ABI adia adoção do Acordo Ortográfico


14/04/2009


Nesta edição do Jornal da ABI (nº 338, data de capa fevereiro de 2009), no editorial “Ditadura no idioma”, a Associação Brasileira de Imprensa informa que não aplicará de imediato as normas do Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa, porque pretende esperar a consolidação da reforma pelo Decreto Presidencial nº 6.583/08, firmado em 29 de setembro do ano passado, que estabelece o ano de 2012 como prazo para implantação desse pacto. 

O editorial da ABI tem o seguinte teor: 

Ditadura no idioma

Como os leitores notaram na edição precedente (número 337, data de capa janeiro de 2009), também nesta edição o Jornal da ABI deixa de cumprir as normas do Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa, escudado em disposição do decreto presidencial firmado em 29 de setembro passado, o qual estabelece o prazo do ano 2012 para a implantação desse pacto.

Esse comportamento da ABI está sendo adotado e será mantido tanto nos veículos e publicações da Casa, como o ABI Online, como na correspondência emitida por seus diferentes órgãos. Ainda agora, a ABI está lançando o catálogo da exposição de cartunistas comemorativa do centenário da Casa, numa colaboração com o Centro Cultural Justiça Federal, que franqueou seus espaços para esse importante evento. Trata-se do volume Traços Impertinentes, que reproduz os trabalhos incluídos na mostra e oferece um perfil sucinto dos artistas que aderiram a essa iniciativa da Casa. Como no Jornal da ABI, a grafia dos textos dessa publicação é a boa e sonora forma antiga.

A rigor a ABI poderia escusar-se de cumprir a ortografia do Acordo como um ato de desobediência civil, uma reação ao caráter totalitário de que ele se tem revestido desde a sua concepção, no começo dos anos 90, até à sua efetivação entre nós, determinada pelo decreto presidencial. O Acordo não se originou de uma necessidade social nem de uma postulação coletiva, que dessem à sua elaboração e aplicação um caráter democrático. Ele nasceu de lucubrações de eminentes mestres, como o lexicógrafo e dicionarista Antônio Houaiss, como fruto de vigílias penosas, ainda que fecundas, a que estes se entregaram com o melhor dos ânimos.

Ao empenho desses estudiosos juntou-se a preocupação política de homens públicos não menos eminentes, como o Embaixador José Aparecido de Oliveira, que engalanou a sua passagem pelos inúmeros cargos que ocupou e ilustrou, entre os quais o de Ministro da Cultura, com o patrocínio de uma obra fadada a ficar na História, não apenas no Brasil, mas também nos países que integram a comunidade lusófona, a começar pela pátria-mãe portuguesa. A criação daí derivada não é um produto coletivo, como seria lógico e desejável, já que a língua não tem donos, mas uma emanação de reduzido grupo de pessoas, daqui e dalém-mar.

O caráter totalitário referido ganhou evidência na circunstância de que se atribuiu a uma personalidade, ainda que ornada de títulos e saber que bem justificavam a sua escolha, o poder e a competência de dirimir dúvidas e fixar a forma correta de se grafarem determinados termos, especialmente aqueles resultantes do complexo sistema de grafia da língua portuguesa, como os relacionados com hifenação, sua manutenção ou sua eliminação. Se é certo que o titular desse encargo, o admirado filólogo e acadêmico Evanildo Bechara, desincumbiu-se com aplicação e eficácia da missão que lhe foi cometida, não menos procedente é reconhecer que a língua, bem social, patrimônio coletivo, ganhou um donatário, uma espécie de imperador sem trono nem coroa, um senhor de baraço e cutelo, como diria o escritor Lima Barreto. O nome disso é ditadur