pena qualquer sacrifício, como o de me expor, para celebrar esta data junto com a ABI, afinal, não é qualquer um que faz 80 anos. Fiquei muito feliz e rendido. Só estou tenso por não gostar da exposição, mas imagina se eu gostasse.(risos)
 
A solenidade teve início com a saudação de Pery Cotta aos presentes e ao homenageado:
—Nesta data, 1º de junho, comemoramos o Dia da Imprensa e a figura que a representa: Zuenir Ventura, Mestre Zu. Com a ausência do Presidente Maurício Azêdo, que está em Belo Horizonte para o lançamento da representação da ABI em Minas Gerais, tive a sorte de presidir esta solenidade. Fui um dos muitos discípulos de Zuenir Ventura no início dos anos 1960, na Tribuna da Imprensa. Sua esposa, Mary, era nossa companheira de redação. Nesta época, Zuenir já era um mestre, ou melhor, o ‘Divino Mestre’, como os repórteres do jornal o chamavam, não só pela capacidade intelectual, pelo texto espetacular, pelo dom natural da escrita, mas também por ser uma das figuras mais doces, mais cordiais, mais amigas que conheci em toda a minha vida. Ele sempre tinha uma palavra de carinho, de atenção, principalmente com o repórter que estava começando a carreira. Ele ensinava a escrever e, acima de tudo, ensinava a importância da liberdade de imprensa para a democracia. Não foi à toa que ele nasceu na data em que se comemora o Dia da Imprensa. Eu trouxe um livro que a ABI fez, provavelmente nos anos 1980, no qual uma série de profissionais de imprensa escreveram sobre o que é o jornalismo. Vou citar um trecho escrito por Zuenir: “Os redatores que me perdoem, os editores que me desculpem, os diretores que não me ouçam, os diagramadores que não me queiram mal, os cronistas e colunistas, esses então, que não me atirem pedras, mas se todos eles um dia desaparecessem e só ficasse o repórter, o jornalismo continuaria vivo.”  
 
Pery Cotta aplaudiu também o Dia da Imprensa e a luta da Associação pelas liberdades e pela categoria:
—A ABI nasceu defendendo o profissional de imprensa, defendendo o repórter. Foi fundada por um jornalista ilustre e reuniu ao longo de sua trajetória um quadro de dirigentes que marcou os movimentos em defesa da liberdade de imprensa, da democracia, dos direitos humanos, do cidadão. Neste Dia da Imprensa, a ABI saúda Zuenir Ventura, um símbolo de tudo isto. Sei que você, Zuenir, não gosta muito de falar, mas gostaria de pedir que durante o seu discurso você fizesse um comentário sobre o que é liberdade de imprensa.
 
Dando prosseguimento à cerimônia, Ziraldo fez a entrega da placa comemorativa aos 80 anos de Zuenir Ventura:
—Fui escolhido para entregar esta placa ao Zuenir porque o Presidente Maurício Azêdo sabe que esta é uma festa de velhos amigos. A consistência da amizade quem dá é o tempo, as aventuras e sofrimentos comuns. Maurício é meu amigo há 40 anos. Certa vez, eu estava participando de uma cerimônia aqui na ABI e o Maurício fez a minha apresentação, Fiquei muito comovido ao perceber que Maurício conhecia detalhes da minha vida que eu nem podia imaginar. Então, pensei: Maurício é mais meu amigo do que eu pensava. E foi por isso que ele me escolheu para entregar a homenagem ao Zuenir. Ele sabia que se convidasse o Artur Xexéo, o João Máximo, o Roberto D’ávila, ou qualquer outro, eu morreria de ciúmes. Eu morro de ciúmes do Zuenir. Para me proteger, Maurício Azêdo dedicou a mim esta missão, que é quase um dever, em nome da minha belíssima amizade com Zuenir Ventura. Grandes jornalistas deste País começaram a carreira sob a batuta de Zuenir, que fez de sua vida um exemplo para tantas gerações. Em nome desta nossa amizade, em nome da ABI, eu entrego esta placa que traz inscrita a seguinte dedicatória: “À Zuenir Ventura, mestre do Jornalismo, a homenagem de seus companheiros e admiradores da Associação Brasileira de Imprensa aos seus gloriosos 80 anos.” Quero encerrar a minha fala dizendo que gostar do Zuenir é fácil, é igual a gostar do Flamengo! Meus parabéns, meu querido. Desejo que você chegue aos 90!
 
Emocionado, Zuenir agradeceu a homenagem e sublinhou a trajetória centenária da ABI:
—Acho que isto aqui não é uma homenagem, e sim um teste de resistência cardiológica. Haja coração! Esta homenagem é o melhor presente que eu poderia receber ao completar 80 anos. Sei que é menos devido às minhas hipotéticas qualidades, mas sim à generosidade desta Casa e de seu Presidente Maurício Azêdo, meu amigo. Os 103 anos da ABI são a reposta para tudo. A história da ABI é de luta pela liberdade de imprensa, e metade desta história coincide com a minha carreira jornalística, com os meus 50 anos de jornalismo. Eu acompanhei alguns desses momentos gloriosos da ABI. Não houve neste País um jornalista ameaçado que o Presidente da ABI não viesse em seu socorro e em sua defesa com palavras e ações. Eu fui amigo de dois antigos Presidentes da ABI, o Doutor Prudente de Moraes, neto, com quem trabalhei no jornal Diário Carioca, e o Doutor Barbosa Lima Sobrinho, que conheci em 1975 quando ele foi à São Paulo participar da onda de protesto e indignação pela morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura. Acompanhamos as ações de Barbosa Lima Sobrinho em todo o País, antes da campanha das Diretas Já, durante a campanha das Diretas Já, após o impeachment do Presidente Collor. Estes dois Presidentes da ABI foram personalidades fundamentais que arriscaram a própria pele nos momentos difíceis durante a ditadura do Estado Novo e na ditadura militar de 1964. Ontem e hoje, a história da ABI é a história da resistência. 

Atendendo ao pedido de Pery Cotta, Zuenir falou, em seguida, sobre liberdade de imprensa:
—Quando Pery Cota me pergunta o que é liberdade de imprensa, eu digo que é uma luta permanente, já que a liberdade de imprensa sempre está ameaçada. O poder político e o poder econômico não gostam da liberdade de imprensa porque ela incomoda, fiscaliza em nome da sociedade. Quando vivenciamos o cerceamento da liberdade de imprensa, como aconteceu durante a ditadura militar, sabemos que a censura foi, na verdade, uma censura à sociedade. Muitos jornalistas sofreram durante este período, mas a sociedade brasileira sofreu muito mais em meio às trevas em que o Brasil mergulhou. Este prédio da ABI sofreu um atentado terrorista em 1976, e teve um andar destruído. Em momentos assim, sempre havia alguém lutando. Quando ocorria um atentado contra a liberdade de imprensa em qualquer lugar do País, lá estava o Presidente da ABI. Poucas categorias profissionais são tão bem representadas quanto a nossa. Temos várias queixas na nossa história de jornalista, aliás, gostamos muito de nos queixar. Mas não nunca nos queixamos da nossa representação nesta Casa. Também fiquei muito emocionado em ser saudado pelo Ziraldo, porque nós não somos apenas colegas de alfabeto, mas também de coração. O Pery Cotta foi um querido companheiro. Ele diz que é mais novo do que eu apenas 8 anos, mas eu acho que é muito mais.(risos) Trabalhamos juntos no Correio da Manhã em época de invasão de redação. Quero terminar dizendo que a luta permanente é pela resistência que não pode ser feita por uma única pessoa, mas através das gerações que sempre terão abrigo nesta Casa.

 
Antes do encerramento da homenagem, Cícero Sandroni discorreu sobre o papel histórico da imprensa na construção do processo democrático no País:
—Doutor Barbosa Lima Sobrinho sempre dizia que a História do Brasil é a história da imprensa do Brasil. Não há um momento na história deste País, desde a Colônia até hoje, em que a imprensa não tenha exercido papel decisivo na concepção dos fatos. A partir da Colônia, Hipólito José da Costa – que é também patrono desta Casa – e o seu Correio Braziliense, trabalhou muito pela Independência. Na época de Pedro I, os jornais criaram panfletos que exerceram papel decisivo na abdicação de D. Pedro I. No reinado de D. Pedro II, como também Doutor Barbosa sempre acentuava, havia liberdade de imprensa. Durante a Regência, não. Mas em seu período como imperador de fato, ele jamais censurou qualquer jornal. Os jornais diziam o que queriam e quando os ministros reclamavam, ele retrucava: ‘se eu censurar a imprensa, como saberei o que meus ministros fazem?’ Durante a República também, assim como na Abolição da Escravatura com jornalistas como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. A imprensa fez a Abolição, a imprensa fez a República. Por incrível que pareça, junto com a República Velha veio a censura à imprensa no Governo Marechal Teodoro, no Governo Floriano, que governou por estado de sítio, no Governo Artur Bernardes, que também governou  por estado de sítio, e sobre o qual Doutor Barbosa escreveu o livro fundamental “O Poder da Imprensa”. Toda esta atividade da imprensa na história do Brasil é celebrada no Dia da Imprensa, quando aniversaria Zuenir Ventura, herdeiro dessas lutas, um desses guerreiros pela liberdade de imprensa. Hoje é o aniversário de Zuenir, mas é também o aniversário de todos nós que trabalhamos na imprensa. Muitos jornais, não vou citar aqui, estiveram do lado errado na ditadura. Sabemos que em 1964, quase toda a imprensa apoiou o golpe, mas o Zuenir não, o Ziraldo, também não. Os jornalistas não apoiaram o golpe, os jornalistas foram perseguidos, foram presos, torturados, muitos foram mortos. A história da imprensa dos últimos 50 anos, ou talvez mais, se confunde com a história de Zuenir Ventura. E isso, como dizia Doutor Barbosa, é a história do Brasil. Parabéns, Zuenir!
 
Pery Cotta encerrou o evento celebrando o homenageado, que exibiu para o público um exemplar do jornal O Globo do dia 1 de junho de 2011, cuja capa comemora os seus 80 anos. “Foi também uma bela homenagem”, disse o jornalista, que foi aplaudido de pé pelos presentes.

*Colaboração Renan Castro, estagiário do Departamento de Jornalismo da ABI.