A manipulação do poder na tela do Cine ABI


08/08/2008


“Meu adorável vagabundo” (Meet John Doe), de Frank Capra, conta a história de uma jovem jornalista (Barbara Stanwyck) que, ao ser demitida, decide escrever uma série de reportagens denunciando as injustiças sociais sob o pseudônimo “John Doe”, personagem fictício que ameaça se suicidar. Diante do sucesso de John Doe, a direção do jornal decide contratar um homem desempregado para representar o personagem e o transforma em herói de uma campanha sensacionalista para favorecer um político corrupto. Quando percebe que está sendo manipulado, o “vagabundo” decide denunciar a trama e cometer mesmo suicídio e cabe à jornalista resgatá-lo.

O roteiro de Robert Presnell e Richard Connell enfatizava a manipulação do homem pelo Estado. Os produtores, no entanto, alteraram a história para dar um final feliz ao “vagabundo” e a creditaram a Robert Riskin, gerando um processo judicial por parte dos autores originais.

 Nelson Tangerini e Ramon Alvarado

Jóia

O cineasta Ramon Alvarado — que acompanha o Cine ABI desde o lançamento do projeto — elogia a mostra dedicada à imprensa e “Meu adorável vagabundo”, que considera uma jóia do cinema norte-americano do século passado:
— Gary Cooper representa um personagem transgressor e humanista, na linha de Carlitos. O filme é um retrato do controle da sociedade pelo poder econômico, usando para isso o sistema político representativo, o mito popular e a máquina da imprensa.
 
Também presente à sessão, o jornalista, escritor e professor de Português e Literatura Nelson Tangerini  herdou da família o interesse pelas artes dramáticas. A avó Antonia Marzullo — atriz de teatro e cinema que atuou em grandes produções nacionais, como “Ébrio”, com Vicente Celestino; “Samba”, com Sarita Montiel; e “Favela dos meus amores”, de Humberto Mauro — é matriarca de uma família de grandes mulheres artistas: é mãe das atrizes Dinah e Dinorah Marzullo e avó de Marília e Sandra Pêra. Filho de Dinah e Nestor Tangerini, jornalista, escritor, autor de famosas revistas teatrais, entre elas “No tabuleiro da baiana” e “Gol!”, Nelson aplaudiu “Meu adorável vagabundo” como uma “obra fantástica de Frank Capra:
— O filme retrata a linha divisória entre uma América humana e outra desumana, brutalizada pelo capitalismo selvagem que dava seus primeiros passos para se consolidar. É interessante o caráter humanista do filme, a tentativa de mostrar aos norte-americanos e ao mundo o monstro que começava a crescer. Seres humanos são peças descartáveis do sistema capitalista.