De um pequeno bar em
NY para o mundo


28/06/2020


Foto do LINCOLN CENTER, em NY, em homenagem, hoje, 28 de junho, ao Dia Internacional do Orgulho LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex)

Por Kelly Lima, jornalista, membro da Comissão Mulher & Diversidade 

Da porta de um pequeno bar, em Nova York da noite de 28 de junho de 1969, quando emergiram os primeiros gritos de “Gay Power” em levante que batizou a data para sempre, às vitrines de marcas internacionais, o arco-íris símbolo da antes comunidade gay e agora, mais inclusiva, LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex), chega nesse domingo pandêmico aos seus 51 anos de lutas, conquistas e muitas transformações ao longo deste meio século.

É certo que o episódio ocorrido no bar Stonewall, em Nova York, em 28 de junho de 1969, foi o estopim de um levante que começara a se formar na indignação da comunidade que se via atacada pela polícia da época e cansou de ser oprimida. Um ano depois, a data começou a ser comemorada e não parou mais.

Até 2020. As festivas paradas comemorativas foram suspensas por conta da restrição às aglomerações e a celebração acabou mesmo se concentrando em festas virtuais – algumas como mais de 24 horas de duração – homenagem de grandes marcas, passando das esportivas Nike, Reebok e Adidas, à bebidas Skol Absolut entre outras, e praticamente todo o mundo da moda, que seria insano se não reconhecesse o poder do Pink Money…

Se você não conhece ainda essa expressão, corra para se atualizar. De acordo com uma pesquisa do IBGE, no Brasil, quanto mais elevada a faixa salarial, maior o número declarado de casais do mesmo sexo e menor a presença das famílias comandadas por heterossexuais. A estimativa é que os LGBTs movimentam cerca de R$ 150 bilhões por ano somente no País.

E como está sendo comemorada a data na mídia brasileira? Pouco destaque. Descolada das marcas que já se atentaram para a importância de criar empatia com esse público consumidor, os grandes jornais, ao que parece ficaram meio de fora da festa deste domingo.

A Ilustrada, da Folha, trouxe em sua capa referências às produções do gênero; o globo menciona a comunidade LGBT em referência a torcidas no caderno de esportes, depois de apresentar matérias especiais feitas pela plataforma Celina – algumas só no site e outras reproduzidas em dias anteriores – sobre o orgulho LGBT na terceira idade e entrevista sobre ser trans, e no Estadão, o tema foi substituído em destaque na edição de domingo por extensa matéria sobre a volta dos drive-ins.

Nos novos meios jornalísticos, matérias pra lá de interessantes sobre o tema: O Meio, em sua edição especial de sábado enviou para os assinantes um resumo muito bem escrito da noite histórica de Stonewall. No Nexo, a divulgação de um relatório exclusivo do coletivo #VoteLGBT que expõe os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a população LGBTI brasileira.

Esse levantamento é um tanto superficial e cabe a ele a crítica da falta de rigor acadêmico para levantar hipóteses sobre a ausência de grandes matérias especiais sobre o tema na mídia brasileira. Há, visivelmente, um crescente interesse pelo tema, e coberturas que vem sendo feitas eventualmente. Mas é preciso investigar um pouco mais o real envolvimento da mídia nacional dos temas correlatos à comunidade LGBTQIA+.

Um exemplo: em março último, em meio ao início da quarentena imposta pelo novo coronavírus, a HBO lançou sua série brasileira TODXS NÓS, usando o X para deixar em aberto o gênero dos personagens e explicitar a discussão sobre sexualidade não binárie. Sim, com “e” no final, e não “a”, num léxico com o mesmo propósito.  A da série envolve justamente uma personagem, Rafa, jovem de 18 anos, pansexual e não-binárie, que deixa a família no interior de São Paulo, para viver na capital e convive com outras pessoas, enquanto explica que se identifica com o pronome neutro e não com o gênero feminino ou masculino.

Mesmo com o release da HBO apontando a questão, apenas a revista Marie Claire respeitou esse novo léxico já amplamente adotado na comunidade LGBTQUIA+. AS demais publicações optaram à revelia por adotar o gênero masculino ou feminino para definir as personagens.

Em meio à essa dificuldade, a HBO chegou inclusive a editar um guia para orientar jornalistas na abordagem da Comunidade de maneira mais adequada. Primeira dica: perguntar como quer ser tratad@. Ou seja, praticar a velha e boa escuta antes de ditar regras, supor tratamentos, ou criar estereótipos. Neste dia de celebração do Orgulho LGBTQIA+, em tempos tão complexos, a ABI convida a baixar o guia, ler mais sobre o tema e  colocar a empatia no centro das discussões para correr menos risco de errar.

Acesse o link e leia o manual

http://www.abi.org.br/wp-content/uploads/2020/06/Manual-Todxs-vfinal.pdf