A propósito de desigualdade e da fome que está de volta


14/12/2021


Por Rogério Marques, conselheiro da ABI.

Quarta-feira, 8 de dezembro, 16 horas. Diariamente, de segunda a sexta-feira, a cena se repete. Dezenas de pessoas, organizadamente, formam a fila da fome na Travessa do Mosqueira, na Lapa, bairro do Rio de Janeiro. A refeição é servida por freiras de uma ordem religiosa católica, um trabalho importantíssimo. Quase todos que estão ali são pessoas em situação de rua, mas há também desempregados, gente que vive de biscates. O prédio à direita, de muitas janelas, fica na esquina da Travessa do Mosqueira com Avenida Mem de Sá. Ali funcionou durante décadas o famoso restaurante Cosmopolita, onde nasceu o Filé à Oswaldo Aranha — bife de filé mignon alto coberto de alho torrado acompanhado de farofa, arroz e batatas fritas portuguesas. Uma refeição sempre pedida naquele restaurante pelo então ministro das Relações Exteriores do governo Vargas, daí o nome do prato. O Cosmopolita e suas refeições fartas já não existem há dois anos. Restou a fila dos que nada têm.